CQCS – Notícias | 30 de maio de 2023 | Fonte: Valor Econômico

O Valor, em um especial nesta terça-feira (30), divulgou uma série de matérias sobre seguros. Confira a matéria “Preço pode ser motivo para expansão da carteira do Seguro Auto“:

As seguradoras de automóveis trabalham com a expectativa de uma expansão na casa de 20% na arrecadação de prêmios em 2023. A evolução, se confirmada, estará mais relacionada ao aumento dos valores das apólices do que a uma ampliação significativa de itens segurados e da carteira de clientes. Já foi assim em 2022, quando a arrecadação do ramo de automóveis cresceu 32,8% proporcionando um faturamento de R$ 51,06 bilhões.

A evolução da base de itens segurados está diretamente relacionada à venda de veículos novos, que está estagnada. Em 2022, foram emplacados 1,95 milhão de automóveis e comerciais leves no país, o que representou retração de 0,85% ante o ano anterior. A projeção da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), divulgada em abril, é de crescimento zero neste ano.

Já as vendas de motos aumentaram 17,7% em 2022, e a expectativa é ampliar em mais 9% neste ano. É o item que mais cresce na carteira das seguradoras. “Na última atualização de dados, referente a junho do ano passado, 1,2 milhão de motos representavam 6% da frota segurada. Deve chegar a 7,5% ou 8% da frota neste ano”, diz Marcelo Sebastião, Presidente da Comissão de Automóvel da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

A inflação dos seguros em 2022 foi de 20,8%, de acordo com o Índice de Preços do Seguro Automóvel (IPSA), calculado pela insurtech TEx. Em março de 2023, o acumulado em 12 meses já havia recuado para 13,8%. Vários fatores geraram a pressão inflacionária no ano passado, mas agora perdem ímpeto. O preço médio do carro zero subiu 7,7% em 2022 e acumulou aumentos de 90% desde 2018, segundo a consultoria Jato Dynamics. A queda nas vendas, no entanto, fez as montadoras lançarem mão de descontos e promoções em 2023.

Os sinais são de normalização na cadeia global de abastecimento de autopeças, que impactou a produção automotiva em 2022. O encarecimento de produtos novos levou a uma valorização dos carros usados, acima de 20%, cujos preços agora começam a voltar ao normal. O valor dos seguros também foi impactado pelo aumento na sinistralidade. “O desabastecimento de peças levou a um aumento de roubos e furtos de veículos levados a desmanches, aumentou o risco e impactou o preço do seguro”, diz Sebastião.

Há ainda um terceiro fator para o aumento nos preços dos seguros. No auge da pandemia de covid-19, a redução na circulação de veículos levou a uma queda no risco e no preço dos seguros. “A circulação de veículos voltou à normalidade e com ela os riscos de colisões, roubos e furtos e o retorno dos preços dos seguros aos patamares anteriores à epidemia”, afirma Sebastião.

No Brasil, apenas 18% da frota total de veículos e 30% dos automóveis possuem seguros. Uma expectativa do setor é aumentar esse percentual com a oferta de produtos econômicos, uma possibilidade que surgiu em setembro de 2021 após a Superintendência de Seguros Privados (Susep) publicar a Circular 639, flexibilizando as regras de contratação dos seguros automotivos, com a possibilidade de oferta de produtos abrangendo diferentes coberturas e situações de riscos dos veículos e dos condutores.

O cliente passou a poder contratar apenas a cobertura de seu maior interesse, como a responsabilidade civil em caso de danos a terceiros ou apenas a proteção a colisões ou a roubos e furtos. Desde então, várias seguradoras estruturam produtos com esse perfil, que estão chegando ao mercado.

Na Bradesco Seguros, o produto econômico Auto Light foi lançado logo após a flexibilização da Susep e reformulado em 2022. A opção apresenta preço 30% mais barato que o seguro tradicional e permite parcelamento em até 11 vezes sem juros, além de aceitar carros com até 20 anos de uso. “É um dos principais impulsionadores de novos contratos”, diz Ney Dias, diretor-presidente da Bradesco Auto/RE.

No fim de 2022, a carteira total da seguradora alcançou R$ 6,4 bilhões em prêmios, alta de 40% sobre o ano anterior. No primeiro trimestre de 2023, a expansão foi de 30%. O Auto Light cresceu 9% no período em relação ao primeiro trimestre de 2022. Outro produto com resultado expressivo nos três primeiros meses do ano foi o seguro frota, com expansão de 47% na comparação anual. Em dezembro, a seguradora o reformulou e passou a oferecer serviços customizados opcionais para cada veículo da frota, como carro reserva, assistência 24 horas e vidros blindados.

A Bradesco Seguros também aposta na transformação digital de seu relacionamento com corretoras, oficinas e segurados, com o auxílio de web robots e inteligência artificial (IA). Em outubro do ano passado, a companhia implementou em Brasília e em Santa Catarina um projeto-piloto de uso de um sistema de inteligência artificial para suporte na análise de danos e detecção de perda total de automóveis. “É um sistema que pode até dispensar a necessidade de vistoria presencial. Reduz o tempo necessário para a liberação de reparos ou a liberação da indenização integral”, afirma Dias.

Em março, o sistema de IA foi estendido para toda a rede de oficinas referenciadas da seguradora no país. A expectativa é reduzir em até 10% o tempo de devolução do veículo ao segurado, a partir do acionamento do sinistro. Até o fim do ano, a companhia pretende utilizar o sistema de IA e robots para a análise da dinâmica dos sinistros e a avaliação de culpabilidade.

A Tokio Marine fechou 2022 com um crescimento de 61%, somando R$ 6,4 bilhões em prêmios gerados em 2,6 milhões de veículos segurados. “Tivemos um incremento de 500 mil veículos na nossa carteira entre 2020 e 2022”, diz Arnaldo Bechara, diretor de automóvel e massificados da seguradora.

Uma frente de expansão é decorrente da atuação no segmento de produtos econômicos. No início de 2022, a empresa lançou o Auto Econômico, que oferece cobertura para colisão, incêndio, roubo e furto, mas com reparos apenas em oficinas referenciadas e as peças novas são as chamadas compatíveis, ou seja, não são as originais. O pacote permite um preço 30% mais barato do que a apólice tradicional. “Em 12 meses, tivemos mais de R$ 30 milhões em vendas”, diz Bechara.

A expectativa na Tokio Marine é alcançar um faturamento de R$ 7 bilhões na carteira de automóveis até o fim do ano. “Vamos intensificar nossa atuação em segmentos como o de motos e caminhões, mercados promissores”, afirma Bechara. A carteira de caminhões da seguradora é de R$ 500 milhões. A estratégia é diversificar a oferta de apólices com diferentes opções de franquias, que envolvem casco, carroceria, vidros, incluindo faróis, lanternas e retrovisores, garantia de perda de faturamento e opções de quilometragem para reboque.

No segmento de motos, uma carteira de R$ 150 milhões em 2022, a seguradora passou a disponibilizar em novembro um sistema de contratação 100% digital, que já era oferecida para automóveis, na qual o cliente pode personalizar a apólice, escolhendo opções de cobertura em que podem constar cobertura contra colisão, incêndio, roubo e furto, danos a terceiros e os serviços de assistência que o contratante eleger como prioritários. “A ideia é oferecer produtos que se adéquem ao bolso e à necessidade do cliente.”

O segmento de motos também entrou no foco da Santander Auto. “Atualmente, representa 25% de nossas vendas novas. Muitos dos clientes nunca tinham feito seguros antes”, diz o CEO Denis Ferro. Agora em 2023, a seguradora prepara o lançamento de coberturas complementares para motos, como a cobertura, em caso de sinistro, de despesas com capacetes, luvas, botas, jaquetas e outras vestimentas.

No total, a Santander Auto fechou o ano de 2022 com 130 mil clientes, um aumento de 45% em relação ao ano anterior. Nos primeiros quatro meses de 2023, foram vendidas 50 mil novas apólices, alta de 50% em comparação aos quatro primeiros meses de 2022. “Nosso objetivo é crescer acima de 35% no ano”, diz Ferro. “Temos produtos para todos os perfis de clientes, mas, diante da conjuntura atual, nossos produtos mais econômicos vão ter uma participação maior nas contratações.”

A seguradora Allianz encerrou 2022 com um crescimento de 19,7%, com R$ 6,3 bilhões em prêmios emitidos no segmento automóveis. No primeiro trimestre de 2023, a expansão foi de 10% em relação ao ano anterior. “Nossas expectativas são positivas para o ano. Os preços dos veículos novos e seminovos estão se estabilizando e a produção e comercialização de veículos, aos poucos, vai retomar o equilíbrio”, diz David Beatham, diretor- executivo de automóvel, massificação e vida da Allianz Seguros.

Segundo ele, a seguradora está aprimorando suas coberturas e assistências e a estruturação de estratégias para nichos específicos, como o de veículos elétricos, motos e caminhões, segmento no qual a companhia passou a oferecer apólices para veículos de até R$ 1 milhão. No segmento econômico, a empresa passou a disponibilizar produtos exclusivos para Responsabilidade Civil Facultativa, sem contratação do seguro do casco. “É uma forma de o segurado se resguardar financeiramente em caso de danos a terceiros”, diz.

A Mapfre conta com uma carteira com cerca de 1,35 milhão de veículos segurados, entre carros de passeio, utilitários, caminhões e motos. De acordo com Luiz Padial, diretor de automóvel da seguradora, a meta é crescer 15% em 2023. “Estamos adotando uma nova estratégia que se concentra em investir em tecnologia, melhorar a eficiência operacional para aprimorar a comercialização de novos produtos e focar na melhoria da experiência dos corretores e clientes.”

Uma negociação de impacto no mercado de seguros foi a aquisição pela HDI da carteira de clientes de produtos de varejo da Sompo no Brasil em junho. No segmento automotivo, de acordo com informações do mercado, o negócio gerou para a HDI a inclusão de R$ 1 bilhão em prêmios e a carteira de clientes da seguradora passaria de 1,7 milhão para 2,3 milhões de contratos, com um reforço importante da presença da companhia em São Paulo, origem de 50% dos clientes da Sompo.

Em 2022, a HDI registrou um crescimento de 18,4% em sua emissão de prêmios e, no primeiro trimestre de 2023, o avanço foi de 35,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados ainda não incorporaram os negócios com a base de clientes da Sompo. “Nossa expectativa em 2023 é de um crescimento orgânico acima da média do mercado, por meio da evolução contínua de nosso portfólio de produtos”, diz Rafael Ramalho, vice-presidente de automóvel da HDI Seguros.

Entre as prioridades da seguradora em 2023 está a reformulação do Frota Leve, produto voltado para pequenas e médias empresas com até quatro carros de passeio ou picapes, que agora aceitará até 15 veículos segurados. A empresa também pretende expandir seu posicionamento nos segmentos de veículos híbridos e elétricos.

A seguradora planeja ainda reforçar sua presença no segmento econômico, com o produto Auto Básico HDI, lançado no fim de 2021. “É um seguro completo, mas flexível, que pode ser até 25% mais barato que o seguro tradicional”, afirma Ramalho. O seguro é voltado para carros de passeio e picapes leves com valor de até R$ 80 mil. A cobertura pode abranger, de acordo com a demanda do cliente, colisões, roubo e furto, proteção de acessórios e vidros, assistência e até carro reserva. A principal diferença do tradicional são o uso de peças compatíveis, e não as originais, nos reparos e a exclusividade de atendimento na rede referenciada de oficinas da companhia.

Uma boa notícia para o bolso dos proprietários de automóveis em 2023 é que mais uma vez não será necessário o recolhimento do seguro obrigatório DPVAT. A cobrança ocorria junto com o pagamento do Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

Em 2020, a Susep concluiu que os recursos acumulados no Fundo do Seguro DPVAT eram muito superiores aos gastos com indenizações e determinou a suspensão temporária da cobrança até um reequilíbrio das contas. Também determinou que a gestão do fundo migrasse da Seguradora Líder para a Caixa Econômica Federal.

Em 2023, a Susep estima gastos com as indenizações do seguro obrigatório entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,5 bilhão, valor que ainda não será suficiente para zerar o fundo de recursos do DPVAT. A análise sobre uma eventual volta do recolhimento só ocorrerá no fim do ano.