Sonho Seguro – 07 de Fevereiro de 2020

O mercado segurador encerrou 2019 com lucro líquido de R$ 17,8 bilhões, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) analisados pela consultoria Siscorp. Em razão disso, o ranking traz apenas os valores de seguros e exclui saúde, sob supervisão de outro regulador, a Agência Nacional de Saúde (ANS). O valor ficou 21% acima dos R$ 14,7 bilhões registrados no mesmo período do ano passado, mesmo com o recuo da Selic, taxa de juros que remunera boa parte das reservas técnicas, ter iniciado 2019 em 6,5% ao ano e terminado em R$ 4,5% ao ano. Em fevereiro deste ano, novo corte, para 4,25% ao ano, décimo sétimo corte desde quando a taxa atingiu o pico de 14,25% ao ano, entre julho de 2015 e outubro de 2016.

A maior parte dos balanços financeiros será divulgado e comentado pelas seguradoras ao longo deste mês. Boa parte delas opta por deixar para os dois últimos das do mês. Mas já é possível ter uma noção do que ajudou e o que piorou o desempenho de algumas delas. Houve certa movimentação entre os dez maiores lucros, com ligeiras trocas de posição.

Já no ranking dos piores prejuízos, um movimento interessante. Mapfre, que liderava as perdas com R$ 468 milhões, agora ocupa a 15a. posição, com lucro de R$ 122,2 milhões. A AXA XL, que em 2018 amargou perdas de R$ 197 milhões, passou para a 22a. colocação, com ganhos de R$ 57,5 milhões. Já a AIG ainda pertence ao grupo de perdas, que foram reduzidas de R$ 51 milhões para R$ 13 milhões.

Segundo os balanços 2019 já divulgados no inicio deste ano, as seguradoras têm conseguido baixar custos operacionais e com melhor subscrição de riscos reduzir o volume de indenizações, o que traz uma melhora significativa para a lucratividade expressa no índice combinado (receitas de venda menos indenizações e custos operacionais), que mede a eficiência das companhias. Quanto mais abaixo de 100%, melhor. índice de sinistralidade tem sido reduzido.

Seguradoras ligadas a bancos seguem liderando as três primeiras posições do ranking de lucro, com exceção do Itaú, que caiu para a sétima posição. A Bradesco Seguros segue sendo a líder do ranking. O grupo divulgou lucro líquido de R$ 7,5 bilhões em 2019, expansão de 16,6% em relação ao obtido em 2018. Já no ranking consta R$ 5,6 bilhões, pois não considera o ganho de saúde, área supervisionada pela ANS. Segundo o grupo, o resultado foi beneficiado pelo crescimento de 12,7% no ganho operacional e pela alta de 10,9% do resultado financeiro. Aqui fica claro a importância do ganho financeiro para a número um do ranking de lucro do setor. As projeções para o resultado com seguros estimam um crescimento entre 4% e 8%.

A BB Seguros vem em segundo lugar, com ganho de R$ 2,8 bilhões. Em setembro, o grupo informou que decidiu fazer uma redução de capital depois de concluir que tem recursos de sobra no balanço e devolveu R$ 2,7 bilhões aos acionistas.

A Caixa Seguridade, que tem costurado parcerias e se prepara para um IPO ainda neste semestres, vem em terceiro, com R$ 2,1 bilhão. A Caixa estima que o IPO de sua subsidiária valerá entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Já anunciou a reformulação da parceria que tinha com a francesa CNP, num negócio avaliado em R$ 7,8 bilhões; parceria com a Icatu, que deverá fazer um aumento de capital de R$ 180 milhões na nova sociedade para a venda de títulos de capitalização; e com a Tokio Marine para a venda de seguro habitacional e residencial, no valor de R$ 1,5 bilhão. Icatu e Tokio terão 25% de participação nas sociedades específicas de cada ramo de negócio. O grupo promete ainda anúncios de novos sócios nas áreas de grandes riscos, saúde e odontologia, assistência 24 horas e também com um ressegurador. Em janeiro, houve troca de CEO. Para presidir a Caixa Seguridade foi escolhido Eduardo Dacache, até então vice-presidente de atacado e braço direito do presidente da Caixa, Pedro Guimarães.

A Zurich Seguros, que tem uma joint venture com o Santander, segue em quarto lugar, com R$ 1,3 bilhão. O grupo se destacou em 2019 por parcerias fechadas com bancos, varejos e fintechs após ter investido fortemente em uma plataforma digital que já está preparada para se conectar com parceiros para a venda de seguro em a intervenção humana, o que no jargão do mercado é conhecido como APIs, “ponte”, ou sistema de “plugue e use”. Com tal tecnologia já embarcada, a expectativa é de grande crescimento para 2020.

A SulAmérica saltou da sétima posição em 2018 para a quinta em 2019, com ganhos de R$ 996,4 milhões. Por pouco não entrou no restrito clube do bilhão. Anunciou a venda da carteira de seguros de ramos elementares, que envolve autos, residências, condomínios e pequenas e médias empresas para a Allianz. O negócio ainda aguarda o fechamento para este ano. Com foco em saúde e munida de tecnologia que já atende as exigências de rapidez e facilidades que o consumidor digital exige, as ações do grupo tem apresentado valorização destacada.

A Porto Seguro, segundo dados da Siscorp, perdeu uma posição no período analisado e vem na sexta colocação, com ganhos de R$ 982 milhões. Segundo Celso Damadi, vice-presidente de Finanças, Controladoria, Investimento e Planejamento da Porto Seguro, o resultado financeiro da Porto Seguro alcançou R$ 269,7 milhões, queda de 9,3%. Apesar da redução, o executivo citou que os resultado vieram dentro do esperado beneficiado por uma sinistralidade abaixo da média histórica e uma taxa básica de juro mais alta, proporcionando uma rentabilidade melhor ao negócio.

O Itaú caiu para a sétima posição, com R$ 996 milhões, ultrapassado pela Porto Seguro, agora em quarto lugar no ranking, com lucro de R$ 725 milhões no período analisado pela Siscorp com base nos dados enviados à Susep. O ajuste de ganho faz parte ainda do reposicionamento estratégico de deixar de operar em alguns segmentos e focar esforços na plataforma digital, que já conta com vários parceiros de negócios, como MetLife em dental, Prudential em vida resgatável e outros que em breve devem ampliar o Portfolio do banco, com saúde e seguros empresariais. Bastidores de mercado indicam a Amil para saúde. Já o parceiro em seguros para PME ainda não foi revelado.

A Allianz saiu de um prejuízo de R$ 15,5 milhões em 2018 para a nona colocação no ranking de 2019, com ganho de R$ 349 milhões. O grupo vem retomando seu crescimento, depois de um período de perdas. Um dos impactos no balanço de 2019 pode ter vindo de recuperação de impostos (CS e IR) dos prejuízos acumulados. Em 2019 anunciou a compra da carteira de ramos elementares da SulAmérica, por R$ 3 bilhões, que deve ser concluída neste ano e desta maneira os impactos só serão observados no balanço de 2020.

E fechando o ranking dos 10 maiores lucros de 2019 temos a Icatu, que trouxe muitas novidades ao longo do ano passado. Liderou o ranking de portabilidade de recursos dos fundos de previdência praticamente em todos os meses do ano, ao ofertar uma gestão mais ativa e taxas menores. Além disso, ampliou de forma significativa os canais de distribuição de seus produtos, tanto fundos como títulos de capitalização.