Visando conquistar um crescimento cada vez mais sustentável, empresas do setor estão investindo em ações que estão ligadas aos critérios Ambientais, Sociais e de Governança
Notícias | 17/05/2022 | Fonte: Revista Apólice por Nicole Fraga
EXCLUSIVO – O olhar dos executivos de seguros não se resumir apenas ao seu negócio e aos lucros. Executivos do mundo todo estão cada vez mais ligados nos critérios ASG (Ambiental, Social e de Governança), adotando práticas para agregar valor às suas marcas ao longo prazo, atentos aos movimentos da sociedade. Essas medidas visam alcançar o crescimento comercial das companhias promovendo sustentabilidade, atenção à sociedade e à boa governança nas empresas.
De acordo com um estudo realizado pelo BCG (The Boston Consulting Group), as empresas que têm boas práticas nesses campos apresentam resultados melhores ao longo do tempo, e o conceito também pode ser critério de escolha dos investidores. Tendo como principal missão a gestão de riscos, o mercado de seguros desempenha um papel fundamental na garantia da sustentabilidade por meio de atividades de análise de risco e subscrição. Portanto, as companhias que atuam nesse setor estão, mais do que nunca, atentas às mudanças e seguindo em direção a uma economia mais sustentável.
Uma delas é a MetLife. Desde 2020, a empresa alicerçou globalmente suas ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) e ao cumprimento de 11 metas ambientais globais até 2030 dentro dos pilares de sustentabilidade ambiental, equidade e inclusão, saúde e bem-estar e desenvolvimento sustentável, seguindo critérios ASG. A organização assumiu o compromisso de manter a neutralidade nas emissões de carbono e investiu US$ 5 milhões no desenvolvimento de ações que impulsionem soluções climáticas, tais como: a plantação de árvores e originar US$ 20 bilhões em novos investimentos verdes; a redução das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) com base na localização em 30% de 2019 a 2030; e a obtenção da certificação de construção ecológica ou saudável para 40% dos seus escritórios.
Para Thais Catucci, gerente de Comunicação Interna, Responsabilidade Social e Sustentabilidade da seguradora, um planejamento mais sustentável é essencial não só para as empresas, mas para toda a sociedade. “Mais do que propor ações e aportar recursos em projetos, entendemos que seja crucial monitorar os impactos gerados com as nossas ações em toda a cadeia de valor e entender de que forma conseguimos efetivamente contribuir para a sociedade. Internamente, adotamos diversos procedimentos que visam garantir que nossa Governança Corporativa siga critérios e padrões de transparência e boas práticas, tal como rege a política adotada pela nossa matriz nos Estados Unidos, dando grande importância à manutenção de adequados processos de controles internos e estrito cumprimento das políticas e procedimentos estabelecidos pela Administração”, diz.
De acordo com a Bloomberg, o montante mundial ligado de alguma forma aos critérios ASG alcançou US$ 38 trilhões em 2020 e deve atrair US$ 53 trilhões em investimentos até 2025. Thais ressalta que com o fomento de uma atuação cada vez mais sustentável do segmento, inúmeras possibilidades de negócios surgirão para o setor. “O mercado de seguros já tem uma atuação social relevante, em governança já é um dos setores mais desenvolvidos da América Latina, devido à adoção de práticas que seguem os princípios de transparência e procedimentos acordados na IAIS (Associação Internacional de Supervisores de Seguros) e na Solvência II da União Europeia. Mas, poder contar com relatórios estruturados, reports oficiais e guias deve ajudar não só a concentrar e distribuir melhor as ações, como também monitorar riscos, o que certamente pode abrir portas”.
A Marsh também é uma das empresas do mercado de seguros que está elaborando iniciativas pautadas nos critérios ASG. A corretora lançou recentemente uma ferramenta que mede os níveis de desempenho desses critérios dentro das organizações. Mensurada em mais de 10 padrões e estruturas reconhecidos internacionalmente publicados por organizações líderes, incluindo o Global Reporting Initiative, Sustainability Accounting Standards Board, Task Force on Climated-related Financial Disclosures e o World Economis Forum, a plataforma classifica a performance de clientes sobre 18 temas que envolvem sustentabilidade, responsabilidade social e governança.
“Identificamos em conversas com nossos clientes que o ASG é um tema de grande relevância e que faz parte das suas discussões estratégicas, uns mais maduros que outros nesse tema. Nossa abordagem é primeiramente apoiar em um diagnóstico através desta ferramenta, que nomeamos de ‘ESG Risk Rating’. Ela diferencia mais de 60 indústrias, reconhecendo a importância relativa de cada tema entre os diferentes setores. Com isso, os clientes são capazes de identificar suas forças e fraquezas na estratégia ASG e ter uma ferramenta a mais para apoiar na estruturação de seus investimentos, bem como gerenciar riscos e oportunidades, identificando-os, priorizando-os e integrando-os ao planejamento da empresa”, afirma Marcos Mello, diretor de Consultoria de Risco da Marsh na América Latina e Caribe.
Apesar das organizações do mercado de seguros estarem desenvolvendo diversas ações baseadas nos critérios ASG, ainda há espaço para o segmento evoluir neste quesito. Segundo um estudo da Bain, quando comparado com outras indústrias, o setor de seguros como um todo não é um dos melhores do ponto de vista ASG, ocupando uma posição intermediária e sendo superado pelos bancos.
“O mercado tem evoluído rapidamente para adotar em suas operações, análise de portfólio e processos de precificação de riscos as metodologias ASG. A própria Susep (Superintendência de Seguros Privados), através da consulta pública lançada no final do ano passado, vai começar a exigir cada vez mais que as seguradoras e resseguradoras locais adotem esses critérios nas suas avaliações e subscrição de produtos”, diz Ricardo Ciardella, diretor de especialidades da Marsh Brasil.
Para mudar essa realidade, uma das principais entidades do mercado, a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), tem investido em medidas que promovam a ação do ASG entre as empresas do setor de seguros. Uma delas é o apoio a um estudo conduzido pelos pesquisadores do Programa de Planejamento Energético da Coppe e da Coppead da UFRJ sobre riscos ASG. A pesquisa, com ênfase em riscos climáticos, está sendo realizada junto a profissionais de diferentes níveis das seguradoras, particularmente das áreas de sustentabilidade, subscrição de risco, gestão de riscos, investimentos, técnica e sinistros. A expectativa é que os resultados sejam publicados em um artigo científico, com as explicações sobre as principais descobertas.
Além de apoiar esse estudo, a entidade criou uma Comissão de Integração ASG (CIASG) em 2012. Uma das principais atribuições da Comissão é promover a integração das questões ambientais, sociais e de governança nas operações do setor de seguros e sua cadeia de valor, por meio da geração de conhecimento e estabelecimento de compromissos setoriais que gerem novos negócios, o aprimoramento da gestão de riscos e do capital reputacional do mercado. A CIASG divulga os Princípios para a Sustentabilidade em Seguro por meio da realização de eventos e da elaboração anual do Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros, baseado nas diretrizes do Global Reporting Initiative.
“Cada vez mais comprometido com as questões sustentáveis, o setor segurador tem considerado aspectos relacionados às mudanças climáticas ao avaliar ativos para investir recursos próprios, reservas técnicas, fundos de previdência e demais recursos financeiros. Importante também lembrar que as principais seguradoras globais com atuação no Brasil integram a Glasgow Financial Alliance for Net-Zero, uma aliança internacional que une empresas dos serviços financeiros para que compartilhem boas práticas sobre redução de emissão de carbono no setor, chegando ao padrão ouro de neutralidade. Hoje, as organizações que têm boas métricas de ASG são as mais resilientes e geram mais valor a longo prazo. Isso acontece porque elas gerenciam melhor os riscos e oportunidades socioambientais e possuem governança robusta, o que lhes permite atravessar com mais tranquilidade períodos turbulentos”, ressalta Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora-executiva da CNseg.