Folha de São Paulo – 2.out.2023 às 9h29Atualizado: 2.out.2023 às 10h50

SÃO PAULO

A Bolsa brasileira abriu em queda e o dólar operava em alta no início das negociações desta segunda-feira (2), ainda sob temores do mercado sobre juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos. Os rendimentos dos títulos americanos começaram o dia subindo, o que impulsiona a divisa e tende a pressionar os ativos de risco globalmente.

“Com o mercado ainda em dúvida sobre quando se o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] terá de subir mais uma vez os juros, e em meio ao imbróglio da dívida do governo, os rendimentos [de títulos] de dez anos atingiram o maior nível desde 2007”, aponta a equipe da Guide Investimentos.

O mercado também acompanhou no fim de semana o risco de paralisação da máquina pública dos EUA. No sábado, o Congresso americano aprovou um projeto de lei para permitir o funcionamento do governo por 45 dias até que uma solução definitiva seja encontrada.

Na Europa, dados fracos sobre a produção industrial da zona do euro endossavam o tom pessimista, e as Bolsas da região operavam em queda.

Às 10h49, o Ibovespa caía 0,55%, aos 115.919 pontos, enquanto o subia 0,63%, cotado a R$ 5,058.

Desde que o Fed sinalizou que pode realizar um novo aumento de juros ainda neste ano, o dólar vem registrando alta em todo o mundo, na esteira da subida dos rendimentos de títulos americanos. Isso porque um maior retorno da renda fixa dos EUA tende a atrair recursos para o país, valorizando a divisa e, consequentemente, penalizando mercados emergentes e de maior risco.

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Agora, o mercado aguarda novos dados sobre a economia americana para calibrar as apostas sobre futuro da política de juros americana.

Na última sexta (29), o indicador de inflação mais acompanhado pelo Fed mostrou arrefecimento do núcleo, cálculo que exclui preços de energia e alimentos, que são mais voláteis. A aposta de aumento nos juros, porém, segue ditando o tom das negociações.

Nesta semana, estão previstos dados de indústria, serviços e mercado de trabalho nos EUA, com destaque para o relatório de abertura de vagas fora do setor agrícola, agendado para sexta-feira, que será acompanhado de perto pelo Fed.

“É uma semana bem movimentada, principalmente porque se refere à divulgação de dados nos Estados Unidos, e, querendo ou não, o que nos puxa para tentar traçar uma estratégia é se vai haver ou não um aumento de juros próximo ou mais para o final do ano”, disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

“Vamos aguardar os dados serem divulgados para a gente ter uma noção um pouco melhor de para onde vai esse dólar.”

Nesse cenário, os principais índices de Wall Street abriram em baixa, impactados pelo aumento dos rendimentos de títulos americanos, enquanto os investidores aguardavam comentários do presidente do Fed, Jerome Powell.

No Brasil, o boletim Focus, do Banco Central, mostrou que as projeções de inflação no país permaneceram praticamente inalteradas. Enquanto a estimativa para este ano foi mantida em 4,86%, a previsão para o fim de 2023 aumentou 0,01 ponto percentual desde a última semana, para 3,87%.

Pressionada pelo exterior e sem indicadores relevantes no mercado local, a Bolsa brasileira operava em leve queda pressionada principalmente pela Vale, que caía 0,51%. Natura e Azul, que estavam entre as mais negociadas da sessão, recuavam 2,74% e 1,31%, respectivamente, e também pesavam sobre o Ibovespa.