Enquanto seguros aumentaram receita em 11,7% ante 2019, fundos de previdência captaram R$ 6,5 bilhões apenas em agosto.

O Estado de S. Paulo – 16 de Novembro de 2020

O Estadão informa que a pandemia de coronavírus impôs duras perdas ao faturamento de diversos setores da economia. Alguns serviços, porém, acabaram tendo ganhos com essa crise, que já provocou a morte de mais de 160 mil pessoas no País. Seguro de vida e previdência privada, por exemplo, aumentaram a base de usuários e a receita ao longo de 2020.

“A crise deixou claro para as pessoas a importância de se ter um seguro e pensar na longevidade. Esse movimento, associado ao trabalho de educação financeira que os corretores fazem para explicar os produtos, mostra que a retomada terá continuidade”, diz Vinicius Brandi, diretor da área de seguros da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Órgão regulador do setor, a Susep calcula que, de janeiro a setembro de 2020, os seguros contratados somaram R$ 14,6 bilhões em receitas. O montante é 11,7% superior ao do mesmo período de 2019.

Na previdência privada, o bom ritmo de recuperação veio após março, abril e maio, os meses mais críticos da crise. As contribuições em ativos de previdência somaram R$ 12,6 bilhões em agosto, crescimento de 9,5% ao registrado no mesmo mês de 2019, segundo dados da Fenaprevi. A captação líquida também fechou o mês no positivo, com R$ 6,5 bilhões, valor 21% maior em relação ao saldo do ano passado.

“Infelizmente aprendemos com a dor, mas agora os brasileiros estão mais dispostos a falar sobre seguro e previdência privada”, diz Jorge Pohlmann Nasser, presidente da Federação Nacional das Empresas da Previdência Aberta (Fenaprevi).

A Viva Previdência é uma das empresas a ver na prática este crescimento. Entre maio e outubro de 2020, a empresa atingiu a média de 120 novas adesões ao mês – alta de 800% se comparada às 15 adesões de abril, ápice da queda de vendas. Até março, a média era de 65 por mês.

“As pessoas criaram consciência de que precisam de uma previdência, mas, como é um investimento de longo prazo, preferem esperar para ter mais clareza se conseguem ter fôlego para contribuir com o plano todo mês”, diz Silas Devair, diretorpresidente da Viva.

Na visão de Armando Vergilio, presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor), a mudança no entendimento é favorecida pelo atual cenário econômico do País. “Antigamente, quem investia em um CDI ou na poupança conseguia um rendimento honesto. Com a taxa básica de juros em sua mínima histórica de 2% ao ano, perde-se dinheiro. A ficha caiu”, diz.

Alternativas. Dentro da previdência privada, existe uma série de fundos que são agrupados em três grandes categorias: renda fixa, ações e multimercado. O investimento, a partir de R$ 50 ao mês, costuma ser indicado para pessoas com pouca experiência no mercado financeiro, já que a aplicação é administrada por um profissional especializado que decide em quais ativos o montante será aplicado.

Apesar de a pandemia ter derrubado a rentabilidade dos brasileiros no primeiro semestre, a carteira de fundos previdenciários se recuperou da fase difícil e entrega rendimentos acima da média no acumulado de 12 meses. A Magnetis Investimentos mapeou quais aplicações entregaram

Diferentes funções Fundos de previdência privada funcionam como investimento de retorno de longo prazo. No caso do seguro de vida, o objetivo é proteger entes queridos contra imprevistos. rentabilidade superior a 15% no período (veja tabela na pág. B10).

O presidente da Fenaprevi reforça ainda que não se investe em previdência pensando no curto prazo, mas sim para um horizonte maior.

“Em uma carteira pensada para o longo prazo, é necessário separar uma parte para ativos de previdência. Ela auxilia com a disciplina e concorre com uma rentabilidade durante um período muito mais longo”, afirma Nasser. “É um dos poucos investimentos que suportam o comportamento de uma curva de taxas de juros (preço do dinheiro ao longo do tempo).”

Seguro é investimento? Muitas pessoas veem a contratação de seguro como uma forma de investir, mesmo o serviço sendo, na verdade, uma forma de indenização, não uma classe de investimentos.

“Se você compra um carro por R$ 100 mil, decide não fazer o seguro e acontece algum acidente ou roubo, você perderá toda a quantia investida. O seguro cobre possíveis prejuízos através do pagamento de um prêmio, que equivale a um custo representativo daquele determinado bem”, diz Sarai Molina, gestora da área educacional da Ágora Investimentos. “Se fosse investimento, você receberia esse dinheiro de volta.”

Contudo, ela enfatiza a necessidade de dedicar parte do orçamento para ativos de proteção. “Tudo é uma questão de fazer um planejamento para você e para a sua família, seja para manter o seu padrão de vida ou proteger entes queridos contra imprevistos”, diz Molina.