Revista Cobertura – Por 04/03/2025 as 13:20 – Lama Ibrahim
A globalização e a interconectividade econômica têm promovido uma maior integração dos mercados financeiros e de seguros. Nesse contexto, a harmonização das normas internacionais com a legislação local tornou-se um aspecto crucial para garantir a eficácia do mercado e proteger os interesses dos consumidores e investidores.
A implementação de normas internacionais traz vantagens significativas que transcendem fronteiras. Um dos principais benefícios é a estabilidade financeira, que resulta da exigência de que as seguradoras mantenham níveis adequados de reservas. Isso aumenta a capacidade do setor de seguros de resistir a choques econômicos inesperados. Além disso, o alinhamento normativo facilita o comércio internacional e atrai investimentos estrangeiros, uma vez que oferece mais garantias de segurança aos investidores de outros países.
A competitividade e a inovação também são impulsionadas pela adoção de normas internacionais. Isso incentiva melhorias contínuas e o uso de tecnologias inovadoras. Contudo, existem desafios inseparáveis da harmonização. A complexidade normativa é um deles, já que a mistura de normas internacionais com a legislação brasileira pode criar um cenário complexo e de difícil implementação para as seguradoras. As normas internacionais frequentemente não consideram a diversidade cultural e econômica do Brasil, possibilitando desalinhamentos em termos de adequação às necessidades locais.
No Brasil, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) tem sido fundamental na incorporação desses padrões, alinhando as normas nacionais com as diretrizes da International Association of Insurance Supervisors (IAIS), que se trata de uma organização que estabelece normas e padrões de supervisão para o setor de seguros em nível global, visando garantir estabilidade financeira e promover práticas eficientes de supervisão. Esse esforço é de extrema relevância para o desenvolvimento do mercado segurador brasileiro, oferecendo inúmeros benefícios, especialmente nas áreas de governança e gestão de riscos.
Isso inclui os princípios de supervisão de seguros, que a SUSEP segue conforme estabelecido pela IAIS, fornecendo um marco abrangente para a supervisão de seguros e cobrindo aspectos como governança corporativa, gestão de riscos e proteção ao consumidor.
A introdução de um regime de solvência baseado em risco na supervisão de seguros no Brasil reflete as diretrizes da IAIS sobre a adequação de capital, que visam garantir que as seguradoras possuam capital suficiente para cobrir os riscos assumidos. Além disso, a SUSEP implementa requisitos de divulgação que estão em linha com as orientações da IAIS, buscando melhorar a transparência das operações das seguradoras para o mercado e consumidores. As diretrizes para a proteção dos segurados e beneficiários também estão alinhadas com os princípios da IAIS, focando em tratar os clientes de forma justa e em práticas de venda responsáveis.
Ao adotar essas diretrizes, a SUSEP busca não apenas fortalecer a resiliência e a transparência do mercado de seguros brasileiro, mas também assegurar uma proteção melhor aos consumidores, promovendo a confiança no setor, facilitando ainda mais a integração do Brasil no mercado global de seguros.
Em termos de governança, a harmonização das normas também promove práticas superiores ao enfatizar a ética e a responsabilidade. As seguradoras são incentivadas a aprimorar suas estruturas de governança com conselhos administrativos eficazes e transparentes, aumentando assim a confiança dos stakeholders. A prestação de contas torna-se uma prática central, reforçando a cultura de responsabilidade entre as organizações.
Quando fala-se em gestão de riscos, os esforços para alinhar-se aos padrões da IAIS colocam o Brasil no centro das melhores práticas globais. Isso permite uma abordagem proativa à mitigação de riscos, onde as seguradoras são mais bem preparadas para identificar e reagir a ameaças antes de serem severamente impactantes. Com planos robustos de continuidade de negócios, as empresas estarão melhor posicionadas para operar eficientemente, mesmo em situações adversas. Essa segurança operacional é fortalecida por promoções contínuas de programas de capacitação, garantindo profissionais aptos a enfrentarem cenários desafiadores.
Em conclusão, a harmonização entre normas internacionais e a legislação brasileira no setor de seguros representa uma relevância significativa, trazendo potencial para facilitar o comércio, atrair investimentos e promover melhores práticas. No entanto, é vital considerar os desafios para garantir que esse processo beneficie as especificidades locais. O equilíbrio entre normas internacionais e necessidades locais é crucial para um mercado de seguros forte e competitivo no Brasil.
*Lama Ibrahim é advogada e sócia no Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica