O Estado de S. Paulo – 11 de Maio de 2020
O Estadão destaca que os preços remuneradores do milho e a incerteza econômica em meio à pandemia do novo coronavírus impulsionam a contratação de seguro agrícola para a segunda safra do cereal, cultivada após a colheita de verão. Capitalizado, o produtor investiu na lavoura, sem perder o foco nos riscos que a cultura suscetível aos meses de frio pode sofrer. “Saímos de uma safra com a saca de 60 kg de milho negociada a R$ 32 e entramos neste ciclo com a saca a R$ 44. Isso foi decisivo”, avalia Everton Todescatto, gerente comercial de Agronegócios da Sancor Seguros.
A empresa estima incremento de 10% nas vendas da modalidade que prevê reembolso por quebras na produtividade. Já foram contratados R$ 38 milhões em apólices com cobertura de 150 mil hectares. Na Tokio Marine, o montante referente ao milho safrinha chega a R$ 80 milhões, R$ 60 milhões a mais que no ano passado. Já a Mapfre Seguros estima crescimento de 10% a 15% na contratação. No caso da BrasilSeg, empresa da BB Seguros, o crescimento de 75% a 80% no seguro rural foi puxado pelo cereal de inverno, com 11.962 apólices e 1,8 milhão de hectares cobertos.
Joaquim Neto, superintendente de Produtos Agro da Tokio Marine, considera que perdas causadas pelo clima na safrinha de 2019 e na safra de verão deste ano contribuíram para aumentar o interesse do agricultor. “Isso acaba sendo uma lembrança da importância de mitigar riscos e impedir perdas.” A percepção de risco do produtor também foi aguçada pela menor janela de plantio para o cereal, que o torna mais vulnerável às intempéries, diz Catia Rucco Rivelles, superintendente de Seguros Agrícolas da Mapfre. “Após a pandemia, ele quer proteger mais sua principal fonte de renda.”
O produtor também está mais preocupado em maximizar a rentabilidade de suas lavouras, observa Paulo Hora, superintendente de Seguros Rurais da BrasilSeg. No primeiro ano de oferta para a safrinha, o seguro faturamento da empresa, que restitui perdas por quebras climáticas ou queda de preços, já alcançou 2.570 apólices vendidas, com cobertura de 360 mil hectares. “A oscilação do preço das commodities e o câmbio volátil influenciam na procura do agricultor por este tipo de seguro”, comenta Hora.
Diante de relatos recorrentes sobre a maior procura de agricultores pela recuperação judicial, Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), pede apoio à contratação de seguros. Para ele, faltam políticas de estímulo, o que reduziria a necessidade de recuperação. Enquanto produtores financiados por bancos oficiais adquirem cobertura, diz, o mesmo não ocorre quando o crédito vem de tradings ou agroquímicas. Ele propõe que nas operações de barter (troca de insumos por produto entregue na colheita) seja incluso valor extra que cubra o seguro.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, concorda com a importância de o produtor fazer seguro, mas diz que a tarefa “não cabe às tradings”. “Seguro é questão de mercado com seguradoras, produtores, e eventualmente com o governo, de ter um programa com subsídio mais amplo. Nós (tradings) nunca colocaremos seguro como condição (para dar crédito)”, diz. A onda de produtores em recuperação pode se refletir em juros mais altos cobrados pelas empresas, alerta. “Com a Selic caindo, isso deveria reduzir o custo do crédito. Mas, se na carteira há produtores em recuperação, dilui esse risco para todo o resto.”