Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo16 de agosto de 2021 às 04:30
A divulgação na sexta-feira (13) do IBC-Br, índice mensal do Banco Central que serve como uma prévia do PIB, apontou um crescimento forte da economia em junho, de 1,1% na comparação com maio, mas fraco no segundo trimestre completo, de apenas 0,1% em relação ao trimestre anterior.
O dado é um dos últimos a completar o retrato do ritmo de recuperação da economia no segundo trimestre antes de o número oficial do Produto Interno Bruto (PIB) ser conhecido – ele será divulgado em 1º de setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Serviços, varejo e indústria são outros que já tiveram os resultados para o período divulgados pelo IBGE, com sentidos mistos: os serviços cresceram em junho, as vendas do varejo caíram e a indústria andou de lado.
Com um trimestre que começou ainda baqueado pelas restrições de circulação em meio aos picos de mortes e contaminações por coronavírus vistos entre fevereiro e abril, o quadro de um PIB fraco para esses três meses começa a ficar mais claro.
Economistas falam em projeções de crescimento perto do zero, e alguns nem descartam uma nova variação negativa no segundo trimestre, depois da queda de 4,1% no ano passado e um crescimento de 1,2% nos primeiros três meses deste ano.
Por outro lado, a força da volta quase plena da circulação e das atividades esperada para esta segunda metade do ano, conforme a vacinação avança e nenhuma nova onda de contaminações atrapalhe o caminho, promete engatar um ritmo mais forte de crescimento. Isso sustenta as projeções para um PIB que deve crescer mais de 5% até o final deste ano.
“É possível que o PIB tenha uma queda no segundo trimestre, porque, apesar de um junho forte, a passagem para abril foi fraca”, disse Fabio Ramos, economista do banco UBS BB.
A projeção do banco para o segundo trimestre é de um crescimento de 0% do PIB na comparação com os meses imediatamente anteriores, mas o número está em revisão e pode acabar no terreno negativo. A estimativa para o ano, de alta de 5,8%, também deve ser alterada.
“Mas não estou pessimista”, diz Ramos. “É um trimestre que começou mal e terminou bem, e o terceiro e quarto trimestres devem ser muito bons”, disse.
“Estamos falando de um crescimento modesto [no segundo trimestre], mas há alguns fatores que justificam algum otimismo”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
“A vacinação está ganhando força, devemos ter uma maior circulação das pessoas e ver o setor de serviços reabrindo, mesmo que a plena capacidade pré-pandemia só deva ser retomada no ano que vem.”
A projeção do Banco Mizuho é de um PIB que crescerá apenas 0,2% no segundo trimestre, mas ganhará força gradativamente: a alta no terceiro deve ir a 0,4% e, no quarto, a 0,7%. Ao fim, o crescimento do ano deve ficar na faixa dos 5,5%.
Serviços voltando a respirar
Composto por atividades muito mais dependentes da circulação do que apenas da renda, os serviços foram os que mais sofreram desde o ano passado.
São restaurantes, hotéis, cabeleireiros, academias, locadoras de veículos, agências de viagens e uma série de estabelecimentos que começam agora a se reerguer, enquanto comércio e indústria já chegaram a retomar há algum tempo os níveis de venda e produção pré-pandemia.
De acordo com os economistas, será daí que virá a tração que garantirá um crescimento mais forte nesta segunda metade do ano, enquanto o restante patina: em junho: os serviços tiveram alta de 1,7%, o varejo caiu 1,7% e a produção da indústria ficou no 0%, de acordo com o IBGE.
Como são os serviços a atividade que tem o maior peso no PIB brasileiro, além de ser uma das que mais emprega, sua promessa de retomada é um motor importante.
“Com as restrições, as pessoas estavam consumindo menos serviços e ficando com a renda disponível para comprar mais bens”, diz Rostagno, do Mizuho. É o fenômeno que fez, por exemplo, setores como o de restaurantes ou de viagens definharem enquanto supermercados e lojas de materiais de construção batiam recordes.
“O que começamos a ver agora é uma normalização desse padrão de consumo conforme a vacinação avança”, diz Rostagno, “e o setor de serviços deve continuar sendo o motor do crescimento para os próximos meses”.