O Globo – 14/10/2018O Globo relata que, nos últimos cinco anos, o número de roubos de celular no Estado do Rio mais que quintuplicou: saltou de 3.455, entre janeiro e agosto de 2013, para 17.397, no mesmo período de 2018, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Uma pesquisa recente do Mobile Time/Opinion Box constatou que 49% dos brasileiros tiveram o celular roubado ou furtado ao menos uma vez. Como consequência, cresceu a procura por proteção para os aparelhos. E, assim como aconteceu no ramo de veículos, surgiram serviços alternativos ao seguro, de menor custo, mas que trazem riscos ao consumidor, entre eles o de não ser reembolsado.Associações, cooperativas e empresas do chamado compartilhamento de risco se multiplicam, no que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) chama de “mercado marginal” – impulsionado pela “proteção veicular”, que já virou caso de polícia- com ofertas que vão da área de saúde à assistência funeral. Trata-se de produtos vendidos como seguro, mas que não têm as mesmas garantias daqueles comercializados pelas seguradoras.Amanhã, a Susep inicia uma campanha contra esse mercado, com a divulgação, em seu site (susep.gov.br), de uma lista de instituições autuadas, que já são mais de 160. Cerca de 250 entidades já tiveram processos sancionadores julgados pelo órgão em primeira instância.- Apesar de o mercado fazer manobras para fugir da fiscalização, configura seguro a promessa de reposição de bem, o risco de ocorrência do evento, a aleatoriedade e o pagamento efetuado por terceiro – explica o diretor de Supervisão de Conduta da Susep, Carlos de Paula.MAIS DO QUE O VALOR MENSALCarlos de Paula ressalta que, por não terem de responder a nenhum órgão superior, nem serem obrigadas a constituir reservas, as empresas sem registro na Susep podem não cumprir o prometido quando acionadas pelo consumidor.Entre os novos serviços em oferta no mercado, houve até “seguro contra haters”. O produto, ofertado pela Youse plataforma de venda de seguros on-line da Caixa Seguradora, em processo de registro na Susep – , na verdade era um plug-in para bloquear comentários maldosos em redes sociais. Depois de notificada pela Susep, a empresa suspendeu a oferta do produto.A start-up Pier Digital oferece compartilhamento de risco para proteção de smartphones. Nesse modelo, são as contribuições mensais que garantem o reembolso. Ou seja, se a pessoa manteve seus pagamentos em dia, mas os demais membros do grupo não, ela pode não ser indenizada.Lucas Prado, um dos fundadores, rebate as críticas e garante que os consumidores são informados com clareza: – Os membros do grupo recebem relatório de transparência e podem acompanhar os níveis de solvência, informando-se claramente sobre se há risco de o ressarcimento ser menor do que o contratado. No nível crítico, por exemplo, os reembolsos ficam comprometidos.Para participar do grupo de compartilhamento de risco, que tem cerca de 800 pessoas, explica Prado, é necessário receber convite de amigo ou solicitar entrada. Apenas 60% dos pedidos são aprovados,.diz. O valor é pago como uma assinatura e pode ser cancelado a qualquer momento. Tanto no plano de reembolso de 80% do celular, quanto no de 100%, a mensalidade pode variar até 20%, de acordo com o volume do fundo e a quantidade de pessoas roubadas no período. O contrato engloba roubo, furto qualificado e simples, que não costuma ser contemplado em planos de seguros tradicionais.O agente de aeroporto Beethoven Medeiros, de 27 anos, contratou o modelo depois de ter problemas com seu seguro. Vítima de um furto simples, ele não conseguiu a indenização da seguradora. Medeiros adega não ter sido informado de que não havia cobertura para este caso. Apesar do risco do modelo, ele diz ter sido conquistado pelo processo menos burocrático:- No mês passado, fui roubado de novo. Imaginava que ia fica, pelo menos, dois dias sem aparelho, mas em 20 minutos o dinheiro estava na minha conta, sem burocracia.Para o professor de economia do Ibmec-RJ Filipe Pires, ao decidir entre um seguro ou um serviço de compartilhamento de risco, o consumidor precisa levar em conta mais do que o valor da mensalidade:- A pessoa terá de escolher se prefere pagar mais para ter um seguro contra roubo mais efetivo ou ter uma cobertura mais restrita, pagando menos e com risco de falência – diz Pires, que recomenda ler com cuidado o contrato e avaliar a robustez da empresa, sob risco de não receber.