Notícias | 29 de abril de 2021 | Fonte: Estadão
A Caixa Seguridade coloca os pés nesta quinta-feira, 29, na Bolsa brasileira (B3), valendo cerca de R$ 29 bilhões, na terceira tentativa para abrir o seu capital. Com a estreia da subsídiária na B3, o banco público chega à bolsa pela primeira vez. Mesmo com a aversão a estatais no Brasil jogando contra, a holding de seguros da Caixa Econômica Federal conseguiu emplacar a operação com prêmio em relação à concorrente BB Seguridade. Por outro lado, a era dos grandes desinvestimentos na gestão de Pedro Guimarães, escolhido para presidir o banco no governo Bolsonaro, pode estar bem perto do fim.
Com a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Caixa Seguridade, o total de venda de ativos realizado pela instituição pública na administração supera a marca dos R$ 33 bilhões. A deterioração do mercado, que dificulta o acesso às empresas brasileiras, principalmente, para estatais, pode fazer com que essa cifra não se mova muito daqui para frente.
No curto prazo, a situação da pandemia no Brasil, que caminha para a terrível marca de 400 mil mortes, e a situação das contas públicas – fora o imbróglio político – pesam. Já no próximo ano, o calendário deve ser tomado pelas eleições presidenciais, dificultando agendas mais complexas, como a venda de ativos públicos.
Na manga, a gestão da Caixa tinha cinco IPOs. Como o tempo é curto – e o clima não é dos mais favoráveis -, depois da Caixa Seguridade, somente mais dois podem se tornar realidade: a bandeira Elo e a gestora de recursos da Caixa. A própria gestão do banco público, conforme pessoas próximas, já trabalha com tal cenário.
Em relação à bandeira Elo, da qual a Caixa é sócia de Bradesco e Banco do Brasil, a ideia, como antecipou o Broadcast, é leva-la à Nasdaq, berço da tecnologia, no terceiro trimestre. Os estrangeiros Morgan Stanley, Goldman Sachs e JP Morgan, inclusive, já foram escalados para a oferta. No caso da asset, o caminho é mais longo. Ainda assim, o banco trabalha na preparação do terreno para uma possível listagem.
A abertura de capital da Caixa Seguridade pode ajudar na apresentação de outros negócios aos investidores. Pesa, porém, cada negócio em si e o humor do mercado, que piorou.
No caso da Caixa Seguridade, o assunto ingerência política esteve presente na maioria das apresentações aos investidores. O trabalho da gestão e a remodelação da oferta contribuíram, porém, para que o IPO tivesse sucesso. As ações foram precificadas em R$ 9,67, acima do piso, e o IPO movimentou cerca de R$ 5 bilhões, conforme antecipou o Estadão/Boadcast.
Desde o ano passado, em centenas de reuniões, o management da Caixa Seguridade fez uma série de promessas ao mercado, como a entrada em vigor de parcerias estratégias com concorrentes privados. A leitura, dizem, é a de que as entregas foram feitas, ajudando a convencê-los de que o IPO era uma boa opção de entrada.
Varejo
Com demanda de sobra, principalmente no varejo, a Caixa Seguridade conseguiu, inclusive, elevar o preço que os investidores topavam pagar. No meio da tarde de terça-feira, 27, chegou a R$ 9,50 e, no fim, precificou seu IPO em R$ 9,67. O varejo ajudou – e muito. Ficou com cerca de 55% da oferta, com rateio de ordens dos investidores institucionais, incluindo estrangeiros. Foram mais de 149 mil CPFs, conforme fontes de mercado, que passaram a deter uma ação da Caixa Seguridade.
De quebra, a holding também conseguiu outro feito prometido desde que tenta colocar os pés na Bolsa: um prêmio em relação à BB Seguridade. Cálculos feitos por um especialista no mercado mostram que a Caixa Seguridade emplacou seu IPO com múltiplos de 12,5 vezes a 13 vezes o seu lucro líquido projetado para 2021. A rival BB Seguridade, que foi sua inspiração, negocia as ações hoje na Bolsa com múltiplos de 10 vezes o resultado esperado para o ano.
O presidente da Caixa, próximo ao presidente Jair Bolsonaro, ajudou a estruturar o IPO do negócio de seguros do BB no passado. Além da gestão da Caixa Seguridade, que concluiu a reestruturação da holding e aprimorou os resultados, sua experiência no mercado de capitais também contribuiu para emplacar a operação.
Diante da aversão dos investidores a estatais brasileiras, o banco remodelou o negócio e decidiu ofertar uma menor parcela ao mercado. Assim, vendeu um pouco mais de 15% do capital da holding de seguros. No passado, a expectativa, conforme revelou o Estadão/Broadcast na época, era desovar entre 25% e 30%, avaliando o negócio em R$ 60 bilhões.
Como a oferta foi secundária, os recursos vão engordar o caixa do banco. O ganho bruto no resultado da Caixa será de R$ 3,3 bilhões, conforme informou em fato relevante ao mercado.
A estreia da Caixa Seguridade no Novo Mercado, segmento de mais elevada governança da B3, está prevista para hoje, a partir das 8h35. As ações serão negociadas sob o ticker CXSE3. A Caixa Seguridade será a 189ª empresa listada no Novo Mercado.