Revista Cobertura – Por 100 visualizações 21/03/2023 as 17:20
O número de indenizações e de contratações de seguro de crédito deverá aumentar este ano. O caso da Americanas – que pode resultar em pagamento de sinistros com valores inéditos nesse tipo de seguro em todo o mundo -, seguido da Lojas Marisa, que pediu a renegociação do passivo, e da Tok&Stok, varejista de móveis e acessórios de decoração que anunciou a negociação de suas dívidas com credores, deixou o mercado de seguros mais atento ao risco de inadimplemento das varejistas. Segundo especialistas, a estimativa é que haja demanda para garantir aproximadamente R$ 5 bilhões em créditos detidos pelos principais fornecedores das grandes redes varejistas.
O seguro de crédito protege empresas que produzem e comercializam bens a prazo contra o risco de não pagamento por parte dos compradores, usualmente as grandes redes varejistas. Uma proteção para os credores, caso seus clientes não paguem pela transação comercial.
Para definir o valor de crédito garantido pela apólice, as seguradoras usam bancos de dados próprios e informações públicas sobre a saúde financeira da empresa compradora para autorizar o limite de crédito que está disposta a garantir em favor do fornecedor. A questão é que ainda não tinha ocorrido um caso com as proporções do recente episódio das Americanas.
Como o seguro de crédito ainda é um produto relativamente novo no Brasil, vai passar agora por um momento de teste de credibilidade e adequação dos termos da contratação à realidade das práticas comerciais do mercado varejista. Os fornecedores da Americanas comunicaram sinistros às seguradoras superiores a R$ 2,2 bilhões e os processos de regulação dos sinistros (nos quais as seguradoras analisam se há cobertura e apuram os prejuízos indenizáveis) já se iniciaram.
Para o advogado Pedro Ivo Mello, sócio do escritório Raphael Miranda Advogados, este é um momento importante para o mercado segurador porque se os fornecedores atestarem que o seguro foi pago corretamente, no médio prazo a tendência é que o produto ganhe a confiança dos fornecedores e a demanda por sua contratação aumente substancialmente: “Os grandes fornecedores das varejistas estão só agora testando de fato essa modalidade de seguro. Os valores envolvidos são bastante altos e as seguradoras precisarão fazer os pagamentos de forma célere. Do contrário, o produto não funcionará para o fim a que destina, o que pode impactar gravemente no fluxo financeiro desses fornecedores”, explica.
Mello acredita que a tendência é o seguro de crédito crescer no Brasil, com o setor varejista passando a usufruir mais dessa garantia: “Se o pagamento das indenizações fluir bem, a tendência é que haja um aumento da procura pela contratação dessas apólices. Em contrapartida, as seguradoras passarão a fazer análises mais criteriosas para subscrição dos riscos das varejistas. O mercado segurador precisará entender melhor como funciona a dinâmica desse segmento de mercado e ajustar as apólices a essa realidade, não o contrário”, conclui Mello, cujo escritório já vem atendendo a alguns fornecedores que contrataram tais apólices.