Indenizações

Total com sinistros, indenizações, benefícios, resgates e sorteios totalizaram R$ 151 bilhões

Valor Econômico – 25 de Março de 2021

Os gastos das seguradoras com sinistros, indenizações, benefícios, resgates e sorteios totalizaram R$ 151 bilhões em 2020, o que representa um crescimento de 8,3% em relação ao ano anterior. Os números finais tendem a ser ainda maiores, uma vez que excluem saúde suplementar, conforme a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). A exposição do setor à pandemia foi no geral pequena, uma vez que a maioria das apólices exclui esse tipo de evento das coberturas.

Um exemplo são as coberturas de lucro cessante, que garantem indenização ao segurado em caso de paralisação das operações. Via de regra, as apólices estabelecem como gatilho para o acionamento da cobertura a ocorrência de um dano físico, como um incêndio, que leve a perda de receitas. A interrupção de um negócio em virtude da pandemia, assim, não é coberta na maioria das apólices.

Alguns ramos, entretanto, foram fortemente impactados. Um exemplo é o seguro de vida. Ainda no início da pandemia, as seguradoras que operam nesse ramo desconsideraram a cláusula de exclusão de pandemia no seguro, passando a cobrir casos ocasionados pela covid-19. Conforme dados compilados pela CNseg para o Valor, o pagamento de indenizações cresceu 19,3% em 2020, na comparação com o ano anterior

A Icatu, por exemplo, desembolsou cerca de R$ 100 milhões em pagamentos em virtude da covid-19. “Por outro lado, houve redução no número de mortes por acidentes, o que mudou a causa mortis no geral e deixou a sinistralidade em linha com o esperado para 2020. Para 2021, já começamos o ano em um nível mais alto do que no ano passado”, diz o presidente Luciano Snel.

Em saúde, apesar da forte pressão nos hospitais por causa das internações das pessoas contaminadas com o novo coronavírus, a postergação de exames e cirurgias eletivas por parte dos segurados ajudou, de alguma forma, a equilibrar a balança. No acumulado do ano até setembro, conforme a CNseg, houve queda de 7% na ocorrência de sinistros.

Isso foi verificado na SulAmérica, onde os custos com a covid-19 superaram os R$ 810 milhões – ou cerca de 4,4 pontos percentuais da sinistralidade. Ainda assim, a seguradora encerrou o ano com uma sinistralidade anual de 76,9%, dois pontos percentuais inferior à de 2019. “O resultado geral foi beneficiado pela redução das consultas, exames e cirurgias eletivas. Muitas pessoas decidiram adiar os procedimentos para não se deslocarem a hospitais. O net (resultado líquido) acaba vindo por um motivo perverso, mas economicamente se mostrou viável”, diz o presidente, Gabriel Portella.

A pandemia, por outro lado, contribuiu com uma forte redução nos índices de sinistralidade de automóveis. Com menos carros em circulação, caíram as ocorrências de furtos e roubos em algumas regiões. Conforme a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a sinistralidade total em 2020 foi de 54,1%, abaixo do observado no ano anterior (60,6%).

Para Murilo Riedel, presidente da HDI, a pandemia trouxe “uma trégua” com a redução de frequências em regiões que adotaram medidas de isolamento social de maneira mais organizada. “Esse fenômeno foi mais sentido para quem opera em São Paulo e no Rio de Janeiro. No caso da HDI, que tem grande parte da carteira de auto em cidades do interior e no Sul do país, essa redução de frequências foi pequena por conta de um isolamento mais flexível”, diz.

Para Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros, com o recrudescimento da pandemia, o crescimento dos casos de covid-19 e a consequente paralisação das atividades em todo o território nacional, o ramo de auto possivelmente sofrerá uma nova queda na ocorrência de sinistros nos próximos meses. “Também é esperado um impacto importante na sinistralidade de vida, decorrente do aumento das ocorrências indenizáveis associadas à pandemia e ao desemprego. Em saúde, percebemos um aumento significativo relativo dos casos de internação pela covid-19, concomitantemente com a manutenção do atendimento aos procedimentos eletivos”, afirma.