Com acúmulo superior a 280 milímetros, chuva causa queda de pontes, abertura de crateras e novos buracos.
Correio do Esatado – 26/01/2021 08:30 – Ana Karla Flores

Do dia 1º até ontem já choveu quase o dobro do registrado no mês de janeiro inteiro no ano passado em Campo Grande, 286,6 milímetros. No mesmo período de 2020, o volume total de chuva foi de 164,8 mm. O acúmulo das chuvas causou diversos estragos na cidade, como queda de ponte, crateras nas ruas e aumento de buracos nas vias pavimentadas.

Conforme o meteorologista Natálio Abrahão, o esperado para todo o mês de janeiro deste ano eram 212,6 mm, volume que já foi superado em 74 mm e pode ser dobrado com as chuvas que ainda vão até cair até o fim do mês.  

Há cerca de duas semanas, parte de uma ponte cedeu na Rua Panambi Verá, região dos bairros São Conrado e Santa Emília. A Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) interditou a via com placas sinalizadoras e muitas pedras amontoadas.  

O secretário de infraestrutura do município, Rudi Fiorese, explicou que a causa do desmoronamento foi a forte chuva, que levou parte do aterro do encabeçamento da ponte. “Ali tem o desnível no fim da ponte, no fundo do córrego, e isso está provocando uma lesão nas laterais e levando o aterro”.

De acordo com Lysania Batista Barbosa, funcionária de um comércio localizado na mesma rua, a situação continua a mesma, sem nenhuma manutenção da prefeitura desde o dia em que a ponte desmoronou. Ela relata que o comércio local foi afetado pela falta de acesso.  

“O movimento diminuiu bastante. Os carros têm de fazer um desvio muito grande, têm de desviar de 800 metros a um quilômetro, atrapalha bastante. O ônibus também tem de fazer o desvio nas duas vias que o ônibus passa, na linha São Conrado e na Santa Emília ”, detalha.

O número de buracos nas ruas da cidade também teve um grande aumento neste mês e já é possível encontrar crateras em diversas avenidas da Capital. A última ocorrência foi na Rua Jorge Budib, na região do Bairro Mata do Jacinto, onde um motociclista quase caiu em uma cratera com cerca de três metros de profundidade e 1,5 m de largura.  

O motociclista Higor Duarte estava que estava voltando de uma entrega na sexta-feira, por volta das 20h, e quase caiu dentro do buraco. “O buraco era enorme, cabia eu e o moto juntos, mas graças a Deus a moto ficou presa nas bordas e não caímos”, disse.

De acordo com Maria Aparecida Mendes de Sá, moradora da região, uma cratera surgiu na sexta-feira, após chuva forte. Porém, apenas no sábado a Agetran interditou o local com placas sinalizadoras. Na manhã de ontem, reparos para tapar o buraco já estavam estavam sendo feitos. Para que a obra seja concluída, é fundamental que não chova.

Parte de ponte na Panambi Verá caiu após fortes chuvas na região – Bruno Henrique

TAPA-BURACO

Com as chuvas, as obras de tapa-buraco e manutenção de vias não pavimentadas em Campo Grande têm o trabalho comprometido, já que no período há redução das equipes. De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), as chuvas não permitem que os buracos sejam tapados e abrem novos, aumentam fortemente a quantidade de vias que precisam receber manutenção.

No dia 14, Campo Grande registrou chuvas intensas, que causaram alagamento em diversos bairros. Em reportagem do Correio do Estado, o superintendente de serviços públicos da Sisep, Mehdi Talayeh, explicou que danos como alagamentos são ocasionados em razão da falta de drenagem nas ruas dos bairros de algumas regiões da cidade, principalmente no sudoeste e no oeste da Capital, partes que têm sido as mais atingidas pelos problemas.

OBRAS

Duas frentes de contenção de enchentes na cidade foram concluídas recentemente, uma na região do Bairro Nova Lima e outra na Vila Nasser. As obras são essenciais para ajudar a conter as águas pluviais e evitar como enchentes durante períodos de maior acúmulo de chuva.

A Prefeitura de Campo Grande também tem projetos para a construção de barragens nos córregos Segredo e Prosa. O plano existe desde 2018, entretanto, até agora a gestão não conseguiu viabilizar as obras. Segundo Fiorese, para essas construções feitas são, é necessário o investimento de R $ 120 milhões, verba que a cidade não conseguiu.

Um dos pontos que também faz parte do projeto para contenção de enchentes em Campo Grande, uma Avenida Ernesto Geisel segue em obras. No local é feita, atualmente, a mudança de tubulação de esgoto, para que seja construída a parede de contenção do Rio Anhanduí.

A conclusão total, incluindo recapeamento das vias, está previsto para 2022, se os repasses do governo cumprirem o cronograma. Processos ainda mais 15 editais do governo federal.  

ESTRAGOS NO INTERIOR

Municípios do interior do Estado também registraram volume de chuva acima do esperado para este mês. Em Corumbá, a estimativa era de 145,4 mm e já acumulou 456,6 mm, causando grandes estragos. A água invadiu casas e deixou famílias desalojadas.  

Em apenas um dia, a chuva chegou a 123,2 mm na região do aeroporto e a mais de 158,6 mm na região da Prainha, causando alagamentos em vários bairros e na área central da cidade. Equipes do Corpo de Bombeiros se desdobram para atender às ocorrências, foram mais de 50 chamados de moradores que tiveram como casas inundadas pela enxurrada.  

O nível dos rios Miranda e Aquidauana subiu excessivamente com as chuvas, chegando próximo do limite da calha. O Boletim da Sala de Situação do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) emitido na manhã de sexta-feira informava que o Rio Miranda havia subido mais de dois metros em dois dias. O volume elevado de água que desce para o Rio Miranda pode provocar seu transbordamento nos próximos dias.

O Rio Aquidauana também está subindo rapidamente. Passou de 6,03 m para 6,53 m no dia 20 e chegou a 7,74 m ontem. Ao atingir 8 m, o rio entra em situação de emergência.

A prefeitura de Nioaque decretou, no dia 19, situação de emergência em razão dos alagamentos em regiões urbanas e rurais da cidade. Conforme o decreto, em cinco dias choveu aproximadamente 150 mm, o que provocou enxurradas, alagamentos e inundações em rios e córregos, com danificação de estradas, pontes e casas.

A previsão para esta semana em Mato Grosso do Sul é de muita chuva, tempo abafado e encoberto céu. Estima-se que até sábado chova 70 mm em todas as regiões do Estado. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma umidade do ar deve chegar a 95% em Campo Grande, com pancadas de chuva.