Folha de São Paulo – 11.fev.2025 às 6h00Atualizado: 11.fev.2025 às 9h13 – Fábio Pescarini – Tulio Kruse – Bruno Lucca

São Paulo

Mudanças de hábitos impulsionados pela pandemia e a disparada no uso de carros por aplicativo diminuíram a quantidade de deslocamentos e fizeram o transporte individual superar o coletivo na região metropolitana de São Paulo.

É o que mostra a pesquisa Origem e Destino do Metrô, a OD, que será divulgada nesta terça-feira (11). Segundo o levantamento, 51,2% das viagens diárias na região foram feitas individualmente, o que inclui táxis (os pesquisadores incluíram veículos de aplicativo nessa modalidade) e motocicletas, por exemplo.

Na edição anterior da pesquisa, de 2017, a situação era a inversa: mais da metade (54,1%) usava modais coletivos, como ônibus, metrô e trem. Havia uma tendência de diminuição no uso do transporte público desde a década de 2000, mas a um ritmo muito mais lento do que o observado agora.

O auxiliar administrativo Cláudio Fonseca, que passou a dividir carro por aplicativo com colegas de trabalho
O auxiliar administrativo Cláudio Fonseca, que passou a dividir carro por aplicativo com colegas de trabalho – Rafaela Araújo/Folhapress

Maior estudo de mobilidade urbana do país, a pesquisa OD é realizada uma vez por década, sempre em anos com final 7. No entanto, o Metrô decidiu antecipar o levantamento por causa das mudanças de hábito a partir da pandemia.

Nesta edição, a pesquisa ouviu pessoas de 32 mil domicílios válidos (de um total de 100 mil procurados) dos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo.

“A pandemia catalisou mudanças nos deslocamentos. Coisas que iam demorar a acontecer vieram mais rápido”, diz Luiz Antonio Cortez, gerente de Planejamento e Meio Ambiente do Metrô.

A preferência pelo transporte individual não é inédita. Uma versão menor da pesquisa, realizada no período intermediário de cinco anos entre cada OD, mostrou a mesma inversão em 2002. Naquele ano, 52,3% relataram usar transporte individual, mas essa tendência mudou em 2007.

O Metrô optou por não fazer o estudo intermediário em 2022 para que os dados não fossem comprometidos pelos efeitos do distanciamento social. A pesquisa OD 2027 continua prevista.

A queda mais acentuada no uso do transporte público ocorreu apesar da expansão da rede metroferroviária e de aumento do gasto como sistema de ônibus. Entre 2017 e 2023, foram inaugurados 20 km de metrô na capital e 12 km de ferrovia com a conexão até o aeroporto de Guarulhos. O subsídio da prefeitura paulistana às empresas de ônibus subiu de R$ 2,9 bilhões, em 2017, para R$ 5,3 bilhões em 2023.

“Uma série de políticas públicas reverteram a tendência de aumento do uso do transporte particular visto em 2002. Não só a expansão da rede, mas o lançamento do Bilhete Único [em 2004], o aumento na qualidade das estações e das linhas da CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos]”, diz Cortez.

A pesquisa mostra que os moradores da região metropolitana estão se deslocando menos. Houve perda de 6,3 milhões de viagens diárias entre 2017 e 2023.

A queda ocorreu em quase todos os tipos de deslocamentos, mas o transporte coletivo foi o que mais perdeu usuários. Entre os dois períodos comparados foram 3 milhões de embarques a menos na Grande SP —desses, 2,6 milhões são passageiros que deixaram de usar ônibus.

Apesar da diminuição no uso do automóvel particular (quase 900 mil viagens), houve aumento no uso dos carros de aplicativo e do táxi convencional (137%) e das motocicletas (15%).

É o caso do auxiliar administrativo Cláudio Fonseca, que desistiu do transporte público paulistano. Morador do Butantã, na zona oeste de São Paulo, ele diz ter cansado de esperar para entrar em ônibus muito cheios e sujos em suas idas ao trabalho.

Para resolver o problema, juntou colegas para dividir dois carros por aplicativo diariamente. De manhã, rumo à empresa –com sedes na zona sul e na região central–, e ao fim da tarde, para casa. “Chego mais rápido, evito estresse e até economizo por rachar o valor”, afirma.

O salto entre mulheres que utilizam carros de aplicativo foi maior que entre homens, de quase 185% (passou de 249 mil para 705 mil). Elas representam aproximadamente 70% dos usuários, percentual que se manteve estável na comparação com 2017.

As mulheres, que no levantamento anterior representavam 7% dos condutores de motocicletas, em 2023 eram mais de 10,3%. As viagens de moto aumentaram sua participação nas viagens a trabalho, educação, compras e assuntos pessoais, e 50% das famílias entrevistadas tinham esse tipo de veículo em casa.

A participação do transporte individual no total dos meios motorizados cresceu em todas as faixas de renda familiar, chegando a representar 79,8% no total do modo motorizado na faixa de renda mais elevada (acima de R$ 15.840).

No caso do transporte coletivo, a queda —de quase 20%— ocorreu em todas as faixas de renda. O tempo médio de viagem com transporte coletivo caiu em todas elas, exceto no grupo que ganha de quatro a oito salários mínimos (R$ 5.280 a R$ 10.580).

Em contrapartida, o tempo médio de viagem por transporte individual aumentou para quase todo mundo. Entre quem ganha de R$ 10.580 a R$ 15.840, o deslocamento médio manteve-se em 27 minutos.

A distribuição horária das viagens ao longo do dia continua a apresentar três grandes períodos de concentração, entre 5h e 8h, em torno das 12h e entre 16h e 19h.

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As famílias que disseram não ter carro representam 43,9% do total em 2023, uma diminuição de 3,2 pontos percentuais em relação a 2017.

As viagens de automóvel como modo principal de deslocamento são as que apresentam o maior volume em 2023, 41,6% do total. No entanto, no período 2017-2023, elas diminuíram 7,8%.

A distribuição da frota de carros particulares por idade indica que 65% dos veículos têm mais de seis anos.

As viagens por meios motorizados diminuíram 11,1%, enquanto as não motorizadas caíram 23,3%. Porém, houve um aumento das feitas com bicicleta (25%) e a diminuição das a pé (24,7%).

Dos 35,7 milhões de viagens diárias reportadas, 18,9 milhões (46,2%) foram por motivo de trabalho, à frente da educação (36,2% do total).