Revista Cobertura – Por 39 visualizações 04/08/2023 as 09:00 – Carol Rodrigues
Players de seguros buscam atender aos segmentos de Logística e Agronegócio com ferramentas que contribuam para o escoamento da produção agrícola, com estratégias para minimizar perdas e mitigar os riscos
O agronegócio tem um papel estratégico na economia brasileira e um peso importante na balança comercial. Embora o agro gere uma demanda importante no seguro de Transportes, não se tem dados estatísticos do mercado que mensure o quanto o setor representa para a carteira.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o volume da produção brasileira de grãos deverá atingir 317,6 milhões de toneladas na safra 2022/2023, um crescimento de 16,5% ou 44,9 milhões de toneladas acima da safra 2021/22.
“A demanda pelo serviço de frete é tamanha que algumas gigantes do agronegócio estabeleceram parcerias amplamente divulgadas no mercado para a compra de caminhões e até para a criação de empresas logísticas para viabilizar o transporte de produtos do agronegócio. Isso demonstra que há uma perspectiva bastante relevante de crescimento na contratação de seguro de Transporte por esse segmento da economia”, analisa Adriano Yonamine, diretor de Transporte e Auto Frota da Sompo Seguros.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o crescimento do segmento de transportes foi de 23,7% em março deste ano, quando comparado com janeiro, principalmente por conta da safra e colheita de soja e milho. “Por isso, entendemos que, atualmente, o agronegócio é um dos grandes propulsores destes seguros. Sem ele, o setor não estaria crescendo – de acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o aumento de 23,7% coincide com o período de colheita de soja e milho de primeira safra. No primeiro trimestre de 2023, inclusive, o agronegócio foi o principal responsável pelo crescimento desse segmento”, pontua Marcos Siqueira, diretor de Transportes da Liberty Seguros.
Forte demanda
A Aon possui grandes clientes embarcadores e transportadores do agronegócio. “O seguro de Transportes é uma necessidade desses dois públicos pela quantidade de operações que envolve o modal logístico. Nos últimos 24 meses, essa indústria teve uma movimentação de carga expressiva”, destaca Ricardo Guirao, diretor de Transportes & Marine da Aon no Brasil, ao falar do agronegócio como um todo, comodities e pecuária.
“As cargas de agrobusiness representam algo em torno de 20% do volume de cargas transportadas com a Aon. É um volume bastante expressivo no segmento de alimentos que é muito relevante”, destaca.
“A Alper tem foco no setor de Agronegócios e, recentemente, fizemos aquisição da Agis, que é uma corretora especializada no segmento de Transportes, com foco em Agro, que possui em sua carteira mais de R$ 60 milhões em prêmios de seguros relativos ao setor do Agro. Com a expertise da Agis vamos conseguir oferecer aos nossos clientes serviços diferenciados e atendimento personalizado para o Agro”, conta Denis Teixeira, vice-presidente de Transportes da Alper Cargo.
“Há uma forte demanda, sobretudo para as mercadorias e bens (grãos, fertilizantes/defensivos, matéria-prima, sementes implementos/máquinas/ equipamentos agrícolas etc.) transportados pelos transportadores (seguro de RCTRC e RCDC), mas também por parte dos embarcadores (seguro de transportes nacionais e internacionais)”, comenta Valdo Alves, diretor de Transporte da Tokio Marine.
Siqueira observa um maior fluxo de transporte na frente de grãos, que gira entre 80% e 85% do total de cargas movimentadas. “O restante desse volume fica por conta dos fertilizantes mesmo, área em que a Liberty é mais atuante. Por se tratar de um produto de fácil repasse, ele é muito visado para roubos e, por isso, é fundamental que se tenha um bom plano de gerenciamento de risco, com coberturas para roubo, desvio de carga e apropriação indébita”.
Yanomine cita, entre os produtos com volumes mais expressivos de movimentação de carga, a soja, o milho e os adubos e fertilizantes. “Uma parcela relevante da safra nacional de soja e milho, por exemplo, é produzida em regiões distantes tanto dos portos utilizados para exportação quanto de parte da cadeia produtiva de beneficiamento no mercado interno. Por isso, a demanda por fretes e seguro de Transporte aumenta após o período de colheita”.
O diretor da Sompo ainda aponta que outro ponto relevante é que o Brasil é um importante produtor e exportador de carne. “A estimativa da Conab é a de que devemos alcançar, em 2023, um crescimento de 4% e 29,6 mil toneladas de produção total, se somarmos avicultura de corte, bovinos e suínos. Desse total, cerca de 8,9 mil toneladas devem ser destinados à exportação e 20,7 mil toneladas ao mercado interno. Esses produtos vão para diferentes localidades do globo, a exemplo de China, países árabes, Estados Unidos, países europeus, Rússia, entre outros. Isso tudo exige uma estratégia logística importante, sem a qual o seguro de Transporte não pode ficar de fora”, explica.
Em agro, fala-se muito do modal rodoviário, que representa quase 70%, mas também há operações de cabotagem e aquaviárias bastante relevantes de concentração de cargas. “Infelizmente, temos uma escassez de investimentos nos modais ferroviários e aquaviários. Há dois anos tivemos o marco regulatório da cabotagem, que pode incentivar um pouco o segmento a promover mais empresas para fazer o transporte de cargas através da nossa costa, mas ainda está bastante limitado a algumas regiões específicas, como o Norte, mais ligado a Manaus e Pará, e a descida aqui para o Sul”, expõe Guirao.
Os riscos
O diretor da Liberty destaca que os primeiros grandes riscos são os desvios, os roubos e as apropriações indevidas de cargas. “O alto volume de acidentes também merece destaque porque, nos momentos de alta safra, diversos caminhões transitam por muitas horas seguidas e não param para fazer manutenções básicas. Dessa forma, o risco de o veículo apresentar problemas aumenta consideravelmente. As grandes filas no escoamento dos portos também podem elevar os riscos de roubos de cargas, além das possibilidades de mercadorias estragarem por conta do longo tempo de espera”, expõe.
“Temos visto em grãos, sojas e comodities em geral, um aumento de sinistros de apropriação indébita porque as empresas de agro utilizam plataformas logísticas para captar os seus transportadores autônomos. Em paralelo a isso, o volume de acidentes é bastante relevante”, acrescenta Guirao.
Em casos de acidentes, ainda há a questão dos saques, os quais Guirao diz que é uma realidade cultural do Brasil. “O motorista e até a própria polícia não consegue conter os saques. Com isso, um produto que não tinha nenhum dano é objeto da cobertura de seguros porque saque faz parte da cobertura quando é decorrente de um acidente”.
Em termos de fertilizantes, especificamente, é um pouco diferente. “Isso porque as grandes indústrias químicas, que fabricam esses produtos, têm um controle maior de suas frotas, diferentemente do produtor rural, que costuma contratar o transporte via cooperativas. Por conta desses fatores, é indispensável que se tenha um bom plano de gerenciamento de risco e, sempre que possível, motoristas de frotas próprias ou agregados, porque, hoje, infelizmente, o agronegócio é um mercado que engloba produtos que ainda podem causar prejuízo para os seguros de Transportes”, explica Siqueira.
Já em pecuária, há a especificidade de variação de temperatura e outros tipos de riscos que são abrangidos dentro da características dessas indústrias. “Nos últimos anos, temos visto as empresas do segmento investindo muito em tecnologia para evitar esse tipo de dano no transporte rodoviário para que as cargas não sofram nenhum tipo de variação de temperatura e existir uma condenação da carga no momento da transferência, seja pela Anvisa ou pelo próprio comprador por ela estar fora dos padrões de compra e venda”, diz Guirao.
O gerenciamento de risco
Considerando que grande parte dos embarques são efetuados por autônomos e a maioria destes veículos não possuem equipamento de rastreamento, o gerenciamento de risco passa a ter uma importância muito maior.
“Vale considerar que o risco de acidentes, abalroamento e derramamento de carga é algo que vem ganhando uma proporcionalidade maior nos índices de sinistros de seguro de Transporte nos anos recentes. No embarque de grãos, os acidentes sempre foram os maiores ofensores, mas o desaparecimento de cargas tem aumentado significativamente nos últimos dois anos e hoje já representa 40% dos prejuízos. Para mitigar o risco do desaparecimento de cargas e, principalmente, dos desvios, a seleção criteriosa de motoristas é fundamental. Ter referências do profissional contratado para o transporte e se certificar de que, de fato, o motorista é quem diz ser, ajuda na mitigação deste risco”, expõe Yanomine.
Vale destacar que muitas vias utilizadas, em grande parte, não são pavimentadas ou estão em más-condições de conservação. “Como estamos tratando de produtos alimentícios, as condições da carroceria e o eventual contato com claridade ou umidade podem influenciar na proliferação de microorganismos e comprometer a qualidade da carga, dependendo da categoria do produto transportado. Ao observar todos esses quesitos, mitigamos riscos importantes à carga e a vida das pessoas, ao mesmo tempo em que contribuímos para que os produtos do agronegócio brasileiro sejam transportados com segurança e que mantenham a qualidade desde o embarque até chegar à mesa do consumidor final”, acrescenta o diretor da Sompo.
As especificidades também integram o gerenciamento de riscos dessas cargas. Aldo Alves cita como exemplo o transporte de grãos em períodos de safra, que exige grande quantidade de veículos.
“Há transportadores específicos para defensivos, grãos e também tem surgido a modalidade de transportadoras digitais. Essa modalidade tem ajudado o segmento de agronegócio a otimizar o custo e o tempo entre o transporte. Isso evita com que tenhamos filas ou gargalos, como tínhamos antes, pela escassez de motoristas ou transportadores”, explica Guirao.
Segundo Nilton Costa Jr., head de Telemática e Rastreamento da Delta Global, dentro do agronegócio, principalmente em operações de carga a granel, onde existe o risco de furto parcial da carga, é importante um acompanhamento em tempo real de toda movimentação, controlando cada parada monitorando a duração e as atividades.
“Outra aplicação interessante no agronegócio é o monitoramento de máquinas agrícolas, com alertas de movimentação mesmo quando a máquina estiver desligada. Desse jeito, podemos monitorar caso uma máquina seja furtada e carregada em um outro caminhão. Podemos ainda adicionar um rastreador portátil oculto na máquina, que vai ajudar na busca e recuperação da mesma. O mais importante é entender cada operação, cada cliente. Nosso papel aqui é ouvir a dor de cada um e adaptar nossa ferramenta para melhor atender cada necessidade”, ressalta.
O diretor da Sompo acrescenta que, além dos dispositivos de segurança normalmente instalados nos caminhões, recursos como acompanhamento de carga e descarga, monitoramento via satélite, estabelecimento de uma rota estratégica das vias mais seguras e com melhores condições para trafegar são alguns dos recursos que podem ser implementados por uma equipe de gerenciamento de risco que tenha conhecimento do ramo de atividade do segurado e da região pela qual a carga deverá circular.
Outro ponto importante é a lei 14.599, aprovada em junho de 2023 que permite a inserção de um plano de gerenciamento de risco em seguros para acidentes. “Isso é uma grande vitória para o setor, pois muitos contratantes optavam antes apenas pelo seguro e, agora, com a nova lei, conseguimos inserir o planejamento neste tipo de serviço”, diz o diretor da Liberty.
De acordo com Teixeira, a grande questão no seguro de Transportes para o Agro está no controle de resultado (sinistralidade elevada para as seguradoras), o gerenciamento de risco se torna, cada vez mais, um aliado importantíssimo para controle das perdas. “Mas, ainda existem muitos desafios a serem superados na gestão da cadeia, no entanto, vale ressaltar que o resultado neste último ano melhorou significativamente, muito por conta do uso intensivo da tecnologia”.
Os desafios
“Todos os produtos possuem as suas peculiaridades e desafios, no Agro, considerando as características do setor, grande parte dos produtos são transportados por autônomos e, portanto, existe o desafio de aplicar/utilizar metodologia para gerenciar risco de roubo”, observa o VP de Transportes da Alper Cargo.
Também há empresas embarcadoras montando transportadoras. “Isso ajuda bastante na logística como um todo, mas é tudo muito novo”, diz Guirao, da Aon. “A ideia é, aos poucos, expandir o tipo de cobertura de modo que consigamos dar uma garantia no transporte como um todo, mas a Aon tem se preocupado em estender a cobertura para armazéns, operações de cross-docking para que as empresas do segmento tenham um produto ainda melhor. Há seguradoras resistentes em ampliar as coberturas, mas tem sido uma demanda e pode ser uma tendência do mercado a necessidade de termos mais coberturas cobrindo toda a cadeia, desde a entrega até o destino final da determinada carga”, expõe Guirao.
Na visão de Teixeira, o mercado tem evoluído bastante, mas existem muitos desafios. “Partindo de seguradoras que precisam investir mais em tecnologia e atendimento aos clientes, passando por corretores que precisam se especializar mais e buscar fazer venda consultiva, oferecendo apoio ao cliente para que os investimentos em gerenciamento de risco sejam feitos na direção correta. Além disso, é necessário um amadurecimento do consumidor sobre o papel do seguro e a necessidade de gerir melhor a operação”.
Ele ainda ressalta que o fator regulatório é o ponto que mais está em discussão. “Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei 14.599/23, que muda consideravelmente a dinâmica de contratação do seguro entre o Embarcador e Transportador e, considerando que a Susep ainda não se manifestou regulamentando o mercado, as seguradoras estão com entendimentos diferentes sobre a aplicação da lei, e isso tem gerado muitas discussões para melhor direcionamento do mercado”, diz o VP da Alper Cargo.
Para Yonamine, a falta de investimento em infraestrutura logística e a má-condição das estradas estão entre os fatores que mais oneram o transporte de carga e que contribuem para aumentar a probabilidade de sinistros. “Um modelo que vem se expandindo é o de condomínios de armazéns rurais, que diminui o déficit nacional por silos e espaços para armazenagem ao mesmo tempo que reduz o trajeto a ser percorrido. Além disso, é necessário investir em tecnologias que contribuam com a eficiência da gestão, modernização de processos, acompanhamento das operações ponta a ponta”.
Na visão do diretor da Liberty, o principal desafio do setor de agronegócio hoje é ter motoristas de frotas próprias ou agregados, porque o mercado hoje é dominado por motoristas terceirizados, o que diminui a possibilidade de controle do transporte por parte dos produtores. “Outro desafio é ter uma taxa adequada para os tipos de incidentes em que as frotas estão suscetíveis e, ainda, oferecer a todos um bom plano de gerenciamento de risco. Além disso, a infraestrutura das rodovias é um ponto importante a ser destacado. Por exemplo, o maior fluxo de transporte de grãos está na região Centro-Oeste do Brasil, entretanto, as melhores rodovias estão no Sudeste. É necessário que haja um grande investimento do governo em rodovias de diversas regiões para que as viagens possam ser feitas da melhor maneira possível”.
Delta: A tecnologia na gestão do risco
Com o know-how de profissionais especializados, a Delta Global desenvolve um ecossistema de gestão de risco de última geração, que conta com um hardware robusto e moderno, com comunicação 4G e satelital em tempo real, integrado em uma plataforma intuitiva e dinâmica e ainda com um serviço dedicado de monitoramento ativo.
“A solução de Gestão de Risco da Delta vai monitorar todos os eventos do veículo e da carga e tomar ações automatizadas, além de alertar o gestor. Tudo em tempo real, garantindo uma maior chance de coibir ações criminosas. Com o serviço de monitoramento ativo, ainda oferecemos acompanhamento ao vivo da viagem, contato direto com o motorista e recomendações de segurança específicas para cada localização”, explica Nilton Costa Jr., head de Telemática e Rastreamento da Delta.
Segundo ele, além das características do equipamento (comunicação 4G, conectividade bluetooth e algoritmos de eventos de colisão e tombamento, capacidade de incluir infinitos sensores e atuadores, etc) e da plataforma (rápida, integrada, dinâmica e com vários níveis de automação), a Delta customiza a solução para cada projeto. “Não dependemos de terceiros para alterar o produto e atender a necessidade de cada cliente”, enfatiza sobre o fato de Delta ser uma empresa de desenvolvimento.
Ele diz que a prestação de serviço da Delta é composta por três pilares: rastreador inteligente, software e colaboradores com grande experiência no mercado com vivência no transporte e gerenciamento de risco.
“O rastreador inteligente é desenvolvido em casa, 100% nacional, com comunicação 4G e firmware configurável. Com ele, é possível sensoriar todo tipo de caminhão, acompanhar a rota em tempo real, permitir interação com o motorista através do tablet. Como ele possui um padrão de comunicação aberto, podemos literalmente incluir infinitos sensores e atuadores. Desde um sensor de abertura de porta do motorista até uma trava de baú, passando por bloqueadores de ignição, de combustível e muitos outros”, explica o head.
No quesito software, ele define a plataforma Delta Fleet como completa e moderna, dinâmica e intuitiva. “Nela, o acompanhamento em tempo real fica facilitado, principalmente pela grande gama de ferramentas disponíveis. É possível criar Geocercas virtuais em zonas de risco, por exemplo. Cada vez que o veículo entrar em uma destas zonas um conjunto de ações é tomado automaticamente pelo sistema”, exemplifica.
Conteúdo da edição de julho (255) da Revista Cobertura