O setor de seguros revisou para baixo suas projeções de crescimento para 2025. Segundo dados apresentados nesta segunda-feira (3) pelo presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), Dyogo Oliveira, e pelo presidente da Fenaprevi, Edson Franco, a expectativa anterior de expansão de 8,8% foi substituída por uma retração de 3,7% — considerando o mercado de seguros sem o ramo de saúde suplementar. Com saúde, o crescimento projetado caiu de 10% para 1,9%.
As principais causas da revisão são a tributação de 5% de IOF sobre os aportes de VGBL, em vigor desde julho, e a redução pela metade dos subsídios do governo federal ao seguro rural, que comprometeram a expansão dos dois segmentos mais sensíveis à política pública e à tributação de longo prazo.
A criação do IOF sobre os aportes do VGBL – produto que concentra a maior parte da poupança previdenciária no país – teve impacto imediato. A captação bruta deve cair 19,4%, passando de R$ 177,9 bilhões em 2024 para R$ 143,4 bilhões em 2025, conforme a projeção da Fenaprevi.
“Conceitualmente, continuamos discordando da incidência deste imposto, pois não existe outro produto que sofra uma tributação sobre o valor depositado. E muito menos um produto voltado à formação de poupança de longo prazo”, afirmou Edson Franco, presidente da Fenaprevi. “Essa medida penaliza o cidadão de classe média que busca se planejar para o futuro, e não o investidor de alta renda. É um contrassenso num país que precisa estimular a cultura previdenciária”, completou.
Franco explicou que 78% dos aportes realizados nos últimos 10 anos foram feitos de forma única, o que reforça o caráter de longo prazo e o perfil de poupadores da classe média. A Fenaprevi e a CNseg já mantêm diálogo com o governo e sinalizam otimismo quanto à revisão da medida, que vem reduzindo também a capacidade de formação de reservas que ajudam a financiar a dívida pública.
Apesar do tombo no VGBL, os seguros de vida seguem em trajetória positiva. O segmento deve crescer 7,9% em 2025, com destaque para o vida individual, cuja expansão projetada supera 20%, reflexo da maior conscientização da população em relação à proteção financeira da família após a pandemia.
Seguro rural recua, mas pode se recuperar em 2026
O seguro rural também passa por um momento de retração. A arrecadação acumulada até agosto somou R$ 8,7 bilhões, queda de 6,7% em relação ao mesmo período de 2024. A área coberta, que já chegou a representar 16% das lavouras em 2021, deve cair para 2,3% em 2025, o menor patamar da série histórica. “A baixa subvenção do governo no seguro rural tem impactos profundos tanto para os produtores quanto para o mercado segurador”, afirmou o presidente da CNseg. “Sem esse apoio, muitos agricultores deixam de contratar seguros e assumem riscos climáticos e de mercado — algo fora do alcance das seguradoras diante da restrição fiscal atual.”
Segundo ele, os recursos para subvenção caíram de R$ 1 bilhão em 2024 para cerca de R$ 500 milhões em 2025. Ainda assim, Oliveira destacou que há boa perspectiva para 2026, quando deve avançar no Congresso o Projeto de Lei da senadora Tereza Cristina, que propõe tornar o programa de subvenção uma obrigação orçamentária, além de criar um fundo de estabilização para mitigar anos de perdas elevadas.
Outros ramos mantêm crescimento
Entre os ramos que continuam em expansão, o seguro de automóvel teve alta de 5,4% entre janeiro e agosto, embora em ritmo mais moderado em razão da queda dos preços médios das apólices. O desempenho acompanha o aumento dos emplacamentos de veículos — +3,3% no acumulado do ano, segundo a Fenabrave — e o avanço das vendas de veículos híbridos e elétricos (+56,3%).
No segmento residencial, o crescimento foi de 8,1%, enquanto o seguro condominial saltou 32% e o habitacional, 12%, sustentados pelo aquecimento do setor imobiliário e pela retomada do programa Minha Casa Minha Vida.
Os seguros de riscos financeiros seguem como destaque, com projeção de alta de 15%, acima dos 11,4% previstos no final de 2024. Dentro do grupo, o seguro de crédito deve crescer 5,6%, e o garantia, 17,9%, impulsionado por contratos de infraestrutura e pelo estoque de processos no CARF, que deve ser liquidado até 2026.
Perspectivas e novos produtos
Dyogo Oliveira ressaltou que, mesmo com a revisão de curto prazo, a demanda por seguros segue em alta, impulsionada pela inovação de produtos e pelo fortalecimento das companhias. Ele também destacou o esforço conjunto da CNseg e da Susep para lançar o Seguro de Vida Universal, novo modelo que deve modernizar o portfólio e ampliar o acesso da população à proteção de longo prazo.
“A conjuntura de 2025 é desafiadora, mas o setor se mantém resiliente e preparado para voltar a crescer em 2026, com projeções positivas em praticamente todos os ramos, exceto nos que dependem diretamente de políticas públicas”, concluiu Oliveira.
“O setor esta indo bem por melhorias do setor e da economia brasileira, salvos os dois problemas (VGBL e do seguro rural), e a partir do ano que vem certamente o mercado de seguros voltará ao ciclo positivo, seguindo a rota de crescimento sustentável das últimas duas décadas”, finalizou Oliveira. As projeções do setor para 2026 serão divulgadas em meados de dezembro, num evento já programado pela CNseg.
Casa do Seguro – Iniciativa da CNseg que visa colocar o setor de seguros na agenda global, foi inaugurada ontem. “Os documentos que são produzidos pela organização das COPs, já começam a incluir o setor de seguros como um dos principais protagonistas neste tema de mudanças e adaptação climática. A proposta da Casa é mostrar como o seguro pode contribuir para o desenvolvimento sustentável e para a proteção da economia. A cada dia na Casa do Seguro teremos parceiros de diferentes setores discutindo o papel do seguro dentro da agenda climática e econômica. É uma forma de mostrar que o setor está preparado para responder aos desafios do clima e da sociedade”, afirmou Oliveira.

