Inteligência artificial (IA) vem se tornando a principal ferramenta tecnológica do mercado.

Valor Econômico – 30 de Novembro de 2020.

Plataformas facilitam operações das seguradoras

Uma das áreas mais tradicionais e conservadoras do mercado financeiro, o segmento de seguros se rendeu às tecnologias disruptivas e a inteligência artificial (IA) vem se tornando a principal ferramenta dessa revolução, relata o Valor Econômico. Presente em 45 países, a Tokio Marine pretende investir R$ 120 milhões em 2021, para lançar seu primeiro laboratório de inovação digital no Brasil.

Segundo Adilson Lavrador, diretor executivo de operações, tecnologia e sinistros da seguradora, a IA é uma das prioridades no investimento da companhia na área de P&D. “Em um mercado em que 70% da frota de carros não têm seguro e 85% da população, nenhuma cobertura de vida, as plataformas de IA podem ajudar a desenvolver produtos mais adequados, melhorar a precificação e descobrir novos nichos de mercado”.

Entre outras aplicações, a Tokio Marine usa a IA na área jurídica e também para prevenir fraudes e abusos. “Por meio de análise preditiva, avaliamos a probabilidade de sucesso em processos contenciosos”, diz Lavrador. O horizonte para o uso da IA na indústria seguradora é amplo – vai desde o desenvolvimento de chatbots inteligentes para reduzir custo e agilizar o atendimento aos clientes, até apólices desenhadas de acordo com o nível de risco individual de cada cliente.

Na Prudential do Brasil, a tecnologia é usada para fortalecer a estratégia comercial. Segundo André Veloso, diretor de Soluções Digitais da seguradora, a ferramenta de cotação inteligente permite que os corretores e consultores de seguros incluam de forma simples dados sobre o perfil e necessidades de proteção financeira de cada cliente, para gerar indicações de coberturas e opcionais mais alinhadas com o perfil de cada consumidor. “A ferramenta oferece enorme ganho de produtividade e velocidade de conversão, com propostas ainda mais adequadas aos clientes”, diz.

Veloso explica que, a partir do conhecimento sobre comportamento e perfil dos clientes e dos resultados obtidos com os primeiros exercícios com IA, a seguradora avalia a aplicação da tecnologia na análise de risco para acelerar o ciclo de aprovação das propostas. A IA também é o motor que move boa parte das insurtechs, startups tecnológicas do setor de seguros. Entre 2018 e 2020, o número de insurtechs no mercado brasileiro aumentou 47%.

A Thinkseg é uma dessas empresas. Focada em seguro de veículos, procura aplicar a tecnologia em todas as vertentes do negócio. Além de contar com a tecnologia para a análise individual mais rápida e mais eficiente dos clientes, a seguradora usa a telemetria do aparelho celular dos segurados para alimentar a plataforma de IA com dados sobre o uso do veículo. “Em apenas um quilômetro percorrido, o sistema gera 100 mensurações diferentes e, com o tempo, reconhece se o carro está sendo dirigido pelo segurado ou por outra pessoa. O resultado é uma análise cada vez mais precisa e individualizada”, diz André Gregori, CEO da Thinkseg.

O modelo de negócios das insurtechs não exclui a parceria com bancos e seguradoras tradicionais. É o caso da HDI Seguros, que investiu R$ 250 milhões em projetos de digitalização e, por meio de uma joint venture, administra a seguradora Santander Auto, operação 100% digital com mais de 40 mil segurados. “A relação com os bancos tradicionais permite que as insurtechs expanda seu banco de dados trazendo cada vez mais assertividade para a criação de novas soluções; já para as instituições financeiras, a inserção da tecnologia nos processos traz maior agilidade e expansão de oportunidade de negócios”, explica Murilo Riedel, CEO da HDI Seguros.

A experiência de atendimento a sinistros também avançou com a IA. A startup Cilia, em parceria com a Universidade Federal de Goiás, desenvolveu um algoritmo que permite dizer em poucos minutos, o custo do conserto a partir de fotos tiradas no local do acidente.

A solução já vem sendo utilizada no mercado brasileiro por seguradoras como a Tokio Marine e a Thinkseg, que se associou à companhia. “Recebemos propostas para aplicação do produto em mercados como Colômbia, Chile, Equador, China e Estados Unidos”, diz Daniel Barbosa, diretor da empresa. Tudo isso resulta em mudança cultural do setor. “Os consumidores estão cada vez mais habituados ao mundo digital e esperam que os serviços e produtos oferecidos pela indústria sigam nessa mesma linha de inovação”, afirma Veloso.