Profissionais debatem regime de prevenção de danos nas relações de consumo e a ética empresarial, fortalecimento do compromisso com a ética e a sustentabilidade dos negócios, promoção de gestão proativa de riscos, cultura de conformidade e regulamentação formal

ANSP
O encontro “Responsabilidade nas Relações de Consumo e Ética Empresarial” abordou o diálogo em uma perspectiva crítica do regime de prevenção

“Responsabilidade nas Relações de Consumo e Ética Empresarial: Um Diálogo entre dois Mundos” foi tema da livre promovida no fim de outubro pela Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP), o ANSP Café. Transmitido pelo canal da instituição no Youtube, o evento teve a participação dos acadêmicos Felipe Name, diretor de cátedras da ANSP, na abertura, e Solange Beatriz P. Mendes, coordenadora da cátedra ESG da ANSP, na contextualização do tema e moderação do painel único.

Para discutir o assunto, além da própria Solange Beatriz, também participaram Ricardo Morishita, professor de direito do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) Brasília, a acadêmica Isabel Azevedo, CHRO executiva de pessoas e transformação na Fairfax Seguros, a acadêmica Erika Ramos, sócia da KPMG Auditores Independentes e coordenadora do Grupo Técnico do Ibracon.

Esta edição do ANSP Café foi realizada com a proposta de promover o diálogo, em uma perspectiva crítica do regime de prevenção de danos nas relações de consumo e a ética empresarial. De tratar da abordagem inicial do regime de prevenção de danos nas relações de consumo que, integrada às práticas empresariais, por meio da responsabilidade social e governança corporativa, podem fortalecer o compromisso com a ética e a sustentabilidade dos negócios.

Explorou como iniciativas empresariais e lideranças visionarias podem contribuir para moldar um cenário de ganha-ganha para empresas e consumidores, promovendo uma gestão proativa de riscos e uma cultura de conformidade, além da regulamentação formal.

O evento teve a coordenação do presidente da ANSP, Rogerio Vergara e Solange Beatriz e apoio da Associação Internacional de Direito do Seguro (AIDA Brasil) e da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR).

“O café de hoje é uma proposta de diálogo com uma perspectiva crítica do regime de prevenção de danos nas relações de consumo, a qual tem sempre medidas que visam evitar ou dificultar a ocorrência dos sinistros, mitigando também as consequências. De um lado temos a relação de consumo e de outro as práticas da governança corporativa”, disse Solange Beatriz.

Morishita abordou a importância do regulador no apoio a essas práticas empresariais. Ele abriu o painel fazendo comentários sobre um dos trechos do livro do escritor Max H Bazerman, no qual o autor discorre sobre pontos cegos. “Bazerman diz que a ética tem pontos cegos. Nós temos pontos cegos em relação a ética e esse é o grande tópico que ele vai traçar”, comentou.

O painelista entende que, além da existência dos pontos cegos, a ética é limitada e o ser humano muitas vezes tem maneiras de não olhar para isso no mundo corporativo.

“Hoje em dia, tudo é dados, sendo assim, já é possível objetivar comportamento e conduta. O regulador também passa a se interessar a endereçar os pontos cegos éticos que muitas vezes ocorrem nas empresas. É essa perspectiva que me parece interessante”, afirmou o executivo, acrescentando que, quando se olha para esse comportamento do regulador, que sabedor das limitações éticas e dos pontos cegos, vemos que ele procura endereçar isso criando os incentivos, exatamente para que esses pontos sejam enfrentados.

Em sua apresentação, Morishita também trouxe pontos como suitability (adequação de vendas). Para ele, tratamento adequado é considerar a suitability na venda dos produtos. Saber o que está vendendo e fazer a venda do produto adequado para o consumidor evidentemente tem natureza preventiva e é importante também para evitar assédio e outras motivações.

Em sua participação, Isabel explanou sobre comportamento ético, a responsabilidade e prevenção de danos, a fim de mostrar aos expectadores como a ética e o setor de seguros veem essas práticas. Segundo a palestrante as pessoas cometem desvio éticos nas empresas por terem seus comportamentos influenciados por um conjunto complexo de circunstâncias sociais e individuais.

Além da existência dos pontos cegos nós somos seletivos, as pessoas só escutam o que querem. Só fazem o endereçamento das suas próprias convicções. Então, para se trabalhar a cultura da ética é necessário trabalhar comportamento. É importante de fato endereçar e investir em uma cultura que trabalhe esse comportamento ético, porque temos vieses inconscientes que nos levam a cenários não éticos.

“Hoje, ser transparente, ter essas conexões sólidas, é fundamental para a sustentabilidade do nosso País. Como inspirar esse comportamento ético? Porque nós dependemos disso para tudo nas nossas relações”, pontuou.

Existe uma série de complexidade para trabalhar o comportamento na ética, para trazer esse comportamento para a cultura das organizações. É preciso trabalhar esses comportamentos para mitigar viéses inconscientes e convir a respeito do que é certo para a sociedade de maneira geral.

“Quando falamos em sustentabilidade é sobre ética, é sobre termos isso em nossa essência. Só conseguimos ter uma economia mais forte a partir do momento que conseguimos manter relações transparentes e sólidas. E para ter isso, tem que ter ética, temos que trabalhar esse comportamento”, reforçou.

Na visão de Érica, quando o assunto e ética associamos diretamente na questão da racionalização. O que justifica uma ação, se algo é admissível, se traz peso na consciência ou não. E quando trazemos isso para o ESG, a questão é como o indivíduo pode racionalizar uma manipulação de dados. Até que ponto ele prejudica ao proporcionar uma informação não verídica ou que não reflita a realidade da companhia.

De acordo com a palestrante, há uma tentativa de buscar uma racionalização para aquilo que se produz e não do aspecto fidedigno da situação. Também tem a questão de oportunidade.

“Quando tratamos de informação, de falta de ética ou informação falsa, tem muito a questão da oportunidade. Para combater tudo isso é necessário ter métricas claras, a fim de minimizar as chances de manipulação ou a oportunidade de uma informação não fidedigna. Até porque as empresas podem eventualmente sofrer uma pressão para ser mais responsáveis socialmente, e isso pode estar ligado a metas, incentivos regulatórios”, pontuou.

Tudo isso pode ser oportunidade para atitudes não éticas ou para informações geradas de forma não íntegras ou imprecisas quando o assunto é ESG.

Erica destacou que a falta de qualidade nos sistemas de gestão cria uma oportunidade maior e defendeu que as empresas precisam trabalhar no sistema de gestão.

“Eu acho que com a questão de regulamentação cada vez mais clara e processos, controles e políticas sérias. É desta forma que as empresas de uma maneira importante devem contribuir para um ambiente mais ético. Tem uma esteira longa ainda de maturidade, tanto por parte das empresas quanto por parte dos reguladores, para que a gente chegue em um estágio onde todos tenham uma segurança maior para o mercado como um todo”, vislumbrou.

Érica finalizou sua participação deixando uma provocação. Questionando o que as empresas podem ou até deveriam fazer para minimizar a ocorrência desse tipo de atitude, promovendo uma cultura de maior conformidade, tanto nas relações com os segurados quanto na informação que está sendo gerada, disponibilizada quando falamos de ESG. E de fato o que está sendo praticado na sua essência, não apenas consta em relatórios.

Assista a live completa no canal da ANSP