Revista Apólice – 9 de junho de 2020 16:02 0
No mundo inteiro, a expectativa é de que a aquisição de carros elétricos se acelere em linha com a demanda dos consumidores e as políticas governamentais de combate a mudanças climáticas. O futuro da mobilidade é claramente elétrico, mas a transição levará a uma mudança fundamental no risco para fabricantes, fornecedores e seguradoras e terá um impacto significativo no seguro de responsabilidade civil de produtos automotivos. É o que afirma o novo relatório da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS).
De acordo com o especialista em seguros de Responsabilidade Civil da empresa, Daphne Ricken, a indústria automotiva terá que responder a muitos riscos emergentes para fazer a transição para veículos elétricos. “O crescimento das vendas dos carros elétricos no mundo traz a perspectiva de novos problemas de defeitos ou desempenho; custos de reparo mais caros; novas ameaças de incêndio e riscos cibernéticos; e até questões de reputação em torno do fornecimento e descarte sustentáveis de componentes e matérias-primas essenciais para as baterias”, explica.
A Agência Internacional de Energia prevê que poderemos ter mais de 100 milhões de carros elétricos nas ruas em 2030, muito acima dos cerca de sete milhões que existem hoje, com vendas anuais de 20 milhões impulsionadas pelo crescimento na China, que já é o maior mercado do mundo; União Europeia (segunda maior); Japão; Canadá; EUA e Índia, em particular.
Aqui no Brasil, por enquanto, o cenário é diferente dos outros países com uma frota pouco significativa. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o número de carros elétricos no país é de cerca de 20 mil. Mas segundo previsão da Boston Consulting Group (BCG) em 2030 os carros elétricos vão representar 5% da frota brasileira, com vendas de 180 mil unidades ao ano.
Novas exposições ao risco
Embora a crise do coronavírus possa atenuar as perspectivas para as vendas globais de carros elétricos para 2020, o crescimento previsto a longo prazo ainda traz uma série de riscos técnicos e operacionais, como por exemplo:
Segurança e confiabilidade: Avaliações estatísticas de sinistros da Allianz mostram que os veículos elétricos são menos propensos a se envolver em acidentes. No entanto, qualquer dano sofrido pode ser, em média, mais caro do que nos carros convencionais. O fato de esses carros só poderem ir a oficinas especializadas contribui para o aumento de custo.
A vida útil e o desempenho da bateria são questões críticas para carros elétricos. Dado o alto custo de substituição ou reparo de unidades de bateria, uma falha no cumprimento das garantias de desempenho colocará dúvidas sobre a responsabilidade de fabricantes e fornecedores.
Seguros e a complexidade dos sinistros: A mobilidade elétrica terá muitas implicações para o seguro, em particular para o produto de responsabilidade civil de produtos automotivos, e sinistros. Isso porque a tecnologia cria novos riscos e exposições fazendo com que a responsabilidade mude ao longo da cadeia de suprimentos.
“O que antes eram três peças em um veículo convencional, hoje pode ser apenas uma parte em um carro elétrico. Isso pode levantar questões sobre qual fabricante ou fornecedor é responsável por um defeito. O aumento da complexidade da cadeia de suprimentos automotiva e a dependência de produtores de software e tecnologia levarão a novas exposições e dividirão os passivos na cadeia de valor”, afirma Ricken.
Haverá também exposições de responsabilidade dos empregadores, como possíveis vapores tóxicos e riscos de incêndio durante a impressão 3D ou o manuseio de baterias de lítio relacionadas a incêndio e contaminação.
Ameaça de incêndio: como nos veículos convencionais, componentes elétricos defeituosos e curtos-circuitos podem provocar um incêndio, enquanto as baterias de íon-lítio podem queimar quando danificadas, sobrecarregadas ou sujeitas a altas temperaturas. Os incêndios com baterias de alta tensão podem ser muito mais intensos e difíceis de extinguir, além de liberar altos níveis de gases tóxicos. Esses incêndios podem levar 24 horas ou mais para serem controlados.
Questões ambientais: apesar de suas credenciais ecológicas, as questões ambientais podem representar um risco potencial de responsabilidade e reputação para fabricantes e fornecedores de veículos. Uma rápida aceitação dos carros elétricos exigirá que estas empresas obtenham suprimentos sustentáveis de componentes e matérias-primas essenciais à medida que aumentam a produção. Por exemplo, a tecnologia de baterias gerará um grande aumento na demanda por cobalto e lítio, superando a oferta atual. Prevê-se que a oferta de lítio triplique até 2025. Portanto, a reciclagem e a reutilização eficaz de materiais serão essenciais. As preocupações ambientais e sociais também enfatizarão o fornecimento sustentável de minerais, bem como a rastreabilidade e a transparência das cadeias de suprimentos. As baterias de alta tensão também podem representar um risco de poluição, se não forem descartadas adequadamente.
Pressa do mercado, possíveis defeitos e recalls: os fabricantes estão sob pressão para acelerar a transição para a mobilidade elétrica. A combinação de nova tecnologia, ciclos curtos de desenvolvimento e nova impressão 3D / 4D na produção pode resultar em um aumento de defeitos e problemas de qualidade, aumentando os recalls de produtos para a indústria automotiva, que já estão entre os maiores e mais complexos de qualquer setor, segundo as análises da organização.
Preocupações cibernéticas: É provável que os carros elétricos tenham maior conectividade e dependência de dados, sensores e software, incluindo inteligência artificial, para gerenciar sistemas dos veículos e auxiliar na condução. Como nos veículos convencionais, o aumento da conectividade pode dar origem a vulnerabilidades cibernéticas, incluindo a ameaça de ataques maliciosos, interrupções do sistema, bugs e falhas. Já houve recalls de produtos no setor automotivo como resultado da segurança cibernética.