Larissa Garcia – Folhapress17 de junho de 2021, 09:23

Para tentar conter a crescente escalada dos preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, a 4,25% ao ano, nesta quarta-feira (16). A alta havia sido sinalizada pela autoridade monetária na reunião anterior, em maio.

A Selic voltou ao patamar em que estava até 18 de março de 2020, quando o Copom começou a cortá-la em reação aos efeitos da pandemia sobre a economia. Para tentar conter a crescente escalada dos preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, a 4,25% ao ano, nesta quarta-feira (16). A alta havia sido sinalizada pela autoridade monetária na reunião anterior, em maio.

A Selic voltou ao patamar em que estava até 18 de março de 2020, quando o Copom começou a cortá-la em reação aos efeitos da pandemia sobre a economia. No comunicado, o BC sinalizou nova alta na mesma magnitude para a próxima reunião, em agosto, para 5,00%. O Comitê, contudo, não descartou uma elevação ainda maior caso as expectativas do mercado para a inflação -especialmente de 2022- continuem subindo.

“Uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação”, disse o texto.

O BC mudou a avaliação sobre até que patamar a Selic deve subir e afirmou que levará a taxa básica até o nível considerado neutro, que não estimula nem contrai a economia. Nas reuniões passadas, a avaliação era que a atividade ainda precisava de estímulo e que esse ajuste seria parcial, ou seja, abaixo da taxa neutra.

“Esse ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação. O Comitê enfatiza, novamente, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”, afirma o comunicado.

Atualmente, a taxa de juros neutra gira em torno de 6,5%. Mais uma vez o BC afirmou que o choque inflacionário é temporário, mas reiterou que a persistência da alta de preços segue maior que o esperado, sobretudo entre os bens industriais.

“Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real.”

No comunicado, o BC afirmou estar “atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos”.

A decisão veio em linha com as expectativas do mercado. Em levantamento feito pela Bloomberg, todos os economistas consultados projetavam a elevação.

ALTA DE 1 PONTO PERCENTUAL EM AGOSTO

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, não houve surpresa na decisão. “Também em linha com o esperado o BC tirou o termo parcial do ajuste monetário, sugerindo que a taxa Selic será conduzida para o patamar tido como neutro em seu ciclo. Ainda que a autoridade tenha afirmado que não se trata de um compromisso, esses fatores serão precificados amanhã”, afirmou.

O analista diz acreditar que o BC abriu caminho para uma elevação de 1 ponto percentual na próxima reunião, mas manteve a projeção de que a Selic será elevada em 0,75 ponto em agosto e chegará a 6,5% antes do fim do ano. Ele avalia que a taxa permanecerá neste patamar até o fim de 2022.

O economista da Messem Investimentos Gustavo Bertotti afirmou que o BC se mostrou mais preocupado com a inflação em relação aos comunicados anteriores.

“É uma postura ‘hawkish’ [mais incisiva na alta de juros] que contribui para ancorar as expectativas para 2022 e também na pressão sobre os preços. Tudo isso se justifica na recuperação [econômica] e na revisão das expectativas, além da aceleração da vacinação e do afrouxamento de medidas de restrição”, disse.

João Beck, economista da corretora BRA, considera o comunicado mais duro que os anteriores. “[O Copom] Retirou a expressão de ajuste parcial e também não passou a mensagem de que o país exige níveis estimulativos de juros, justamente para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação”, destacou.

O analista também enfatizou que o comunicado deixa claro que uma piora no cenário pode acelerar o processo de alta nos juros “Podemos colocar no nosso radar um aumento de 1 ponto”, afirmou.

Flávio Aragão, sócio da gestora 051 Capital, analisa que a crise hídrica deve gerar forte inflação no curto prazo. “Também há riscos vindos do setor de serviços que, com o retorno da confiança e aceleração da vacinação, pode voltar a pressionar a inflação”, ressaltou.

INFLAÇÃO ACIMA DA META

Em maio, a inflação acelerou em 0,83%, pressionada principalmente pelo encarecimento da energia elétrica. Esta foi a maior alta para o mês desde 1996. O indicador ficou acima das previsões do mercado de 0,71% e por isso foi considerada uma surpresa inflacionária.

No acumulado dos 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ​alcançou 8,06%, bem acima do teto da meta (5,25%).​ O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.

Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.

Economistas já consideram o estouro do teto da meta no fim de 2021. Segundo o relatório Focus desta semana, no qual o BC divulga as projeções do mercado, mesmo após a alta nos juros, os economistas continuaram elevando as expectativas de inflação para 2021, que estão em 5,82%, 0,57 ponto percentual acima do máximo permitido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

A meta fixada é de 3,75%, com tolerância 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Há um mês, a estimativa do mercado era de 5,15% para este ano. Quando a inflação não fica dentro do intervalo determinado pelo CMN para o ano, o presidente do BC precisa escrever uma carta aberta ao presidente do conselho, que é o ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar os motivos.

O mercado também elevou as expectativas para 2022, ano para o qual o BC considera que a política monetária atual faça mais efeito. Segundo o Focus, os economistas esperam alta de 3,78% nos preços no ano. Há quatro semanas, eles apostavam em 3,70%. ​

As projeções do BC para a inflação são de 5,8% para 2021 e 3,5% para 2022. A análise foi feita com a taxa de juros da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de US$ 5,05. De acordo com a pesquisa, a taxa básica deve terminar o ano em 6,25% até o fim de 2021 e se elevar a 6,50% em 2022.

Nesse cenário, as expectativas para preços administrados são de 9,7% para 2021 e 5,1% para 2022. “Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1″ em dezembro de cada ano-calendário”, disse o comunicado.

Em agosto do ano passado a Selic alcançou o menor nível da história, de 2% ao ano, como resposta à crise gerada pela pandemia de Covid-19. A taxa permaneceu no patamar até março deste ano, quando o BC iniciou o ciclo de alta.

O Copom reafirmou que há fatores de risco para a inflação em ambas as direções: uma redução nos preços de commodities internacionais com a valorização do Real pode segurar os preços e o desequilíbrio fiscal pode puxá-los para cima.

“Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico”, destacou.

“Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país”, continuou.

Para o BC, houve melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, mas o risco fiscal segue elevado “criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”.

O Copom reiterou a importância das reformas econômicas que tramitam no Congresso. “Perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, colocou o comunicado.

Em relação à atividade econômica, o BC avalia que “apesar da intensidade da segunda onda da pandemia, os indicadores recentes continuam mostrando evolução mais positiva do que o esperado, implicando revisões relevantes nas projeções de crescimento. Os riscos para a recuperação econômica reduziram-se significativamente”.

No cenário externo, a análise do BC é que os estímulos fiscais e monetários em alguns países desenvolvidos promovem uma forte recuperação da atividade econômica global.
A indicação, segundo o Comitê, é de que os bancos centrais mantenham os estímulos por muito tempo.

“Contudo, a incerteza segue elevada e uma nova rodada de questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nessas economias pode tornar o ambiente desafiador para países emergentes”, disse.