Sonho Seguro – Por Denise Bueno – 28/11/2022 08:22

As seguradoras estão entre os setores que mais têm investido no uso da inteligência artificial (IA) para otimizar a rentabilidade e as vendas de seguros. A estratégia é investir fortemente na prevenção de riscos para ajudar a transformar o seguro de um produto que apenas paga indenizações para um que ajuda as pessoas a entender seus riscos e a reduzi-los. Leia matéria na íntegra no portal do Valor Economico.

As seguradoras de vida e saúde foram as primeiras a adotar o uso de tecnologia vestível e de aplicativos para incentivar os clientes a ficarem mais saudáveis, com a promessa de custos de seguro menores e agregação de benefícios. O CEO da Icatu, Luciano Snel, acompanha pelo aplicativo Betterfly, uma plataforma de benefícios e impacto positivo, seu desempenho na corrida pela qualidade de vida. Quanto mais praticar atividades físicas, mais ganha mimos, como descontos em compras, no seguro ou uso dos pontos obtidos para elevar o capital assegurado, opção que ele prefere.

A lógica nessa estratégia é financeira. De janeiro a setembro deste ano, as seguradoras pagaram R$ 166 bilhões em indenizações, benefícios e resgates, alta de 19,6% em relação a igual período de 2021. As vendas avançaram menos: 18%, para R$ 265 bilhões, segundo dados da CNseg, a confederação das seguradoras. Clientes de seguro de carro e rural lideram pedidos de indenizações, ao contrário de 2021, quando o seguro de vida foi o mais requisitado.

O objetivo, contudo, não é apenas gerenciar acidentes e o uso do seguro. As seguradoras podem precificar melhor os riscos. Wearables e tecnologia em tempo real podem levar à “colheita de dados” com detalhes granulares e on-line que podem dizer menos sobre prevenção de perdas e mais sobre gerar um perfil de risco mais aderente às necessidades dos clientes para fidelizá-los e estimular vendas.

Esse é um processo em construção no Brasil, segundo Gustavo Leança, head de soluções de seguros da Capgemini. O especialista explica que a maioria das seguradoras enfrenta hoje o desafio de terem múltiplos legados e bases de dados distintas, que pouco se comunicam. A consequência disso é uma qualidade de dados baixa, que impacta diretamente a capacidade analítica e consequentemente de aplicar IA e ML (machine learning). “Por este motivo, a quantidade de projetos de IA ainda é tímida no mercado segurador brasileiro, com muitas seguradoras ainda preocupadas em estruturar uma boa base de dados, antes de pensar em alçar voos mais ambiciosos”, diz ele.

No Brasil, o seguro automóvel é o mais adiantado no uso de IA. A Porto, maior do ramo, realiza um projeto piloto com uma startup parceira. “Por meio da inteligência artificial, utilizamos os índices históricos e esperados de pluviometria a fim de prever que locais de uma determinada região podem ter maior incidência de chuva. Essa leitura e prognóstico contribuem para que os guinchos do Porto Socorro sejam redirecionados previamente para regiões onde a demanda por resgate por alagamentos será maior, o que otimiza o atendimento”, conta o chief information officer, Marcos Sirelli.

A seguradora espanhola Mapfre realizou neste ano um piloto com uso de IA para melhorar o processo de envio e análise de fotos, e, assim, reduzir o tempo de aprovação de todo o processo de pagamento de indenização. “Esse processo garante que o cliente não perca seu precioso tempo aguardando dias para ter a aprovação da reparação do seu veículo”, informa Nikolaus Steve Maack, superintendente de inovação e negócios digitais.

A Tokio Marine foi pioneira em um modelo de IA na avaliação e orçamento de sinistros de carros. “A utilização nesses processos nos auxilia na prevenção a fraudes e resulta em economia e redução de custos, de aproximadamente R$ 4 milhões por ano”, conta o diretor executivo de operações, tecnologia e sinistros da Tokio Marine, Adilson Lavrador. Outro projeto de IA da seguradora japonesa abrange processos judiciais. “O modelo nos ajuda a identificar as probabilidades de o processo resultar em ganho ou perda de causa para a Tokio Marine. Dessa maneira é possível propor acordos nos processos. Este algoritmo começou a ser desenvolvido em 2019 e atualmente está com uma versão atualizada”, conta Lavrador.

Outro tema é que se os sinistros são a força vital das companhias para convencer os clientes a comprarem um seguro, reduzi-los pode tornar o produto desnecessário. Os executivos dizem, contudo, que os imprevistos sempre acontecem. E citam pandemias, ataques cibernéticos e furtos de celulares. E é essa imprevisibilidade que mantém o faturamento em um ciclo virtuoso, de US$ 5 trilhões no mundo.