Valor Econômico – 22 de Maio de 2020

O Valor Econômico informa que pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein desenvolveram, em dois meses, um exame genético para diagnóstico da covid-19. A referência é o sequenciamento de nova geração (NGS, na sigla em inglês), que lê pequenos fragmentos de DNA para identificar doenças ou mutações. A nova tecnologia processará número 16 vezes maior de testes e o custo será menor. O exame poderá ser usado em rede pública de saúde se governos entrarem em acordo comercial com o Einstein. Cada rodada do método RT-PCR analisa 96 amostras ao mesmo tempo, enquanto no NGS serão 1.536.

A partir de junho, o hospital terá capacidade de processamento elevada para 5,53 mil testes por dia ante atuais 2,2 mil. O recurso é uma alternativa para ajudar no controle da pandemia porque permite a testagem em massa. A técnica NGS era aplicada somente à medicina de precisão no diagnóstico de doenças hereditárias e oncológicas. Como a frequência de pacientes fazendo estes exames caiu e as máquinas estão ociosas, o Einstein iniciou os testes para a covid-19.

“Usamos o sequenciamento genético do novo coronavírus e sua expressão de proteínas para implementar um algoritmo que identificasse [o vírus] em escala maior em uma única rodada de testes e com custo mais barato que o método do RT-PCR”, disse Sidney Klajner, presidente do hospital. A coleta de amostra para detecção do vírus é feita com hastes flexíveis estéreis (swab) que entram em contato com as vias respiratórias dos pacientes, nasofaringe ou orofaringe, assim como no RT-PCR.

Depois começa o processo para obter o material genético do vírus, o RNA, que usa insumos diferentes do teste típico. Na terceira etapa, este material é amplificado e, em seguida, ocorre o preparo de biblioteca de sequenciamento. No quinto passo, é determinada a sequência genômica do vírus. A última etapa é feita com uma ferramenta de bioinformática, o Varstation, em que um algoritmo identifica os pacientes e os resultados positivo ou negativo.

Por enquanto, o diagnóstico sai em 48 horas, mesmo prazo do exame RT-PCR. Mas este tempo pode ser encurtado para até 24 horas, segundo Cristóvão Mangueira, diretor do departamento de patologia clínica. As técnicas destes exames são equivalentes em termos de acurácia – há 10% de chance de se obter um falso negativo.

“Como os parques atuais de exames não dão conta da demanda, as máquinas de NGS estão ociosas e podem ser úteis no combate à pandemia”, diz Mangueira. A vantagem é ampliar o número de testes na população a um preço menor do que o RT-PCR, que varia de R$ 250 a R$ 350. O Einstein poderá fazer 100 mil exames por mês.

O processo teve patente internacional requerida pelo Einstein nos Estados Unidos na sexta-feira (15). “A patente não é aberta. O método será levado a outros laboratórios e países, em acordo comercial ou transferência de tecnologia. O Brasil passa a contribuir mundialmente no combate à covid-19”, disse Claudio Terra, diretor de inovação e transformação digital. O investimento destinado à pesquisa não foi informado.

O Einstein já fez 52 mil exames de covid-19, entre particulares e terceiros. O hospital administra em parceria com a Prefeitura de São Paulo um terço da capacidade de leitos de UTI para covid-19 nos hospitais públicos do município.