CQCS – Notícias | 30 de maio de 2023 | Fonte: Valor

O Valor, em um especial nesta terça-feira (30), divulgou uma série de matérias sobre seguros. Confira a matéria “O público do seguro de vida mudou e quer novidades“:

As seguradoras que atuam no segmento vida confiam que a mudança de mentalidade das pessoas, em razão da covid-19, traz boas perspectivas. Os executivos avaliam que o produto começa a ser valorizado como ferramenta de estabilidade financeira e, por isso, tem atraído a atenção de jovens e mulheres. Para fazer frente a essa nova demanda, os investimentos voltam-se para tecnologia, produtos customizáveis e ampliação de coberturas para novos perfis.

“O seguro de vida deve dar forte impulso para o crescimento de 10% previsto para todo o mercado no ano de 2023”, diz Helder Molina, presidente da MAG Seguros, que tem mais de seis milhões de clientes. Para ele, entre os brasileiros dos mais diferentes perfis, aumentou a percepção sobre a importância de contar com uma proteção que garanta tranquilidade financeira para diferentes momentos da vida.

A nova ótica imposta pela pandemia trouxe uma distinção relevante, frisa Bernardo Castello, diretor da Bradesco Vida e Previdência. “Diz respeito à mudança do conceito de proteção para o de prevenção, com coberturas que antecipam riscos dentro de um planejamento financeiro mais completo e consistente”, afirma o executivo da seguradora, que é líder em seguro de vida e acidentes pessoais com 14 milhões de clientes.

Ele lembra que quase um terço da população economicamente ativa trabalha atualmente por conta própria e que, para essas pessoas, em especial, o conceito de prevenção e planejamento financeiro, com a utilização das coberturas que podem ser usadas em vida, tende a se consolidar cada vez mais.

Depois de verem sair do caixa R$ 6,5 bilhões em 2020, para pagamento de indenizações a 170 mil apólices de seguro de vida, as seguradoras voltaram a ver números positivos em 2021 e 2022. Segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), os prêmios diretos do seguro para doenças graves/terminais, que proporcionam suporte para um tratamento médico emergencial, por exemplo, registraram alta de 23,66% e 18,95%, respectivamente. Nos mesmos períodos, o seguro de vida individual teve expansão de 30,08% e 23,09%. “Registramos nesses últimos dois anos um crescimento acelerado [da compra de seguro de vida], pois o brasileiro, com a pandemia, deu mais atenção a produtos de proteção da renda”, diz Ana Flavia Ribeiro Ferraz, presidente da Comissão de Produtos de Risco da FenaPrevi.

O seguro de vida individual foi destaque na recuperação do mercado em 2021, de acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). O volume de prêmios dos seguros de pessoas totalizou R$ 50,8 bilhões no período, alta de 12,4% comparado a 2020. O crescimento do segmento vida individual foi de 17,4% em 2021 e seguiu em alta ao longo de 2022. Na Bradesco Vida e Previdência, o crescimento alcançou 15,4% e 13,3% em 2021 e 2022, respectivamente. “Mas ainda há muito mais a fazer”, diz Castello.

Distante da realidade de economias desenvolvidas, como Estados Unidos e Japão, nas quais a grande maioria da população possui seguro de vida, a taxa no Brasil é de 17%, em um mercado que conta com 97 empresas atuando no ramo pessoas individual e/ou coletivo, segundo dados da Susep. Levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que compara o volume de prêmios de seguros de vida em percentual do PIB de 55 países, mostra o Brasil na 43ª posição, com 0,6% do PIB – bem abaixo da média dos países da OCDE, que é de 5,2% do PIB.

Expandir a clientela nacional exige encarar vários desafios. Um dos principais é a questão cultural. “Grande parte da população brasileira ainda não tem o hábito de contratar seguros, incluindo o de vida. Isso se deve, em parte, à falta de educação financeira”, afirma David Beatham, diretor-executivo de automóvel, massificados e vida da Allianz Seguros. Especialistas também apontam a renda insuficiente da maioria da população e a concorrência de uma ampla gama de produtos financeiros, como investimentos em renda fixa e variável, previdência privada e outros tipos de seguro.

Para Beatham, um fator central negativo é a comunicação. “Para algumas pessoas, o seguro de vida pode ser um produto complexo por possuir várias opções de cobertura, dificultando, algumas vezes, a compreensão e a adesão dos consumidores.” A tese é compartilhada por Molina da MAG. “Acredito que, nos próximos meses, veremos uma importante transformação: a evolução da comunicação no mercado de seguros”, diz.

Uma característica da comunicação do mercado segurador é o emprego de termos técnicos, de compreensão apenas pelos que estão inseridos neste ambiente. Molina atribui o fato à atitude das seguradoras de adotar linguagens específicas e formais que não acompanharam a evolução do cotidiano e o crescimento do mercado segurador. “Com o incremento da compra de seguros de vida no decorrer dos últimos anos, é preciso democratizar a linguagem utilizando sinônimos ou descrevendo estes termos para facilitar a compreensão por parte do consumidor”, afirma.

Na empresa, a participação dos contratados de 18 a 34 anos cresce ano a ano, e os números ratificam a tendência: no fim de 2022, representavam 33,2% dos clientes da carteira. Os de 18 a 24 anos eram 9%. No ano passado, na comparação com 2021, o segmento vida individual registrou crescimento de 38%.

A presença das mulheres também se destaca. “A curva mudou, a partir de 2020. Por uma possível sensibilização pela pandemia, houve crescimento de 18 pontos percentuais na comparação com 2018. Hoje, elas representam 51% da carteira na faixa etária de 18 a 24 anos”, diz Bastos.

Ampliar a cobertura para perfis antes esquecidos é outra tendência que se consolida. A Prudential, que oferece apólices coletivas focadas em públicos de maior risco, como policiais militares, metalúrgicos e transportadoras, inovou ao lançar um produto para crianças e adolescentes. “Sempre avaliamos novas oportunidades de subscrever este tipo de risco em parcerias com corretores do mercado. O público infantil ainda não era atendido e nos tornamos pioneiros no mercado com o primeiro seguro de doenças graves para crianças e adolescentes de 2 a 13 anos”, diz Carlos Cortez, vice-presidente de marketing, produto e digital da Prudential, que tem 3,3 milhões de segurados.

Cortez destaca ainda os seguros para serem utilizados em vida, como o de cirurgias e quebra de ossos. Outro exemplo é a cobertura para até 25 doenças e procedimentos. Esse produto prevê 50% adicional ao capital segurado para mulheres que tenham câncer de mama diagnosticado em estágio avançado e para homens com câncer de próstata na mesma situação. Uma parceria com o Mercado Pago permitiu que a Prudential oferecesse planos de seguros mais econômicos e sem restrição profissional, incluindo trabalhadores autônomos ou temporários e profissionais de risco, como motoboys. Para segurados de idade mais avançada, a companhia tem apólices coletivas que atendem associações de aposentados.

Investimentos cada vez mais vultosos em tecnologia são outra forte tendência do segmento, tanto para melhorar a experiência do cliente como para agilizar os processos e detectar novas demandas. “Em 2023, a Icatu está investindo mais de R$ 400 milhões nessa frente de inovação, tecnologia, transformação e experiência digital”, diz Bastos. Nos últimos cinco anos, o aporte da Icatu em inovação ultrapassou R$ 1 bilhão. “Entendemos que inovação é um processo contínuo, a partir do dia a dia e das necessidades e individualidades de cada cliente”, diz. Por isso, precisa ser guiada para a resolução de um problema real, que pode, inclusive, ocorrer em qualquer etapa da jornada ao longo do relacionamento com a seguradora. É o caso de uma solução para o caso em que o cliente tem seu cartão de crédito expirado e não tenha percebido. “Nós cuidamos que seu pagamento continue sendo realizado, sem que ele precise fazer nada. É uma facilidade para o cliente que parte de um problema cotidiano e, a partir de uma inovação, a gente gera uma solução. O resultado é uma excelente experiência de contato com a marca.”

Alcançar a meta de cinco milhões de vidas protegidas em 2025 vai exigir da Prudential uma estratégia arrojada em tecnologia. “Uma de nossas prioridades é acelerar a cultura centrada no cliente e liderar iniciativas que visem aprimorar a experiência dos nossos segurados, franqueados e parceiros. Seguiremos investindo forte em inovação, novos produtos e serviços”, afirma Cortez. Nos próximos cinco anos, a empresa investirá cerca de R$ 1 bilhão em tecnologia, além de diversificar e fortalecer os canais de distribuição e expandir a rede de franquias no país.

Algumas das possibilidades trazidas pela automação incluem a integração com tecnologias wearable (vestíveis), como relógios inteligentes e pulseiras fitness. Esses itens podem ser integrados ao seguro para monitorar a saúde dos segurados em tempo real. Na prática, pode ajudar as seguradoras a ajustar os prêmios com base em dados mais precisos e incentivar hábitos saudáveis entre os segurados.

“Essas informações específicas, potencializadas pelo uso da inteligência artificial, viabilizam a personalização de coberturas, o que pode tornar o seguro mais acessível e atraente para grupos que antes eram considerados de alto risco”, diz Beatham, da Allianz. Outro ganho seria a digitalização de processos com plataformas de autoatendimento, para facilitar a contratação e gestão do produto.

Segundo Castello, da Bradesco Vida e Previdência, outras tendências de curto prazo incluem a hiperpersonalização, que atribui às seguradoras a missão de orientar os clientes sobre o seguro ideal para cada momento de vida. As soluções personalizadas também devem avançar, bem como o seguro integrado, que se adquire no ato da compra de determinado produto ou serviço, como o seguro-viagem na aquisição de uma passagem aérea, e o pay-per-use, que contempla as coberturas temporárias, em sintonia com os conceitos de conveniência e customização.