14/12/2020 14:51 por Denise Bueno 13 min de leitura

Para 2021, o avanço deverá vir do aumento da oferta de seguros por plataformas digitais, no segmento de pessoas.

A CNseg, confederação das seguradoras, prevê um crescimento dos prêmios de seguro de 3,4% 2020, acompanhando a tendência verificada nos últimos meses encerrados em setembro, com registro de receita de R$ 271,3 bilhões. Em 2019 completo, o setor avançou 12,1%, com receita de R$ 270,2 bilhões. O resultado é visto com alegria diante da retração do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para este ano, em torno de 4%, e devido ao impacto da pandemia COVID-19. A queda foi mais severa nos meses de março e abril, quando foi decretado o isolamento social, mas a partir de maio já se observou retomada de alguns segmentos como rural e de riscos financeiros, e retração de outros, como automóvel e transporte.  

Marcio Coriolano acredita que o crescimento dos prêmios se recuperará nos próximos dois anos, apoiado pelo esforço das seguradoras no lançamento de novos produtos, maior oferta com a grande quantidade de plataformas digitais que foram otimizadas com a pandemia, e maior consciência dos consumidores em relação aos riscos inerentes ao cotidiano, agravado com uma crise sanitária com consequências em toda a sociedade, seja no segmento público ou privado, nas relações individual ou corporativa.

“Em meio a crise, os segmentos de danos e responsabilidade foram menos afetados — com taxa de crescimento de 5,3% em 2019 para 4,6% em 2020 — do que o segmento de pessoas, onde o avanço do seguro de vida recuou de 13,9% para 4,6%, e de planos de acumulado de 16,8% para 3,1%”, afirmou Coriolano. Segundo ele, a boa notícia do ano foi que os planos de contingencia de crise das seguradoras funcionaram, todos conseguiram rapidamente trabalhar a distancia e as plataformas digitais foram um sucesso, tanto para reuniões como para treinamento da equipe, para vendas e para atendimento ao consumidor. “Não tivemos comprometimento na área de subscrição e no atendimento aos corretores e segurados”.

Coriolano também enfatizou que 2020 foi marcado por uma intensa atividade regulatória, como a Superintendência de Seguros Privados (Susep) publicando vários normativos, como o Sandbox, para que 11 insurtechs testem novos produtos, bem como medidas de desburocratização de seguros de grandes riscos e flexibilização das reservas técnicas tendo como parâmetro a atuação geográfica das companhias.

A pandemia também gerou um excesso de projetos de leis com vistas a mudar regras do setor. “Temos aqui mais de 7 mil projetos de leis, o que traz impacto para a atividade corporativa, desde adaptações legislativas e julgamento de processos importantes que afetam o setor. Trata-se de um fenômeno mundial e não só local, como pudemos acompanhar com instituições dedicadas a seguros em diversos países da Europa”, ressaltou.

Assim como em outros países, as seguradoras brasileiras flexibilizaram o pagamento do seguro de vida, de forma espontânea, e atendimento médico pelos planos de saúde, por exigência regulatória, mesmo com cláusulas de exclusão de pandemia.

O presidente da CNseg ressaltou que o ambiente competitivo entre as seguradoras deve aumentar ainda mais em 2021. “A competição já vem forte há anos, de forma silenciosa, com os bancos abrindo plataformas digitais para seguradoras ofertaram seus produtos”, comentou. Com as novas regras regulatórias, no entanto, deve aumentar, segundo previsão de escritórios de advogados que citam aumento da demanda de investidores interessados em atuar no Brasil, um país com grande potencial de crescimento em seguros. Caso a crise econômica e política seja realmente contornada, o otimismo com seguros aumenta diante da geração de emprego, de renda e retomada dos investimentos em infraestrutura.

Em relação a eventos presenciais, a CNseg não tem um plano de volta ainda para 2021. “Em primeiro lugar, a segurança de todos os nossos colaboradores. Os fatos estão a favor da prudência máxima. Vivemos períodos dificílimos. com hospitais ocupados, próximos da capacidade máxima”. Ele aproveitou para desejar um feliz natal e um 2021 com vacina para todos.

Vacinação é uma questão de saúde pública, afirma Joao Alceu, presidente FenaSaúde

A medicina complementar enfrenta um ano agitado, por conta da pandemia, com problemas que vão desde a suspensão de reajustes até a exigência de atendimentos não previstos em contrato. Sem contar atendimentos eletivos suspensos por conta da prioridade dada aos pacientes com Covid. Há também um aumento substancial da concorrência por parte de empresas que estão do fora do escopo da regulamentação da Agência Nacional de Saúde (ANS).

“Estamos com um frio na barriga com as festas de final de ano, num momento em que os hospitais já começam a ficar com suas capacidades próxima de 100%”, citou. O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por exemplo, anunciou hoje que adotou mudanças para não faltar leitos, uma vez que contabilizou mais de 95% de ocupação. Entre elas, a transferência de cirurgias menos complexas para a unidade de Perdizes e priorizar pacientes de Sao Paulo.

Outro desafio da FenaSaúde é a discussão se planos de saúde irão dar vacina gratuita para seus mais de 47 milhões de clientes. Segundo João Alceu Amoroso Lima, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), a vacinação é uma questão de saúde pública. João Alceu acredita que vai demorar para que toda a população brasileira seja vacinada contra a covid-19, com perspectiva de o processo entrar pelo ano de 2022. “Certamente este processo de vacinação vai até 2020, pois temos vacinas de duas doses, outras com processo de refrigeração diferenciada e mais de 200 milhões de pessoas para atender. É uma questão de saúde pública, que precisa atender todos, sem gerar desequilíbrio e desigualdade social. O setor privado poderá fornecer a vacina depois disso, assim como acontece para outras vacinas com surtos controlados”.

Em relação a concorrência de empresas que passaram a ofertar serviços de saúde, Alceu afirmou que o tema está com a ANS, pois há uma grande diferença entre um plano de saúde e os serviços oferecidos por empresas de cartões de saúde. “São produtos diferentes, sem qualquer relação com a abrangência de planos de saúde e isto tem de ficar muito claro para a população. Além do fato de operadoras de saúde também quererem atuar neste segmento, sem as amarras regulatórias dos planos tradicionais”, comentou.

Um exemplo dessas empresas é a rede de laboratórios Fleury, que coloca no mercado em janeiro um produto por assinatura com foco no usuário do SUS, com acesso limitado a um pacote de serviços que inclui telemedicina, atendimento primário e alguns exames. O preço só será revelado no lançamento, mas a ideia é ter um valor fixo mensal para dar ao cliente acesso a uma quantidade limitada de consultas por telemedicina, uma quantidade limitada de atendimentos de atenção primária, alguns poucos exames e desconto em outros que não estão incluídos no pacote.

Em relação ao crescimento de beneficiário de planos de saúde, a FenaSaúde estima alta de 0,6% a 0,8% neste ano, alcançando entre 47,3 milhões e 47,4 milhões. Já os planos odontológicos deverão encerrar 2020 com crescimento de 2,5%, embalado pela baixa penetração desses planos.

Alceu foi pragmático em relação à sinistralidade do setor de saúde suplementar durante a pandemia. “Esperamos fechar o ano em torno de 80%. Em abril, no período mais crítico da pandemia, chegamos a 61% de sinistralidade. A preocupação agora é com a segunda onda e o refluxo de procedimentos que estavam represados. São fatores que podem sobrecarregar os hospitais. A pandemia nos ensinou que precisamos agir com cautela. O gestor da operadora de planos de saúde tem que olhar a médio e longo prazos”.  

Trindade, da FenSeg, prevê um ano cheio de bons desafios com novas regulamentações, produtos e retomada dos investimentos

Antonio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), tem desafios diferentes em sua gestão de seguros patrimoniais, com avanço das insurtechs na criação de produtos e serviços neste segmento, com responsabilidade civil com o avanço do mercado de capitais e boom de IPOs, e de riscos financeiros, com a aprovação da Lei de Licitações na semana passada pelo Senado e que segue agora para a sanção presidencial.

“Temos visto um boom com o grande volume de empresas que fizeram IPOs neste ano. Temos expectativas também com seguros cibernéticos, com a nova Lei Geral Protecao de Dados (LGPD). O garantia judicial tem tido crescimento expressivo com a pandemia pela troca de recursos depositados em juízo pelo seguro e assim dar mais fôlego às empresas no capital de giro”, enumera.

O seguro cibernético vem crescendo a dois dígitos. No acumulado de janeiro a outubro, o volume de prêmios do seguro relativos a riscos cibernético cresceu 91% na comparação com o mesmo período do ano passado, passando de R$ 16,7 milhões para R$ 31,9 milhões. “Várias empresas estão comprando e ainda temos muito a capturar com a LGPD e com o risco que ficou mais latente se espalhou em várias camadas da sociedade com o trabalho remoto”, citou.  

Em relação a aprovação pelo Senado da Lei de Licitações, que inclui o seguro garantia, mesmo que o texto nao tenha saído como as seguradoras lutavam para ser, Trindade afirma que é um motivo para comemorar. A Lei de Licitação esteve em discussão 25 anos e foi aprovada. “É uma boa noticia, ainda mais que traz avanços importantes como penalidades, organiza o mundo municipal, estadual e federal de forma mais clara, traz novas modalidades de concorrência e uma possibilidade de seguro para obras acima de R$ 200 milhões, que passam a ter contratação obrigatória”, afirmou

O lado ruim é que quando a lei determina o valor do seguro até 30% do valor da obra, o contratante pode querer contratar apenas para 1% do valor em risco. “Mas para a seguradora dar a cobertura de step in, ou seja, para a seguradora assumir a obra em caso de acidente previsto em contrato, tudo vai depender do valor segurado. Todos vão se ajustar. Acredito que vai ter de tudo um pouco. Vamos ver gente dizendo não para preços inviáveis e gente dizendo sim, quando as condições forem adequadas”, pondera.

Em relação ao mercado de grandes riscos, Trindade afirma que tudo dependerá do ritmo dos investimentos. “O movimento em seguros de grandes riscos não acontece da noite para o dia. Precisamos ver o que realmente vai sair do papel e virar realmente obra. Quais as concessões que serão ofertadas pelo governo e finalizadas. Se tudo o que esta sendo previsto virar realidade, 2021 será um ano de crescimento para este segmento, uma vez que as seguradoras poderão fechar negócios locais, que antes eram remetidos para o pais de origem do segurado”.

Em resseguro, o presidente da FenSeg não vê grandes mudanças, mesmo com as alterações regulatórias, que desburocratizam principalmente os programas mundiais de seguros. “As maiores resseguradoras ja estão no Brasil e acompanham os movimentos. Elas sabem que o Brasil é atraente do ponto de vida de resultado”.

Sobre o DPVAT, Trindade ressaltou a decisão dos acionistas da Seguradora Líder em se retirarem do consórcio, uma vez que as mudanças regulatórias prejudicavam a continuidade dos negócios. A Caixa é citada como uma das alternativas para fazer a gestão do seguro, mas o setor ainda aguarda uma definição do governo e da Susep a este respeito. “Ao longo de 2021, o que se pretende é repor o DPVAT, que é importante do ponto de vida social. A expectativa é de que a regulamentação deste novo seguro gere concorrência, sem monopólio, e um ganha ganha para cliente, segurador e governo. Deveremos saber os próximos capítulos nos próximos dias”, afirmou.

Melhora da renda fará que seguro de vida e previdência façam parte da estratégia das famílias, afirma Nasser, da FenaPrevi

O segmento de previdencia privada e seguros, sob a tutela da Federação de Previdencia Privada Aberta (FenaPrevi), recebe um beneficio da crise, do ponto de vista de mostrar às pessoas a necessidade urgente de ter um seguro de vida e também de poupar para o longo prazo. “Infelizmente aprendemos com a dor, mas agora os brasileiros estão mais dispostos a falar sobre seguro e previdência privada”, explica o presidente da FenaPrevi, Jorge Nasser.

No entanto, essas duas premissas, de investimento em seguro e na aposentadoria dependem da renda familiar e também de uma disseminação profunda de educação financeira, que já está em curso há anos por entidades do setor, como a CNseg, integrante do ENEF. “A intensidade da crise econômica é um empecilho à mudança mais acentuada de tendências nas áreas de seguros e previdência, por mais importantes que estas sejam numa perspectiva de longo prazo”, pondera.

“Nós cumprimos uma missão importante ao pagar os beneficiários por morte do titular por Covid, ignorando a clausula de exclusão por pandemia. Foram mais de R$ 13,4 bilhões de pagamento de indenizações no vida de janeiro a setembro, 26% maior do que no ano passado. E mesmo assim o setor mostrou a resiliência da solvência para atender os participantes”.

Nasse também ressaltou o cenário de transformação digital acelerado pela pandemia. “As novidades na forma dos produtos e de distribuição com a adesão do corretores de seguros nos aponta para um novo momento do seguro de vida, com novas coberturas e serviços, e previdência com grande diversificação de investimentos. Cabe a todos nós transformar a sensibilização do público com o risco de vida em proteções efetivas na estratégia das famílias no médio e longo prazo. E isso será possível com educação financeira e produtos sob medida para cada perfil de cliente”.

Novos produtos será a tônica do crescimento da capitalização, aposta FenaCap

Marcelo Farinha, presidente da Federação das Empresas de Capitalização (FenaCap), destacou que a pandemia acelerou a digitalização das empresas de capitalização, tornando o ambiente ainda mais propício para novos produtos. “Temos a grande missão de nos vincular a outros ecossistemas para ofertar nossos produtos”, afirmou. Segundo ele, o seguro de garantia de aluguel e voltados para filantropia tiveram resultados significativos neste ano. “O garantia ja representa 11% do total das emissões de títulos, com apenas seis meses e em período de crise, o que mostra que tendencia é de crescimento para 2021”.

Em setembro, a receita de títulos de Capitalização avançou 9,7% em relação ao mês anterior, atingindo R$ 17,2 bilhões e confirmando uma trajetória de alta iniciada ainda no segundo trimestre, após o período mais agudo da crise sanitária, em abril. “Embora no acumulado do ano, até setembro, o mercado ainda registre um pequeno recuo de 2,5% na arrecadação, em comparação ao ano passado, com a melhoria do cenário, a estimativa é fechar 2020 com um crescimento de 2,4%, projeta o executivo, lembrando que, tradicionalmente, as vendas se aceleram nos últimos meses do ano.