Por Júlio Filho – 30 de julho de 2020 – Foto: Cortesia Paramount Pictures
O Presidente do Sindseg PR/MS e Diretor Regional Sul da Bradesco Seguros, Altevir Dias do Prado, foi o palestrante convidado da “Quinta com Benefícios”, promovido pelo ISB Brasil nesta quinta-feira (30/07).
Realizado por videoconferência, mais de 220 pessoas assistiram a palestra que teve como tema “De volta pra Casa”, no qual Altevir fez uma emocionante reflexão sobre o momento pelo qual estamos passando.
De volta pra Casa
Reflexão
Iniciando com a pergunta “Do que você tem medo”, Altevir abriu sua palestra falando sobre a evolução da espécie humana .
Ele explicou que no início, quando o nosso ancestral hominídeo desceu das árvores e ficou em pé, ele era uma espécie lenta e fraca. Com isso, não demorou para ter consciência e medo da morte. Como forma de continuar sobrevivendo como espécie, a solução foi se reunir bando, em grupos, com o conceito de “todos os todos”. Começava ali a nascer o conceito de sociedade. Como o tempo, além do medo dos predadores, começaram a Identificar medo outros medos como medo da chuva, do frio, o que os fez descobrir as cavernas (nossa primeira casa).
Segundo Altevir, a caverna resolveu muitos problemas, principalmente de segurança, além de ser um ambiente favorável para o surgimento do conceito de Família, base para que nos tornássemos, de fato, humanos. “A caverna foi fundamental para a evolução humana. Lá estava o DNA da humanidade. Foi nas cavernas que humanidade nasceu”, reflete Altevir Prado.
Em um fêmur com 15 mil anos encontrado numa escavação arqueológica está a certidão de nascimento da Humanidade. O femur estava partido, mas tinha cicatrizado. Este é um dos maiores ossos do corpo humano e que demora seis semanas para curar. Alguém tinha cuidado daquela pessoa. Abrigou-a e alimentou-a. Protegeu-a, ao invés de a abandonar à sua própria sorte.
Na natureza, qualquer animal que quebre uma perna está condenado. Se for um predador, não irá conseguir caçar; se for uma presa, não conseguirá fugir. Está morto. O que nos distingue, enquanto civilização, é a empatia, a capacidade de nos preocuparmos com os outros. Antes da caverna, eram “todos por todos”. Com a caverna, o conceito passou a ser “todos por um”. “A sociedade nasceu antes, mas a humanidade nasce na caverna”, analisa Altevir.
A caverna também organizou o conceito de trabalho. Diminuiu a correria e provocou o gerenciamento, a organização e desenvolvimento das tarefas. Evoluía então o pensamento, a estratégia, características exclusivas da espécie humana.
Altevir destacou a importância da mulher nesse processo embrionário de família. Estudos demonstraram que era ela que, além de cuidar, identificava necessidades para a sobrevivência do grupo. O pensamento fez nascer a produção de alimentos, com a agricultura e a pecuária nos arredores da caverna. Deixamos, com isso, de ser nômades e passamos a ser sedentários, um importante passo para a evolução da nossa espécie.
Com a produção de alimentos, surge o excedente e, com ele, segundo Altevir, o primeiro erro da espécie humana. Alguém se apropria do excedente, passando a controlá-lo. Essa pessoa também teve de contar com outros para proteger esse excedente de quem não o tinha. Essas pessoas passam a não mais produzir, e que produz tem de trabalhar mais para sustentar essas pessoas. Com isso surge a avareza, a mesquinharia, a disputa e a violência. Com isso, a humanidade regride, voltando a temer a morte.
Uma sequência de erros cria uma nova organização social, com todos desejando deter o excedente, que proporciona poder, sucesso e controle à quem o tem. E cada um passa a querer construir o próprio excedente. “Neste momento, cai por terra o conceito de ‘todos por um’, surgindo o de ‘cada um por si’”, explica Altevir, que completa: “Talvez, o grande erro da humanidade”.
Nova Humanidade
Passamos a construir grandes e confortáveis “cavernas”, mas não ficamos mais dentro delas, afinal, não é na “caverna” que se constrói excedente. Com isso, voltamos para a correria e retrocedemos.
“Quanto mais nos afastamos da ‘caverna’, mais perdemos nossa Humanidade”, frisa Altevir. Segundo ele, fomos para os extremos. Por falta de tempo, terceirizamos a educação dos filhos e o cuidado uns dos outros, principalmente daqueles que nos cuidaram (pais e avós). “Perdemos tempo de cuidar. Perdemos o conceito de família. Perdemos nossa Humanidade”.
Altevir lembra que viver fora da “caverna” não é felicidade. A felicidade está na Humanidade, na essência humana. “Em pleno século XXI, foi preciso um vírus para nos trazer de volta para a ‘caverna’, para nos fazer voltar pra casa”, reflete. Mas esse retorno foi compulsório, o que nos fez ficar angustiados, pois já havíamos nos esquecido da nossa essência.
Neste ponto, Altevir provoca nossa reflexão: Voltar pra casa deveria ser motivo de alegria, mas a situação não nos fez entender isso. Então, o que deu errado, afinal?
A resposta está na apropriação e na necessidade de construir e acumular excedente. “Hoje, todos dependem de um e um depende de todos. É preciso reaprender a sermos Humanos. Reaprender que o carinho e a proteção está na ‘caverna’ e que a felicidade não está fora, mas, sim, transbordando de dentro das nossas ‘cavernas’. A acumulação do excedente não é a felicidade. Precisamos que um vírus nos mostrasse que estávamos errados”, ensina, Altevir.
“É no amor, no cuidado de mãe, na família que está a felicidade. O importante é colecionar momentos e não coisas. São os momentos que serão lembrados pela eternidade. O importante não é o presente que se dá ao filho em seu aniversário, mas sim estar presente nesta data especial. É preciso regressar, voltar pra casa, porque é em casa que está a essência Humana” .
Altevir finaliza a palestra com uma mensagem baseada em uma analogia do filme ‘Forrest Gump, O Contador de Histórias’: “Um dia teremos de sentar em um banco e contar nossa história. Que essa nossa história, então, não seja sobre coisas adquiridas, mas de momentos inesquecíveis. Vamos valorizar mais o que somos e não o que temos”.
Como reflexão final, Altevir lembra que o momento pelo qual estamos passando está fazendo a sociedade sangrar, mas também nos fazendo pensar, nos trazendo de volta para a nossa humanidade. “Estamos tendo uma oportunidade ímpar de nos encontrarmos com a gente mesmo. O modelo ‘todos por um’ é a essência da Humanidade. Vamos, então, valorizar os momentos que estamos passando. No futuro, tenho certeza, iremos sentir saudades destes momentos”.