Atualizado às 08:07 – Ana Ehlert

Os aumentos dos preços dos combustíveis promovidos pela Petrobras, que já totalizam nove desde o começo do ano, têm pesado no orçamento dos brasileiros. E quem trabalha como motorista de aplicativo, por exemplo, tem feito as contas e repensado a escolha de atividade. O impacto de 51% na conta de quem abastece o carro com gasolina, por exemplo, já espantou cerca de 30% dos motoristas de aplicativo da região de Curitiba e Litoral, de acordo com Alessandro Tanner, presidente da Associação União Nacional Dos Motoristas de Aplicativo (UNMA).

Anderson Luiz Kupczak, 40 anos, faz parte do time que deixou a atividade. Morador de Paranaguá, ele conta que, após trabalhar por 14 anos como torneiro mecânico deixou a empresa para trabalhar como motorista de aplicativo. “Com o aumento de motoristas na minha região, a alta do combustível e implantação dos preços baixos das corridas, tive que sair da atividade”, diz.

Por dois anos, ele atuou como motorista de aplicativo no litoral, mas neste ano abandonou a atividade por falta de lucratividade. Kupczak conta que desde o começo do ano está atuando como motorista de caminhão no Porto de Paranaguá. “Hoje eu estou trabalhando como motorista de caminhão aqui no litoral. Puxando adubo do porto para as empresas”, conta.

Apesar dos relatos, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) não confirma a redução de profissionais na atividade. “As empresas associadas da Amobitec não têm verificado redução no número de motoristas parceiros ativos, pelo contrário, as plataformas se mantêm abertas e continuam cumprindo papel fundamental no contexto das crises sanitária, social e econômica, oferecendo acesso fácil a uma oportunidade de trabalho para brasileiros que procuram nova fonte de renda”, afirma por meio de nota encaminhada via assessoria.

Guilherme Machado, diretor do grupo Driver Elite Club, formado por motoristas de aplicativo como forma de tentarem garantir a segurança de quem trabalha na atividade, conta que desde 2017 as taxas pagas pelas plataformas de aplicativo aos motoristas estão congeladas.

Segundo motoristas ouvidos pela reportagem, o custo da gasolina, por exemplo, está entre R$ 0,50 e R$ 0,70 por quilômetro rodado, quando o valor médio paga ao profissional é de R$ 0,90. O último aumento anunciado pela Petrobras foi há cerca de 10 dias. Um aumento de 3,34% na refinaria, ou seja, R$ 0,9 por litro. O custo passou de R$ 2,62, para R$ 2,78. Quem trabalha com Gás Natural Veicular (GNV) no carro também reclama dos custos, que estão entre R$ 0,30, e R$ 0,40 por quilômetro rodado.

O mesmo vem ocorrendo com o diesel e o etanol. Todos vêm de altas seguidas. No final da semana passada, o litro da gasolina passou de R$ 7 em alguns locais do País no preço médio. No Paraná o valor ainda segue entre os mais baixos entre os estados, mas mesmo assim, está nas alturas.

Políticas de ganhos, sorteios e descontos em postos

A Amobitec, por meio de nota, ressalta que diversas medidas foram adotadas pelas plataformas para auxiliar a reduzir os custos dos parceiros. Cita como exemplos convênios com postos de combustíveis que oferecem desconto no abastecimento dos veículos, e parcerias com empresas para oferecer preços especiais em peças, acessórios e manutenção.

A empresa Uber, também por meio de nota, informou que com a retomada da economia tem sido registrada uma demanda maior pelo serviço, especialmente nas grandes cidades, nos horários de pico. Na mesma nota, a plataforma aponta que, com isso os ganhos de quem dirige com o app da Uber têm sido os maiores desde o início do ano. “Em Curitiba, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.100 a R$ 1.200 na semana. Em um mês, significa que os motoristas estão com média de ganhos superior aos rendimentos mensais de várias atividades no país, como fisioterapeutas, intérpretes, marceneiros ou corretores de seguros, por exemplo, de acordo com dados do site Trabalha Brasil, que compila essas informações”, diz.

Sobre os aumentos de custos, a plataforma afirma não ter gerência sobre esse fato e, para tentar ajudar aos motoristas cadastrados, disponibilizam um programa de vantagens para parceiros, chamado de Uber Pro., que em é uma parceria com a rede Ipiranga. “Pagando com o app abastece-aí, o motorista parceiro da Uber tem direito a 4% de cashback”, diz.

A nota aponta ainda a isenção de mensalidades no Vale Saúde Sempre, que dá descontos em consultas e medicamentos, uma economia que chega a R$ 359 por ano, e também podem contratar com preços especiais o Uber Chip, plano pré-pago que não desconta dados para navegação em apps como Uber Driver, Waze e WhatsApp.

A plataforma 99, em nota, cita um pacote de ações que pretende colaborar com os ganhos dos motoristas parceiros da empresa e ainda impactar a economia do país. Com o pacote, a empresa estima injetar mais de R$ 570 milhões ao PIB brasileiro até dezembro, além do valor já gerado pela atividade intermediada pela companhia. “Esses valores mostram como a atividade da 99 é importante para a economia brasileira e nosso compromisso é continuar apoiando a geração de renda pelos parceiros da plataforma”, declara Livia Pozzi, Diretora de Operações e Produtos da 99.

As iniciativas somam-se aos benefícios concedidos pela empresa por meio do programa de parceria SOMOS99 que, entre outras vantagens, garante 10% de desconto no combustível dos 3.2 mil postos da rede Shell, e já foi responsável por R$ 3,1 milhões de economia aos motoristas parceiros. Para incentivar a disponibilidade de motoristas, a 99 está promovendo pelo segundo ano consecutivo a campanha Direção Premiada, que sorteará oito carros de R$ 80 mil, uma casa no valor de R$ 200 mil, além de prêmios semanais.

Desde o início da pandemia, a 99 vem observando um aumento do volume de pedidos na plataforma pela população da Classe C. “ Uma pesquisa Datafolha constatou que, entre as pessoas da Classe C, 40% afirma ter aumentado a frequência de utilização do app em 2020 e 31% começou a utilizar a modalidade por causa da pandemia”, explica Livia Pozzi.

Demanda cresce 20% em Curitiba

Guilherme Machado conta que a situação só não está pior porque, com o aumento do preço do combustível, muita gente está preferindo deixar o carro na garagem e usar carro de aplicativo. “Ainda mais quando dá para dividir o custo com mais alguém, aí fica bem mais em conta para o usuário”, diz.

Letícia Karoline Jacon Salles, 22 anos, está entre as motoristas de aplicativo que, apesar dos custos, atua na Região de Curitiba. Antes ela trabalhava em escritório, com o setor administrativo. Há um ano e um mês, ela trabalha com as plataformas Uber e 99 Pop.

Para tentar driblar o aumento dos custos e manter a renda para sustentar do filho, ela revela que tem trabalhado mais. “Com mais gastos devido ao alto aumento do combustível, com certeza aumentou também o tempo de trabalho”, diz.

Machado calcula que houve um aumento de cerca de 20% na demanda pelo serviço. “Mas, como menos carros na praça, por conta dos motoristas que deixaram a atividade, o usuário tem esperado mais pelo carro e também pagado mais, por conta da tarifa dinâmica ”, afirma. Ele acredita que a debandada foi maior entre aqueles que atuavam com carro alugado. “Com esses aumentos, não estava mais valendo a pena”, diz.

Embora não tenha número exatos, ele diz que o número de motoristas tem caído. “Nós estamos fazendo um recadastramento nas cidades onde a nossa plataforma atua e dos 800 cadastrados que tínhamos, estamos agora com apenas 600”, conta. Esse número, segundo Machado é toda a região de Curitiba e Litoral do Paraná. O Driver Elite Club é um grupo de motoristas de aplicativo de Curitiba, fundado em 2016 para monitorar e ajudar nas atividades de segurança dos motoristas que atuam no setor.