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Ex-CEO da Stellantis prevê que China comprará maioria das montadoras europeias

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Folha de São Paulo – 28.out.2025 às 16h04 – Sarah White – Paris | Financial Times

O ex-CEO da Stellantis Carlos Tavares afirmou que as montadoras da China virarão as “salvadoras” das fábricas e dos empregos europeus, em uma tomada gradual que acelerará o fim de alguns fabricantes ocidentais.

O ex-executivo de marcas como Jeep e Peugeot traçou um quadro sombrio especialmente para os grupos automotivos europeus, enquanto lidam com regulamentações rigorosas de emissões, a guerra comercial global e a mudança de políticas sobre carros elétricos.

Tavares disse ao Financial Times que esse impacto ocorrerá nos próximos 10 a 15 anos e parte dele será pelas ações das montadoras chinesas, que em busca de alvos para aquisição, avançarão ainda mais na Europa, acumulando participações de capital ou comprando fábricas à beira do fechamento.

O executivo de 67 anos assinou um acordo com a fabricante chinesa Leapmotor, adquirindo uma participação de 20% no grupo e ajudando-a a entrar em mercados internacionais. Ele afirmou que estava ciente de que a Leapmotor tinha suas próprias motivações para entrar na parceria.

“A razão é simples, é que eles querem nos engolir algum dia”, afirmou o executivo, revelando que havia sido abordado por várias empresas chinesas para dirigir ou aconselhar seus negócios.

A BYD e outras marcas chinesas têm aumentado rapidamente sua participação de mercado no Reino Unido e em outros países europeus com veículos elétricos e híbridos acessíveis e avançados, apesar das tarifas de importação mais altas impostas por Bruxelas.

A francesa Renault também se associou à Geely no negócio de motores de combustão interna, enquanto a Nissan afirmou que sua parceira chinesa Dongfeng poderia começar a produzir em sua fábrica de Sunderland, no Reino Unido.

Tavares deixou a empresa que ajudou a criar em uma megafusão de US$ 50 bilhões entre a francesa PSA e a italiana Fiat em 2021, após um colapso nas vendas tanto na Europa quanto nos EUA.

O executivo português, que construiu uma carreira na França primeiro na Renault e depois no comando da fabricante da Peugeot, PSA, disse que sua insistência em prosseguir com a transição para veículos elétricos imposta pela UE lhe custou o emprego.

As montadoras europeias estão fazendo forte lobby para permitir que outras tecnologias, como híbridos, sejam vendidas após 2035. “Quem está responsabilizando a UE pelos 100 bilhões de euros em investimentos que não serão utilizados? Ninguém”, comentou Tavares.

Tavares disse que não tinha “arrependimentos” e não estava em modo de “autoflagelação” —embora tenha brincado que um dos problemas da indústria automobilística é que “como eu, seus chefes têm grandes egos e personalidades e querem mostrar aos seus amigos que estão certos”.

Ele previu em suas memórias recém-publicadas que apenas cinco ou seis montadoras sobreviverão globalmente, começando com a Toyota do Japão, a Hyundai da Coreia do Sul, a BYD da China e “provavelmente” outra empresa chinesa como a Geely. Ele também colocou em dúvida o futuro da Stellantis e previu que a Tesla perderá para rivais chineses.

Escrito em francês e com título que se traduz como “Um piloto na tempestade”, o livro dedica um capítulo inteiro à defesa de sua remuneração na Stellantis, que provocou a ira dos sindicatos e até dos acionistas, especialmente quando atingiu 36,5 milhões de euros em 2023.

A alemã Volkswagen representava a “incapacidade de mudança” da Europa, enquanto a Tesla acabaria “completamente ultrapassada pelos fabricantes chineses”, com o chefe Elon Musk provavelmente mudando para outras atividades, de acordo com o pensamento do ex-CEO da Stellantis.

Tavares disse ao FT que a Stellantis foi “estrategicamente criada de forma perfeita para a globalização”, mas seu conselho agora teria que decidir se essa ainda era a abordagem certa.

Ele disse que argumentaria que sim —embora o grupo tivesse três fábricas a mais na Europa. A Stellantis recusou-se a comentar.

O ex-executivo, que está investindo em negócios em seu país-natal, escreveu que só voltaria à indústria automobilística se tivesse uma participação grande o suficiente em qualquer empresa que estivesse dirigindo.