Poucos sabem, mas escravos eram “bens” segurados até a Abolição da Escravatura no Brasil. Em razão de seu fim, dois tipos de seguros ruíram: um para o transporte de escravos pelos navios negreiros e outro por morte natural dos negros. Todos beneficiavam os donos de navios ou senhores de engenho. Parte dessa história, registrada em apólices e documentos digitalizados, pode ser acessada pelo Cedom da CNseg. Página virada na história de um setor dos mais engajados em promover a diversidade, não só racial, em seus quadros na atualidade.
O Brasil foi um dos maiores mercados do tráfico negreiro e um dos últimos países a abolir a escravidão, à frente apenas de quatro nações (Zanzibar, 1897; Etiópia, 1942; Arábia Saudita, 1962; Mauritânia, 2007). Curiosamente, as seguradoras marítimas especializadas em apólices para navios negreiros ampliaram sua produção de prêmios após a proibição do tráfico de escravos pela Inglaterra, em 1834. Isso porque os preços dos escravos subiram extraordinariamente a partir daí, o que tornava as perdas vultosas em caso de acidentes marítimos, oferecendo riscos à sobrevivência das empresas de transporte.
Resultado: os prêmios pelas coberturas subiram a partir de meados do século XIX pelo fato de os escravos terem se tornado uma carga valiosa. Já no caso dos seguros para os escravos nos engenhos, a atuação era cautelosa, já que as companhias cobriam apenas morte natural, comprovada com perícia feita pela seguradora, e essa cobertura valia apenas para negros entre 12 e 45 anos, a mão de obra predominantemente usada pelos senhores rurais. O único legado dessa época é que o seguro por morte de negro inspirou o que hoje é conhecido como seguro de vida.