Data de publicação 3 de abril de 2023
Ao longo das décadas, o setor de seguros se habituou a informar os dados diretamente ligados às seguradoras. O primeiro grande número é o faturamento anual, que, curiosamente, costuma ser apresentado fatiado, primeiro seguro, depois previdência complementar e, por fim, os planos de saúde privados.
Isso dá uma ideia equivocada do tamanho da atividade, já que seguro diretamente não chega a R$ 200 bilhões, planos de saúde privados faturam mais do que R$ 200 bilhões e, invariavelmente, nos planos de previdência complementar se informa o investimento nos produtos, que é diferente do faturamento das empresas.
O grande dado da indústria automobilística é a quantidade de veículos fabricados e comercializados durante o ano e não qual o faturamento das montadoras. Também é relevante a quantidade de empregos direta e indiretamente gerados e o tamanho da cadeia econômica, com todas as atividades dependentes do setor automotivo ocupando seu lugar.
Para o setor automotivo a informação importante é a quantidade de itens fabricados, importados e comercializados, novos e usados, peças, oficinas mecânicas, concessionárias, lojas de carros etc. Quanto cada montadora faturou é muito menos importante do que a quantidade de veículos produzidos.
Para o setor de seguros, ao longo dos anos, o dado importante tem sido o faturamento das seguradoras, que é um dado parcial, já que temos também o faturamento dos corretores de seguros e de todos os prestadores de serviços, que deveriam ser computados na conta.
Além disso, quem sabe por conta de um antigo complexo de inferioridade, de quando o setor representava menos de 1% do PIB, também é relevante informar qual a participação do faturamento das empresas sob o manto da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) no PIB brasileiro.
Será que este é o dado relevante para a sociedade entender o que é e qual a importância do setor para a população e para a economia? Me parece que não.
Muito mais relevante do que informar que, entre secos e molhados, o setor faturou perto de meio trilhão de reais em 2022 é mostrar que o setor devolveu para a sociedade perto de R$ 300 bilhões em indenizações de seguros, procedimentos cobertos por planos de saúde privados e resgates dos planos de previdência privada e capitalização.
Para o dia a dia do cidadão e mesmo para a rotina da sociedade é indiferente se a seguradora A cresceu 10% e a B cresceu 12,5%.
Mas não é indiferente saber que mais de não sei quantos mil veículos atingidos pelas chuvas de verão foram indenizados ou que milhares de indenizações por mortes por Covid-19, que não estariam cobertas, foram pagas pelas seguradoras ou que milhões de pessoas são anualmente atendidas pelos planos de saúde privados.
A Susep (Superintendência de Seguros Privados) começou a divulgar os números referentes às indenizações pagas. Se o setor focar nessas informações, terá outro reconhecimento da sociedade.
* Por Antônio Penteado Mendonça, sócio da Penteado Mendonça Advocacia e secretário-geral da Acadêmia Paulista de Letras
** Artigo pulicado pelo jornal Estadão