A 9ª edição do estudo Banana Skins, realizado pela PwC em parceria com o CSFI, ouviu as principais preocupações de líderes do setor em 39 países
EXCLUSIVO – Para entender quais são os maiores riscos enfrentados pela indústria de seguros, a PwC realizou a 9ª edição do estudo Banana Skins. A pesquisa, realizada em parceria com o CSFI (Centro de Estudos de Inovação Financeira do Reino Unido), foi publicada em setembro de 2023 e ouviu 589 líderes empresariais de 39 países, que foram questionados sobre as perspectivas pós-pandemia, avanços tecnológicos e a choques significativos na economia.
Um dos riscos com mais destaque no estudo é o crime cibernético, que apareceu na primeira posição do top dez dos maiores riscos tanto no Brasil quanto em nível global. Os resultados desta edição indicam a crescente sofisticação dos ataques cibernéticos, com hackers e outros criminosos utilizando uma grande variedade de “vetores de ataque”, ou seja, métodos que os atacantes empregam para invadir sistemas de TI, a fim de explorar vulnerabilidades nas defesas das seguradoras.
“Um ataque cibernético bem-sucedido pode comprometer a continuidade dos negócios e permitir o roubo de dados sensíveis, com consequências desastrosas para a reputação das empresas de seguros e a credibilidade de todo o mercado. Nos últimos anos, com o avanço da digitalização, houve uma sofisticação deste crime, e por isso as companhias devem estar se antecipando a estes ataques cibernéticos, sabendo quais são os principais riscos, entender suas vulnerabilidades e quais informações os hackers poderão querer roubar. O grande desafio do setor de seguros, principalmente por lidar com informações sensíveis, é lidar com a gestão deste risco”, afirma Rosana Napoli, sócia e líder da Consultoria em Riscos e Regulatório para a indústria financeira da PwC Brasil.
O risco tecnológico é outro que preocupa os entrevistados pelo estudo, figurando entre as cinco primeiras preocupações em todos os segmentos da indústria de seguros. No mundo ele assumiu a quarta posição entre os maiores riscos, já no Brasil ficou em segundo lugar. Segundo Maria José Cury, sócia e líder da indústria de Seguros na PwC Brasil, isto pode ser preocupante, pois existe a possibilidade das seguradoras não conseguirem acompanhar os avanços da transformação digital, como a adoção de modelos de negócios digitais e o desenvolvimento de recursos.
“Apesar do mercado de seguros ter avançado em tecnologia, principalmente após a pandemia, ainda há alguns sistemas obsoletos. O consumidor de hoje exige agilidade em suas demandas, e um dos principais obstáculos à modernização é o custo associado à tecnologia. Muitas lideranças não enxergam este investimento como prioridade, e mesmo assim somente investir em ferramentas digitais não assegura uma implementação eficaz. O back office precisa sempre ser reformulado, pois além do risco tecnológico, há o risco de concorrência, principalmente com o crescimento das insurtechs, que são empresas que nasceram no digital”, diz Maria José.
De acordo com o Banana Skins, o risco regulatório, que ocupa o quarto lugar no Brasil e segundo no mundo, preocupa os líderes do setor pelo volume crescente de regras e regulamentações. Uma das mudanças regulatórias promovidas globalmente foi a implementação da IFRS 17 (International Financial Reporting Standards), assim como a necessidade de relatar riscos não financeiros associados à agenda ESG (ambiental, social e governança). Estas novas exigências, segundo os entrevistados, podem ampliar o escopo de responsabilidades das empresas e influenciarem na reputação delas.
“Esse é um desafio para as insurtechs, pois apesar de serem ágeis no desenvolvimento de produtos e terem um contato digitalizado com o cliente, elas devem adotar estruturas que sejam robustas para seguirem as regras do agente regulador. A implementação de novas regras reflete a preocupação da Susep com a solvência do setor, proporcionando mais segurança para as empresas e o próprio segurado. Todas essas mudanças trazem um impacto na forma de divulgação de informações do mercado de seguros”, afirma Maria José.
O risco do uso indevido da Inteligência Artificial Generativa foi incluído entre as principais ameaças pela primeira vez na pesquisa. Ele ficou em sétimo lugar no mundo e em sexto no Brasil. Segundo os líderes entrevistados, os principais pontos de atenção são as dificuldades de regulamentação da Inteligência Artificial, a falta de transparência dos modelos “caixa-preta” e o potencial de dependência excessiva de fontes de dados interligadas, que poderiam criar riscos sistêmicos.
“Apesar desta ferramenta ser uma facilitadora em diversos processos, tanto no momento de subscrição quanto no sinistro, é preciso que as seguradoras ajam com responsabilidade. O problema da Inteligência Artificial Generativa é que ela pode trazer vieses inconscientes, fazendo com que as companhias precifiquem de forma inadequada o seguro devido a algumas características que este sistema capturou. É preciso saber exatamente qual foi o raciocínio da IA Generativa para se chegar a aquela conclusão. O mercado pode utilizar esta tecnologia como um acelerador, mas com ética, pois pode existir algum equívoco dentro do algoritmo que gere um resultado equivocado”, reforça Rosana.
As mudanças climáticas apareceram entre os cinco principais riscos em todas as regiões pesquisadas: Américas, Europa, África, Ásia e Oceania. Na classificação global, esse risco ocupa a terceira posição. Entretanto, no Brasil este risco ficou de fora da lista das dez principais preocupações, ocupando o décimo terceiro lugar. De acordo com Maria José, as seguradoras têm a oportunidade de oferecer produtos e serviços que protejam seus clientes contra este risco, e até mesmo os seus negócios.
“Se a gente compara o mercado de seguros com setores mais desenvolvidos, ainda temos um espaço muito grande para crescer. Quando pensamos em produtos de Grandes Riscos para a proteção de safras, que envolve a questão das mudanças climáticas, a penetração ainda é muito baixa. O número de desastres naturais no Brasil aumentou muito nos últimos anos, e os dados históricos não são o suficiente para você continuar projetando a sua avaliação futura de risco. No lado do consumidor, ele precisará passar a pensar no seguro como uma ferramenta de proteção financeira em casos de catástrofes naturais”, ressalta Maria José.
Rosana reforça que, para as seguradoras combaterem todos estes riscos, eles precisam ser vistos de forma integrada, pois estão relacionados uns aos outros, sendo necessário o apoio das lideranças dentro das companhias para garantir a segurança do negócio. “Cada vez mais o mercado irá evoluir com ferramentas digitais, mas somente elas são insuficientes. Os líderes precisam apoiar suas equipes, oferecendo capacitação sobre o uso adequado da tecnologia e avançando na automação dos processos, para que elas possam dedicar mais tempo à análise de dados e no desenvolvimento de produtos inovadores”.
Nicole Fraga
Revista Apólice