Revista Apólice 28.04.2022
EXCLUSIVO – Após um período de congelamento de valores, seguido de reajuste negativo nos planos de saúde individuais, provocados pela pandemia, projeções da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) apontam um aumento recorde de 15,7% para os usuários neste ano. A maior alta nos planos de saúde havia sido registrada em 2016, quando o benefício aumentou 13,57%.
Entre os principais fatores para esse crescimento, a entidade aponta, principalmente, a variação das despesas assistenciais com atendimento aos beneficiários dos planos, variação por faixa etária e a eficiência da operadora. Além disso, a transição epidemiológica, a incorporação acelerada de novas tecnologias, a maior longevidade da população, por exemplo, contribuem para esse aumento dos custos.
Segundo Vera Valente, diretora-executiva da Federação, é necessária uma série de mudanças estruturais no setor que ajudem a conter esse avanço dos custos, mantendo a qualidade dos serviços oferecidos com sustentabilidade. “No período mais recente, as despesas assistenciais inicialmente se reduziram em razão da queda da demanda, tendo em vista que as pessoas diminuíram sensivelmente as suas consultas, exames e até mesmo internações. No entanto, o que ocorreu foi o efeito rebote, ou seja, esses procedimentos retornaram aos volumes anteriores com o arrefecimento da pandemia. E isso impactou mais intensamente os custos no ano passado, o que impacta o reajuste a ser autorizado neste ano”.
Para Vera, esse reajuste é necessário para a reposição do equilíbrio econômico-financeiro das carteiras de planos individuais, que foram afetadas no ano anterior com reajuste negativo de 8,19%. A diretora da FenaSaúde acredita que esse equilíbrio é importante para que as operadoras possam dar continuidade aos atendimentos de excelência aos seus beneficiários. “Frente ao reajuste negativo, o segmento dos planos individuais, caso confirmado o reajuste conforme projetado, teria um reajuste acumulado nos últimos dois ciclos em torno de 6,2%. Esse percentual é bem inferior à inflação do período de março de 2020 a março de 2022 (IPCA), que passa de 18%”.
Para realizar essas projeções, foi levado em consideração o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que incide sobre os preços dos serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados. De acordo com a FenaSaúde, a atual metodologia usada para definição do reajuste, que está em vigor desde 2019, torna os cálculos mais transparentes e previsíveis.
Vera afirma que não é possível prever como será a movimentação de mercado a partir do reajuste, pois o desempenho do setor depende também de diversos fatores externos, como geração de empregos, inflação e renda familiar. “Entretanto, durante a pandemia, vimos que a procura por planos de saúde cresceu bastante, algo que não era esperado. Dados da ANS apontam que os planos de saúde fecharam 2021 com 48.995.883 de beneficiários, um crescimento de 3,2% em relação a 2020. Os reajustes nos valores das mensalidades dos planos de saúde refletem as pressões de custos sofridas pela saúde suplementar”.
A diretora da FenaSaúde aconselha ao consumidor, caso o valor da mensalidade do plano de saúde aumente, procurar a sua operadora para explorar com ela os produtos disponíveis e que se enquadrem em seu perfil, atendendo às suas necessidades de assistência em saúde e considerando as suas possibilidades financeiras. “Outra opção também é a portabilidade para outra operadora. Em 2021, o interesse pela portabilidade de carências, que é quando o beneficiário muda de plano de saúde sem precisar cumprir novas carências, aumentou 12,46% em relação ao ano anterior, segundo a ANS. A busca por planos de saúde mais baratos foi o principal motivo informado pelos usuários do Guia ANS, seguidos de busca por melhor qualidade de rede e cancelamento de contrato”.
Segundo Vera, para atender ainda mais brasileiros, oferecendo mais opções de planos de saúde, a FenaSaúde defende que seja realizada uma atualização criteriosa do marco legal da saúde suplementar no país. Entre as mudanças necessárias estão maior segmentação, novos modelos de franquias e coparticipação, e mais liberdade para a comercialização de planos individuais, com regras competitivas para precificação e reajuste. “O resultado seria mais concorrência e planos mais acessíveis, ampliando as possibilidades de acesso e manutenção da permanência do brasileiro na saúde suplementar, ajudando, assim, desafogar o SUS”.
Nicole Fraga
Revista Apólice