EXCLUSIVO – Promover acesso aos mais eficientes tratamentos oncológicos é um dos objetivos do A.C.Camargo Cancer Center, uma instituição que, há mais de 70 anos, investe em assistência, ensino e pesquisa das mais variadas manifestações de câncer. Sob o modelo Cancer Center, a instituição consegue ser altamente especializada, com médicos e profissionais de saúde trabalhando de forma integrada para oferecer os melhores, mais modernos e custo-efetivos tratamentos para seus pacientes. Em um Cancer Center, a pessoa faz sua jornada oncológica completa, do diagnóstico à remissão, sempre com a mesma equipe.
No mês de março, o A.C.Camargo promoveu um encontro com representantes de operadoras de planos de saúde e autogestões para apresentar os seus avanços em pesquisas e o investimento realizado para tornar sua operação mais eficiente e entregar mais valor para seus clientes e pacientes. O evento reuniu cerca de 100 pessoas para conhecerem o que está sendo feito em busca da sustentabilidade do sistema.
O primeiro convidado do evento “Gestão de Sinistralidade e Valor em Oncologia” foi o inglês Dr. Daniel Goldstein, diretor do Center for Cancer Economics do Davidoff Cancer Center, em Israel. O médico e pesquisador já desenvolveu diversos estudos ao redor do mundo sobre políticas públicas para o tratamento oncológico. Em sua apresentação, ressaltou que custo, eficácia e valor são levados em conta na hora de oferecer todos os tratamentos possíveis para aumento de sobrevida ou cura. Porém, temos de olhar como podemos reduzir os custos, sem perder eficácia e valor. Para isso, ele estuda, há anos, a viabilidade de baratear a conduta terapêutica com a diminuição de doses ou da duração do tratamento, porém obtendo o mesmo desfecho clínico.
Segundo o oncologista, a eficácia dos medicamentos pode ser apresentada de várias formas. “Há aqueles que podem aumentar a sobrevida do paciente em nove dias, ou outros que podem salvar vidas, como no caso de melanomas. Mesmo quando os medicamentos são financiados, o tratamento gera um desgaste financeiro para os pacientes e suas famílias. Pacientes com câncer têm três vezes mais chances de ir à falência por conta do tratamento, de acordo com estudos realizados nos Estados Unidos. Há muita pressão para o financiamento desses tratamentos”, conta o oncologista.
“É preciso ver todo o bem-estar do paciente. Há medicações com alta eficácia que o paciente não toma por conta do valor”, diz Goldstein. Para ele, o desafio é vencer a indisponibilidade e o acesso ao tratamento. Como solução, ele sugere: “É preciso haver uma mudança na política, saindo do pagamento por serviço para o atendimento baseado em valor, reduzindo os custos, mas com a garantia dos resultados de saúde”.
Algumas das estratégias a serem aplicadas, segundo discutido no encontro, seriam:
- Substituição terapêutica com dosagem menor (mesmo desfecho clínico com redução da toxicidade);
- Maior espaçamento entre os ciclos;
- Diminuição da duração do tratamento.
Com essas abordagens, pesquisas apontam ser possível ter efetividade na economia de recursos para o mesmo desfecho clínico. “O que sabemos, com certeza, é que os custos dos tratamentos vão continuar subindo, por conta da inflação médica e do uso de novas tecnologias”, garante Goldstein, acrescentando ser essencial o trabalho conjunto, entendendo os conflitos e interesses envolvidos. “Na verdade, é muito difícil trabalhar junto; no entanto, somente assim resolveremos este enorme problema”.
Durante o evento, Goldstein comentou como é raro estarem em uma mesma sala tantos representantes de diferentes grupos (operadoras, autogestão, fornecedores), com interesses conflitantes, mas discutindo um caminho único para tentar resolver o problema do acesso e do custo da jornada oncológica. “O processo para resolver este problema é gradual, mas precisa ser iniciado”.

Rafael Ielpo, diretor Comercial e de Marketing do A.C.Camargo, pontuou que a cooperação entre os provedores e os prestadores de serviços é fundamental. “Como uma instituição, existimos para servir à sociedade desde que nascemos, há 72 anos. Temos informações qualificadas de dados. Se não tirarmos a desconfiança da mesa, não vamos avançar como mercado”, salienta.
As pesquisas que podem começar a mudar o setor
Dra. Rachel Riechelmann, líder da Oncologia Clínica e do Centro de Referência de Tumores Neuroendócrinos do A.C.Camargo, coordena uma série de estudos para identificar alternativas para garantir um tratamento eficaz e com menor custo para os pacientes do Cancer Center. Os resultados obtidos junto aos pacientes do A.C.Camargo são reportados em estudos apresentados em publicações e congressos internacionais.
Os estudos conduzidos pela oncologista envolvem a diminuição da dosagem de medicamentos e a redução do tempo de tratamento. “Nos estudos de fase 1, as doses iniciais, menores do que as aprovadas e que constam na bula do fabricante, já foram eficazes e mostraram inibição do crescimento das células. Os dados do mundo real são diferentes e normalmente requerem uma dosagem menor”, conta a Dra. Rachel.
Outro exemplo apresentado pela oncologista foi na jornada do tratamento sistêmico de melanoma, em que os pacientes recebem imunoterapia antes da cirurgia. Um estudo realizado com 54 pacientes, em 2022, mostrou que 60% alcançaram a resposta completa do tratamento com Pembrolizumabe. A economia média por paciente foi de R$ 174 mil. A economia em medicamentos foi de mais de R$ 5 milhões em um ano, apenas com a aplicação do protocolo instrucional.
O estudo constatou que doses a partir de 8 a 10 mg de Lenvatinibe eram tão eficazes quanto as de 24 mg (recomendação inicial), mas muito menos tóxicas. O tempo de controle da doença e a proporção de redução do tumor também foram exatamente iguais, mesmo usando uma dose bem menor, mas com mínimos efeitos colaterais nos pacientes.
Escritório de Valor
O desafio de entender as informações dos pacientes e aplicá-las para melhorar o seu atendimento faz parte da rotina do Escritório de Valor do A.C.Camargo. Ele é gerenciado pela médica Dra. Aline Chibana. Ela explica que a função do departamento é cuidar da prevenção, navegação, reabilitação, desfechos clínicos e custo/efetividade, estudando sempre a melhor forma de tratar o paciente.
“O Escritório de Valor é um trabalho de dados, que procura obter alternativas para ampliar o acesso a medicamentos de alto custo, utilizando, por exemplo, contratos de compartilhamento de risco com devolução dos frascos utilizados pelo paciente, por parte da farmacêutica, no caso de falha de tratamento”, explica a Dra. Aline. Isso é possível com a otimização de doses, protocolos mais enxutos e eficientes e com redução da toxicidade para os pacientes, sem prejudicar o desfecho clínico. “Ou seja, é uma gestão mais sustentável dos recursos da saúde”, conclui.
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