Sonho Seguro – 15/04/2025 07:33 – por Denise Bueno

ABECOR (Associação Brasileira das Empresas de Corretagem de Resseguros) lançou a primeira edição do relatório [Re]Vision Research, com uma análise detalhada dos últimos cinco anos do mercado brasileiro de resseguros e Insurance-Linked Securities (ILS). O levantamento, coordenado pelo consultor Francisco Galiza, Rodrigo Botti, da corretora Lockton, e Pedro Roncarati, da Editora Roncarati, mostra uma retração significativa na retenção de prêmios pelas resseguradoras locais e aponta para o início de uma nova fase com a constituição das primeiras Sociedades Seguradoras de Propósito Específico (SSPEs), voltadas à estruturação de operações com ILS.

Segundo o relatório, a participação das resseguradoras locais no volume de prêmios emitidos pelas seguradoras caiu de 59% em 2018 para 30% em 2024, aproximando-se dos níveis mais baixos da série histórica. Em paralelo, o volume de prêmios de resseguro aceito oriundo de seguradoras estrangeiras — considerado como exportação — recuou de R$ 5 bilhões em 2020 para R$ 1,8 bilhão em 2024, enquanto a dependência de proteção de resseguradoras offshore aumentou.

O estudo também destaca o crescimento do cosseguro no país, cujo volume mais que dobrou nos últimos três anos, passando de R$ 2,5 bilhões em 2021 para R$ 5,3 bilhões em 2024. A proporção do cosseguro sobre o total de prêmios de seguros gerais subiu de 1,8% para 2,8%, o que pode indicar uma insuficiência na oferta de resseguro no país.

Em relação ao mercado de ILS, o relatório registra a constituição, em dezembro de 2024, das duas primeiras SSPEs brasileiras — Andrina e Galápagos — com expectativa de emissão das primeiras Letras de Risco de Seguro (LRS) no primeiro semestre de 2025. As LRS funcionam como equivalentes nacionais aos cat bonds, títulos que transferem riscos de seguros para investidores do mercado de capitais.

“Nos últimos anos, o mercado global de resseguros atravessou um período de hard market. Nas renovações anuais ocorridas em 1º de janeiro de 2025, período no qual grande parte dos contratos é renovada, as indicações apontaram uma redução nas taxas. Contudo, o mercado ainda permanece classificado como hard market”, comenta Botti.

No cenário global, o volume de ativos vinculados a ILS atingiu US$ 115 bilhões em 2024, o equivalente a 20% do mercado tradicional de resseguros. O índice Swiss Re Cat Bond, principal referência de rentabilidade para esse tipo de instrumento, registrou retorno de 17,29% no ano, muito acima da taxa de referência dos Fed Funds (1,6%).

Em termos de participação de mercado, o levantamento aponta que 25 grupos seguradores foram responsáveis por R$ 24,2 bilhões em prêmios de resseguro cedido em 2024. Mapfre, Allianz, Brasilseg, Tokio Marine e Chubb lideram o ranking. As taxas de retenção variam amplamente entre as empresas, refletindo diferentes estratégias de transferência de risco. A participação do IRB Brasil RE caiu de 33,6% em 2019 para 16,3% em 2024, enquanto as resseguradoras locais independentes avançaram levemente, e as offshore cresceram de 33,3% para 44,3%.

O relatório também aborda a evolução do mercado de seguros gerais. Em 2024, o volume de prêmios emitidos chegou a R$ 192 bilhões, com crescimento de cerca de 10% sobre o ano anterior. A sinistralidade bruta vem caindo desde o pico da pandemia, e o combined ratio se estabilizou em 85%, patamar inferior ao período pré-Covid.

Nos próximos anos, a expectativa é de ampliação do mercado de ILS no Brasil, com novos produtos financeiros sendo desenvolvidos a partir da regulamentação vigente. A publicação prevê edições regulares com atualizações do setor, tanto no Brasil quanto no exterior.

“A ABECOR tem como missão fomentar o desenvolvimento do setor de corretagem de resseguros no Brasil, promovendo o intercâmbio de conhecimento, a valorização da atividade e o fortalecimento da atuação dos nossos associados. O atual estudo reflete esse compromisso, trazendo reflexões e análises que contribuem para o avanço da nossa indústria”, comentou Eduardo Toledo, presidente da entidade.