Folha de São Paulo – 25.set.2024 às 9h02Atualizado: 25.set.2024 às 10h52 – Leonardo VieceliRio de Janeiro

IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) surpreendeu analistas ao perder força e registrar inflação de 0,13% em setembro, segundo dados divulgados nesta quarta (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta ficou bem abaixo da mediana das expectativas do mercado financeiro, que era de 0,28%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das projeções ia de 0,18% a 0,33%.

A taxa de 0,13% é a menor para meses de setembro desde 2022, quando houve baixa (deflação) de 0,37%. O IPCA-15 havia mostrado avanço de 0,19% em agosto de 2024.

Com o resultado de setembro, o índice desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior.

Caixas armazenam alimentos em mercado de São Paulo
Mercado vende hortaliças em São Paulo; grupo alimentação e bebidas mostrou inflação de 0,05% em setembro, diz IPCA-15 – Pedro Affonso- 28.ago.24/Folhapress

Relatório do banco Itaú afirma que o IPCA-15 veio “com abertura bem melhor do que a esperada”.

“Parte da surpresa baixista pode ser atribuída a volatilidade de itens específicos, como cinema e seguro de veículos”, diz a análise, assinada pela economista Luciana Rabelo.

Conta de luz pressiona, alimentação tem leve alta

Dos 9 grupos de produtos e serviços do IPCA-15, 7 tiveram alta de preços em setembro. A maior variação e o principal impacto vieram de habitação (0,5% e 0,08 ponto percentual).

O segmento foi pressionado pela energia elétrica residencial, que passou de queda de 0,42% em agosto para alta de 0,84% em setembro.

A entrada em vigor da bandeira vermelha patamar 1 encareceu as contas de luz neste mês.

Outro destaque veio do grupo alimentação e bebidas, que registrou leve aumento de preços após dois meses de queda (0,05% e 0,01 ponto percentual).

A alimentação no domicílio, que integra esse ramo, teve variação de -0,01% em setembro. O dado mostra um recuo bem menos intenso do que o verificado no mês anterior (-1,3%).

O IBGE destacou as baixas na cebola (-21,88%), na batata-inglesa (-13,45%) e no tomate (-10,70%), enquanto mamão (30,02%), banana-prata (7,29%) e café moído (3,32%) ficaram mais caros.

A alimentação fora do domicílio, por sua vez, seguiu em alta em setembro (0,22%), mas em um ritmo menos intenso do que em agosto (0,49%),

Economistas dizem que a crise climática pode pressionar a inflação de parte dos alimentos e da energia elétrica nos próximos meses.

O país vive seca de proporções históricas e avanço de queimadas. O quadro desafia a produção agropecuária e a geração de eletricidade.

Gasolina alivia índice

O grupo de transportes mostrou redução de 0,08% no IPCA-15 de setembro, após alta de 0,83% em agosto. Assim, ajudou a aliviar o índice deste mês, com impacto de -0,02 ponto percentual.

O resultado de transportes foi influenciado pela gasolina, que teve baixa de 0,66%. O combustível é o principal subitem do IPCA-15.

O etanol (-1,22%) também recuou, enquanto o gás veicular (2,94%) e o óleo diesel (0,18%) apresentaram altas. As passagens aéreas registraram aumento de 4,51%.

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Para o economista André Perfeito, o resultado do IPCA-15 não pode ser interpretado como “perene”, já que o custo da energia deve subir mais com a bandeira vermelha e os alimentos tendem a sofrer com questões climáticas.

Apesar disso, Perfeito avalia que o índice deve trazer certo alívio para leituras mais pessimistas de inflação no curto prazo.

IPCA-15, IPCA e meta de inflação

Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

IPCA, também calculado pelo IBGE, é o índice oficial de inflação do Brasil. Serve como referência para o regime de metas perseguido pelo BC (Banco Central). O centro da meta de inflação é de 3% em 2024.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, o objetivo será cumprido pelo BC caso o IPCA fique no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) nos 12 meses até dezembro.

A expectativa do mercado financeiro é de variação de 4,37% para o índice oficial no acumulado do ano, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (23), antes do IPCA-15.

A estimativa segue abaixo do teto da meta (4,5%), mas vem em trajetória de alta nas últimas dez semanas. O BC já sinalizou preocupação com o avanço das previsões de inflação.

Em meio a esse cenário, o Copom (Comitê de Política Monetária) da instituição elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,5% para 10,75% ao ano, em reunião na semana passada.

O que é inflação?

Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços em uma economia. Esse fenômeno é observado a partir da variação média no valor de um determinado conjunto de mercadorias, chamado de cesta de consumo, e tem impacto no bolso dos consumidores.

O economista Igor Cadilhac, do PicPay, diz que a melhora da inflação corrente no IPCA-15 é bem-vinda, mas não deve modificar as preocupações do BC em relação a expectativas futuras.

“Olhando à frente, mantemos nossa projeção de 4,4% para 2024, mas, após a surpresa de setembro, o viés altista se converte para baixista”, afirma.

O IBGE coleta os preços do IPCA-15 entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Desta vez, a apuração ocorreu de 15 de agosto a 13 de setembro.

A coleta do IPCA, por sua vez, está concentrada no mês de referência do levantamento. Por isso, o resultado de setembro ainda não está fechado. Será divulgado em 9 de outubro.

Crise no IBGE

O IBGE vive crise interna que ficou explícita nos últimos dias. Servidores reclamam de uma suposta falta de diálogo com o presidente do instituto, o economista Marcio Pochmann, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O sindicato que representa os trabalhadores da casa agendou para esta quinta (26) um protesto contra o que chamou de “medidas autoritárias” de Pochmann. Ele rebateu as acusações.