Em entrevista exclusiva ao Sindseg PR/MS, Dr. Ewerson Cavalcanti fala sobre a importância de detectar o câncer de próstata em estágios iniciais.

Sindseg PR/MS – O que é a próstata? Qual a sua função? Por que é tão comum o câncer neste órgão?

Dr. Ewerson –  A próstata é um órgão que fica bem próximo da bexiga e do reto também, até por isso que o exame é o toque retal. A função dela é produzir o líquido da ejaculação do homem. O câncer nesse órgão é o segundo mais comum em homens – perde apenas para o câncer de pele – mas não se sabe exatamente o porquê da alta incidência.

Sindseg PR/MS – A idade é um fator de risco importante?

Dr. Ewerson – A gente ainda não tem muitos estudos mostrando porque ocorre mais câncer de próstata em idades mais avançadas, sabemos apenas que a idade é um fator de risco. A partir dos 65 anos temos um aumento muito grande dos casos de câncer de próstata. Mais ou menos 75% dos casos são diagnosticados após os 65 anos de idade.

Sindseg PR/MS – Quais são os sintomas para identificar o câncer de próstata?

Dr. Ewerson – A doença não dá muitos sinais. Quando aparecem sintomas já são casos avançados, dor óssea, anemia e perda de peso. Em estágio inicial não apresenta muitos sintomas então por isso a prevenção é muito importante.

Sindseg PR/MS – Quais são as recomendações para a prevenção?

Dr. Ewerson – O que preconizam as sociedades, tanto de urologia quanto de cirurgia oncológica, a partir dos 50 anos fazer a prevenção, consultar o médico com a realização do exame do toque e do exame de sangue. Algumas situações em que o paciente já tem histórico de casos de câncer na família, principalmente parentes próximos, irmãos ou pais, a gente orienta iniciar os exames preventivos cinco anos antes, a partir dos 45.

Sindseg PR/MS – Já existe maior conscientização da população masculina sobre a necessidade dos exames preventivos?

Dr. Ewerson – Isso está melhorando, ainda tem muito preconceito, piadinhas e tudo, mas a gente sabe que o homem está começando a se cuidar mais. O Novembro Azul acaba focando mais no câncer de próstata mas na verdade é para chamar a atenção para a saúde do homem. A mulher é ensinada desde pequena a cuidar de sua saúde, frequentar o ginecologista, fazer exames preventivos, tocar a mama para ver se não tem nenhum nódulo. Mas o homem sempre foi essa questão do preconceito. Então nos últimos anos com as campanhas de conscientização que a gente tem feito e exames mais modernos, temos identificado mais casos de câncer, porém em estágios iniciais. Quando o diagnóstico é feito em estágio mais avançados, pouco temos a fazer.

Sindseg PR/MS – A dificuldade para urinar pode ser um sintoma?

Dr. Ewerson – Os sintomas prostáticos são muito comuns porque todo o homem a partir dos 50 anos começam a ter um crescimento benigno da próstata e isto faz com que o paciente tenha sintomas, retenção urinária, jato fraco, entre outros. O câncer de próstata pode também apresentar estes sintomas, mas isto em estágios mais avançados.

Sindseg PR/MS – Um pouco da sua experiência profissional de pessoas que acabaram não se prevenindo e descobrindo a doença tarde demais.

Dr. Ewerson – Infelizmente é muito comum principalmente por conta do preconceito. Então o homem acaba não procurando o atendimento e escondendo alguns sintomas. Sabendo que vai ter que fazer um exame que é desconfortável, acaba retardando um pouco a procura. Aí quando começa com sintomas mais graves, acaba procurando o médico porque fica sem muita alternativa. Então começa com anemia, perda de peso muito importante, com dor no osso, isso já são sinais que a doença está mais avançada. Aí a gente faz o diagnóstico da mesma forma, mas o tratamento é um pouquinho diferente. Quando está avançado, com metástase, a gente não tem mais o objetivo de cura, tentamos controlar a doença. Em muitos casos com êxito, mas em outros não. Então o paciente acaba tendo uma evolução com dor e com desconforto e em muitos casos acaba falecendo. É até repetitivo a gente falar, mas isso vale não só para o câncer de próstata, como todas as outras doenças, quanto antes diagnosticarmos maiores as chances de cura. Nos estágios iniciais de câncer de próstata as chances de cura chegam a 100%.

Sindseg PR/MS – A perda da virilidade seria ainda um receio dos homens em relação aos tratamentos do câncer de próstata?

Dr. Ewerson – Existem várias opções de tratamento, cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, existe até a opção de não fazer nenhum tratamento, ficar apenas observando mais de perto, a chamada vigilância ativa. Tratando especificamente da cirurgia, uma das complicações é a impotência sexual. Isso é outra questão que acaba sendo levado em conta na hora do homem decidir entre um tratamento ou outro. A radioterapia também tem esse risco. Existem efeitos colaterais, precisa conversar bem com o paciente, não são todos os casos que vão desenvolver essa complicação, mas são situações que existem e podem ocorrer com a terapia ou pós-operatório.

Sindseg PR/MS – Quando o câncer de próstata atinge pessoas mais jovens é mais agressivo?

Dr. Ewerson – Não é uma verdade absoluta. É muito raro câncer de próstata abaixo dos 40 anos, mas pode acontecer e normalmente quando acontece são tumores mais agressivos. Não quer dizer que sejam incuráveis, mas normalmente são mais agressivos do que aqueles identificados em pessoas mais idosas.

Sindseg PR/MS – Hábitos de vida saudáveis podem ajudar a prevenir o câncer de próstata?

Dr. Ewerson – Para a saúde geral é bom ter um hábito de vida saudável, evitar fumar, evitar bebida alcoólica e praticar atividade física pelo menos três vezes por semana. No caso do câncer de próstata não tem nenhuma comprovação científica de que isso efetivamente reduza a incidência. Mas sem dúvida contribui para a saúde de uma forma geral. Alimentação também não há comprovação científica sobre a propriedade de algum determinado alimento para prevenir câncer de próstata.

Sindseg PR/MS – O senhor teria alguns dados sobre a doença?

Dr. Ewerson – A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) é de 65 mil novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil e 15,5 mil óbitos. É o segundo tipo de câncer com maior incidência no homem, perde apenas para o câncer de pele, e na mortalidade também figura em segundo lugar, perdendo apenas para câncer de pulmão e brônquios.

Sindseg PR/MS – Qual a importância da campanha Novembro Azul?

Dr. Ewerson – A campanha em si fica mais restrita ao governo e às sociedades de urologia e cirurgia oncológica na conscientização da população em geral. Extremamente importante esse trabalho. Mas é preciso entender que não é só em novembro que a gente tem que se cuidar. O homem acaba lembrando em novembro e, como tem a campanha uma vez por ano, procura o médico. Mas é preciso se preocupar com os outros tipos de câncer, mortes violentas e tudo mais. É muito triste quando a gente vê um paciente que já tinha alguns sintomas e retardou o tratamento, não quis ir ao médico muitas vezes por preconceito ou medo, e aí chega em uma situação mais avançada que não conseguimos nem tentar a cura da doença. Por outro lado, temos aqueles que se cuidam, fazem a prevenção anual e quando tem um diagnóstico precoce conseguimos tratar e a pessoa segue a vida normalmente. Então esse é o principal recado. É preciso se cuidar, deixar os preconceitos de lado, olhar mais para a própria saúde e fazer o exame anual de próstata a partir dos 50 anos.