Pauline Almeida da CNN – no Rio de Janeiro – 28/11/2022 às 04:00

O número de importações de pequeno valor via encomendas internacionais e operações por meio de facilitadora de pagamentos, como as compras feitas por brasileiros em sites de outros países, aumentou cem vezes em dez anos.

Dados do Banco Central mostram que, em 2013, elas somaram US$ 83 milhões, saltando para US$ 8,49 bilhões neste ano, no período entre janeiro e setembro (último mês com números divulgados).

Em relação ao ano passado, quando foram US$ 5,67 bilhões, 2022 registrou um aumento de quase 50%. Se levado em consideração apenas o período de janeiro a setembro de 2021, quando foram US$ 3,92 bilhões, a alta chega a 116%.

O coordenador da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Rodolpho Tobler, aponta que o crescimento na década é fruto do processo de digitalização da economia brasileira, acelerado durante a pandemia de Covid-19.

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“A internet foi avançando, a internet móvel pelo celular também e novas oportunidades de negócios foram surgindo. Nesse comércio de pequenos itens, as pessoas foram descobrindo sites lá fora e vendo que algumas taxações compensam”, avalia.

Outro ponto lembrado por Tobler é a aceleração das entregas. Após o período de gargalo da pandemia, as encomendas têm chegado mais rapidamente ao Brasil.

Além disso, ele elenca a melhora do mercado de trabalho e a recuperação de renda dos brasileiros, além do fator do câmbio, para o avanço das importações de pequeno valor. “A partir de 2020, o dólar tem ficado acima dos R$ 5, mas esse ano teve um período de desafogo no início, o que pode ter contribuído também”, explica Tobler.

Já o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), Maurício Salvador, cita que as compras pela internet foram impulsionadas por dois fatores: a especialização de sites estrangeiros para atender brasileiros e a tributação.

“A gente teve sites internacionais, como Ali, eBay, Amazon.com, que começaram a oferecer páginas em português. Isso abriu o alcance para muitos brasileiros que tinham uma certa insegurança em comprar em sites de fora. Eles passaram a entender melhor as regras, a descrição do produto. Outro ponto é a tributação. As encomendas abaixo de US$ 50 têm isenção. O brasileiro descobriu isso, percebeu que poderia comprar fora, às vezes, com custos três vezes mais baixos, sem pagar imposto”, diz Salvador.

Segundo Salvador, três categorias se destacam nesse tipo de negociação: moda, eletrônicos e materiais de construção. Mas o presidente da Abcomm avalia que o movimento de explosão nas importações é negativo para o varejo brasileiro.

“De certa forma, é uma concorrência desleal. Você tem milhares de pacotes chegando todos os dias que não pagam impostos, que não geram emprego no país, que não contribuem para o desenvolvimento interno”, afirma.

A entidade trabalha junto ao Ministério da Economia para mudar políticas públicas e pensar formas de incentivo aos empreendedores brasileiros, especialmente os micro, como acontece em países como China e Estados Unidos.

Além disso, o mercado online brasileiro planeja crescer não apenas entre os consumidores internos, mas também estrangeiros. E já registra aumento, segundo os dados de exportações de pequeno valor divulgados pelo Banco Central.

Os números de janeiro a setembro deste ano – US$ 2,89 bilhões – ultrapassaram as negociações de todo o ano de 2021, quando foram registrados US$ 2,24 bilhões.