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Notícias | 4 de abril de 2024 | Fonte: CQCS l Bárbara Maria

De acordo com uma matéria divulgada no Valor Econômico, a crise sanitária, assim como o aumento no número de planos com cobertura apenas regional, fez disparar um produto que até então era pouco explorado pelo turista brasileiro: o seguro viagem nacional. Empresas e agências de viagem apontam crescimento de até 160% na contratação na comparação com o pré-pandemia.

Segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o total de prêmios de seguro viagem saltou 45% em 2023 na comparação com 2019, para um prêmio (valor que o segurado paga à seguradora) de R$849,6 milhões. O crescimento reforça um turista mais atento a imprevistos e que tem feito as apólices serem mais presentes nas viagens.

Na publicação do Valor Econômico, Ana Carolina Medeiros, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), disse que o seguro viagem ganhou um espaço grande nacionalmente diante de planos de saúde com menor cobertura nacional. “A pandemia e o risco dessas doenças virais fez as pessoas se prevenirem mais, sobretudo em viagens com idosos”, disse.

Mas ela alertou que é importante o viajante entender o seu seguro antes da viagem. “No seguro vendido você pode escolher as categorias de cobertura. Em alguns cartões de crédito, por exemplo, o seguro não cobre esportes radicais, como esquiar.”

A matéria do Valor, mostrou que na Assist Card, braço da Starr Insurance, uma das líderes do segmento no país, o primeiro bimestre deste ano mostrou alta de 160% no volume comercializado de seguro viagem nacional na comparação com igual período de 2019. Enquanto isso, o internacional registrou queda de 35% em igual comparação.

Alexandre Camargo, diretor-geral da Assist Card, disse que a menor malha internacional e preço de passagem ainda salgados influenciam na queda dos seguros internacionais. Mas o crescimento do nacional surpreende.

“Este era um mercado que praticamente não existia antes”, disse. “A gente começa a perceber que o ‘share’ de seguro viagem cresceu dentro da indústria. As pessoas estão viajando com mais seguros do que em 2019”, disse. Em média, a apólice de um seguro nacional custa na casa de R$5 por dia. No internacional, o custo diário está na casa de US$5. “E em termos de volume de apólice o nacional hoje representa 70%. Já quando a gente fala em faturamento, por causa do ticket médio, o internacional ainda é 80% do faturamento”, disse.

Segundo empresas e especialistas, a busca pelo seguro nacional é um reflexo de fatores como o aprendizado da pandemia. Mas há também uma visão de que o encarecimento dos planos de saúde e, como consequência, a maior migração para planos de cobertura regional, tenha influenciado este novo cenário.

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos com cobertura regional representaram 60% do mercado no fim do ano passado. Os planos nacionais perderam a liderança após 2017, mas foi na pandemia que a busca por planos regionais mais subiu. Em média, um plano nacional costuma ser 40% mais caro.

O aumento na busca por seguro viagem nacional tem sido percebido pelas agências de viagem. Segundo dados da Decolar, a procura pela modalidade nacional subiu 16% entre 1º de janeiro e 15 de março deste ano contra o mesmo período de 2023. Na mesma comparação, o internacional teve queda de 40%, reflexo de uma normalização do mercado após uma forte procura no começo do ano passado.

“A questão do seguro é uma mudança que veio com a pandemia. É a percepção de que as coisas podem dar errado”, disse Daniela Araujo, diretora de produtos da Decolar. Um exemplo prático do cliente mais cauteloso é a procura cada vez maior por passagens aéreas reembolsáveis, algo pouco popular no passado.

Araujo destacou que a subida nas tarifas aéreas e de hotelaria tem feito os clientes ampliarem as buscas por pacotes, o que colabora para a entrada do seguro viagem. Os pacotes, acrescentou, conseguem ser 35% mais baratos do que a compra dos mesmos serviços individualmente.

Mas o comportamento do usuário também mudou acerca do número de vezes que o seguro é acionado. Antes, uma gripe era facilmente tratada com um remédio ou ignorada. Hoje é uma consulta médica. A adesão dos turistas à telemedicina, entretanto, ajudou o setor a se manter saudável.

“Em termo de frequência, como nosso modelo de atendimento tem telemedicina e ela tem função de triagem, muita coisa se resolve ali, sem a necessidade de ir a um posto médico”, disse Mauricio Amaral, diretor-geral da Universal Assistance no Brasil, parte do grupo Zurich.

De acordo com dados da Susep, em 2023 a sinistralidade representou custo de R$ 495 milhões, alta de 23% contra 2019, com sinistralidade de 53% sobre o prêmio, queda de 22 pontos percentuais. Ou seja, embora o custo tenha crescido, a representatividade sobre o prêmio caiu, o que reforçaria margem mais saudável.

A próxima barreira da indústria é ampliar os seus canais de distribuição, disse Amaral. “Infelizmente, a oferta não é tão disponível”, afirmou. Hoje, parte significativa é feita via agência de viagem.

De forma geral, o mercado viu queda em 2023 na comparação com 2022. Segundo Amaral, a visão é de que o cliente acabou perdendo parte da voluntariedade de buscar um seguro se comparado ao momento mais crítico da pandemia. “Em 2024 o mercado fala em uma nova reação, entre 8% e 10% de crescimento”, disse.

O custo maior da saúde globalmente acabou se refletindo também nas apólices. “A inflação de saúde globalmente subiu a patamares nunca antes visto”, disse Luiz Gustavo da Costa, CEO da Coris. Ele lembrou que há ainda a desvalorização do real no período jogando contra – embora o custo do seguro frente ao valor total da viagem ainda seja baixo. “Vimos

A empresa pertencia ao grupo de seguro francês April, mas a multinacional saiu do mercado de seguro viagem e o negócio no Brasil foi comprado pelos diretores à frente da operação em 2020. A operação foi financiada pelo próprio grupo francês e avaliada em cerca de € 2,2 milhões.

Segundo dados da Susep, o cartão de crédito tem ganhado relevância também dentro do bolo de seguro viagem. A modalidade representou 11% do prêmio da indústria em 2019, ao passo que subiu para 15% em 2023.

Segundo a Visa, o uso do seguro para emergências médicas é o segundo benefício mais usado pelos clientes do cartão de crédito no Brasil, atrás do acesso às salas VIPs em aeroportos. “Todos esses benefícios tiveram seus picos de utilização entre os meses de maio e agosto, sendo julho o mês em que mais foram acionados”. No ano passado, a Visa fez uma atualização no seguro viagem aos seus cartões, ampliando valores e trazendo novas coberturas – que variam de acordo com o nível do cartão.

Há ainda regras que precisam ser cumpridas para ter a proteção do cartão – como a compra da passagem ou pacote com o cartão, assim como emitir a apólice antes da viagem. Outro ponto importante é o valor de cobertura do seguro, que precisa ser pensado levando em conta a quantidade de dias da viagem, assim como destino.

“É importante entender a sua necessidade e escolher a modalidade correta. O seguro do cartão é uma opção, mas ele tem de te atender”, disse Medeiros.