Notícias | 3 de agosto de 2021 | Fonte: Valor Investe

A alta da Selic, taxa básica de juro da economia, acirra a concorrência entre a renda fixa e as ações e aumenta o custo do crédito para as companhias. Assim, as empresas que dependem mais de financiamento, como as construtoras, tendem a ser prejudicadas. Porém, a bolsa continua como uma aposta forte para quem aceita riscos em uma parcela da carteira em busca de retorno maior e há especialmente um grupo de papéis que se beneficia com o aumento da Selic: o setor financeiro.

Entre as companhias desse segmento, estão bancos, seguradoras, empresas de cartões de crédito e de meios de pagamento. A aceleração das ações já começou e deve continuar, conforme gestores. Isso acontece porque a subida da taxa básica de juro impacta diretamente as receitas com juros cobrados dos clientes e, assim, a lucratividade das empresas.

As instituições financeiras devem mostrar um salto nos lucros do segundo trimestre, com a subida da Selic, a recuperação da economia e o crescimento das carteiras de crédito. “Temos visto papéis de bancos performando bem e a alta da Selic deve aparecer já na safra de balanços”, afirma Aquiles Mosca, responsável pela área comercial da gestora de fundos do banco BNP Paribas Asset Management.

O setor financeiro também integra o grupo de companhias da bolsa que Rudolf Gschliffner, superintendente de produtos da gestora do banco Santander, chama de “empresas de valor”. São companhias mais tradicionais, como bancos, Petrobras e Vale, ligadas ao setor de commodities.Ele explica que, em 2020, a grande aposta do mercado eram as “empresas de crescimento”, relacionadas ao comércio eletrônico e à tecnologia, por exemplo. A vida das pessoas virou de cabeça para baixo com o distanciamento social imposto pela pandemia e essas companhias aproveitaram para vender seus produtos e serviços.

Porém, agora, Gschliffner afirma que tem menos convicção sobre qual perfil de empresa crescerá mais. Na dúvida, ele sugere mesclar companhias tradicionais e inovadoras nos investimentos. “A tese do ano passado era a das ações ligadas à aceleração da tecnologia. Este ano, vimos uma rotação setorial que privilegiou os papéis de valor”, afirma. “Daqui para frente, a carteira mais balanceada entre as duas possibilidades é a melhor”, diz.

O executivo do banco destaca que, para quem possui perfil para isso, a bolsa ainda faz bastante sentido. Ele acha que a alta da Selic já está no preço das ações e que os papéis ainda estão com desconto em comparação às ações dos Estados Unidos.

Como boa parte do mercado, Gschliffner acha que as companhias ainda vão crescer com o avanço da vacinação e a reabertura da economia.

Os gestores também ressaltam que, para quem topa riscos nas aplicações financeiras, ainda é atrativo ter uma parte pequena da carteira investida no exterior. Esse conselho já foi bastante escutado pelos investidores, mas ainda faz sentido com a alta da Selic, de acordo com especialistas.

“O exterior continua interessante. Várias outras economias do mundo estão se recuperando mais rapidamente que nós, como Estados Unidos, Europa, China. É uma forma de buscar dinamismo econômico como alternativa para rentabilizar aplicações”, afirma Mosca, da gestora do BNP Paribas. Ele indica investir por meio de fundos, diversificando países e setores que não existem no Brasil.