Sonho Seguro – Por Denise Bueno -10/10/2021 14:31 

Em recentes entrevistas realizadas pela jornalista Denise Bueno nos últimos 30 dias, ela perguntou a alguns dos principais porta-vozes do setor: “Como vê o Open Insurance e quais os desafios e ações para se adaptar as novas regulamentações?“.

Diante da vocação de todos em disseminar uma cultura sobre o mercado de seguros, compartilho com todos um resumo das respostas:

Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros

A questão do Open Insurance deve ser vista sob a ótica de dois pilares. O primeiro pilar refere-se à governança, ou seja, como assegurar a proteção e o bom uso dos dados e informações dos nossos clientes para efeitos comerciais. Esse é um ponto de atenção fundamental para que se possa operar na plenitude no novo modelo. O segundo pilar diz respeito às oportunidades que o Open Insurance certamente trará, como uma experiência facilitada para o cliente, maior acesso a dados e informações e possibilidade de seguradoras e corretores criarem produtos mais adequados para atender as necessidades dos segurados.Por enquanto, ainda não se consegue visualizar o verdadeiro alcance dessas normas, que ainda não foram totalmente concluídas. Somente quando elas estiverem em vigência é que haverá um pouco mais de clareza para os parceiros de negócios sobre como o processo ocorrerá. Há uma preocupação de que talvez o legislador não tenha contemplado integralmente na norma a figura do corretor, na proporção da sua relevância. Em resumo, portanto, nós, do Grupo Bradesco Seguros, entendemos que se deva reforçar a questão da governança e, ao mesmo tempo, absorver as oportunidades que esse novo mundo nos apresenta. 

Roberto Santos, CEO da Porto Seguros

A Porto Seguro sempre teve a inovação em seu DNA e hoje realiza uma série de inciativas que apontam para o uso cada vez mais intenso da tecnologia. A empresa vê com bons olhos as novas regulamentações lançadas pela Susep com o objetivo de aumentar a inclusão securitária – tema essencial para o setor. Em relação ao open insurance, no entanto, acreditamos que ainda são necessários ajustes estruturais na proposta.

Rodrigo Caramez,  quando ainda era presidente da Brasilseg

Vemos o Open Insurance como uma grande oportunidade proporcionada por nosso regulador, a Susep. Tudo que venha para trazer mais simplicidade e transparência, aumentando o controle e visibilidade aos clientes finais, contribui para a disseminação da cultura de seguros que tanto buscamos. Estamos fazendo nossa lição de casa, e os investimentos realizados pela Brasilseg na digitalização e conectividade das estruturas da companhia, em complemento aos da BB Seguridade e Banco do Brasil, nos colocam em linha com o que vem por aí. Agora, com as etapas de implementação claramente estabelecidas, podemos acelerar ainda mais o passo. Estamos, por exemplo, focados em oferecer uma experiência e serviços diferenciados ao produtor rural, que conta com nossa plataforma digital Broto, onde encontra, em um só lugar, tudo o que ele precisa para cuidar do seu negócio, em todas as etapas da cadeia produtiva, mitigando riscos e aumentando a produtividade.

Edson Franco, CEO da Zurich Brasil

Considero que é preciso um debate mais amplo e profundo sobre a implementação do Open Insurance. Há uma comparação com o que é feito no setor bancário, mas vale a pena lembrar que o segmento bancário não é intermediário, mas o seguro sim. Nós já promovemos o Open Insurance, principalmente no Varejo. Essa concorrência que tanto se fala já existe entre as seguradoras. Queremos criar um novo ambiente, do ponto de vista mais tecnológico, mas não precisamos criar novos agentes de intermediação nesse processo.

O princípio é nobre. Somos defensores da livre concorrência. Recebemos de braços abertos as transformações que estimulam a concorrência. Mas temos de ser prudentes. Sandbox é um modelo interessante. Não inibe novas ideias. Deixa que as insurtechs germinem em um ambiente controlado e conforme crescem terão de aderir ao modelo do setor, com solvência. As regras existem para proteger o consumidor. Faz reservas e tem provisões para que os direitos do cliente sejam garantidos. Esses princípios não podem ser abandonados. Não pode contemporizar, ser complacente com modelos que não tenham o mesmo nível de proteção ao consumidor.  

Sou 100% favorável a concorrência com regras simétricas, como estabeleceu a Susep ao criar os diferentes níveis de seguradoras, conhecido pelos 5 S, S1 S2 ….S5. Outra coisa é prudência com segurança de informação. A livre concorrência e acesso a informação com princípios de proteção de dados do consumidor vão além das questões legais.

Também me preocupa a atenção ao risco cibernético. Temos de ter um modelo robusto de proteção, com a autorização do cliente, uma vez que as regras dão a capacidade de qualquer ente que esteja autorizado a acessar os dados. Sem isso, podemos ter um problema grande. Temos visto centenas de milhões de dados de contribuintes e cidadãos sendo roubados por hackers. Empresas grandes, com bom nível de proteção cibernética, sendo atacadas. Se não tiver modelo operacional robusto, pode criar um modelo frágil e favorecer a ação deste tipo de crime. E por fim, acredito que os prazos de implementação não parecem compatíveis para a construção de um modelo robusto para endereçar todas essas questões. 

Patricia Chacon, CEO da Liberty Seguros Brasil 

Open Insurance ainda está em fase embrionária, estamos ativamente discutindo junto ao mercado os impactos e as possibilidades que ele trará para o setor de seguros, além das regulamentações que estão em processo de construção a partir da experiência do open banking. A Liberty Seguros está, entretanto, aberta às mudanças e possibilidades que o Open Insurance e atenta às implicações do modelo na vida dos nossos clientes e parceiros, que fazem uma parte integral da estratégia de sucesso da companhia.

José Adalberto Ferrara, CEO da Tokio Marine

Acredito que a intenção da Susep ao propor o Open Insurance é muito digna porque proporciona ao Cliente mais clareza e transparência quanto aos produtos e serviços oferecidos pelas Seguradoras. O consumidor passa a ter mais poder em mãos para optar pela compra do que julgue ser a melhor solução para suas demandas. Isso deve provocar mais competitividade no mercado e, consequentemente, a evolução da nossa indústria no País, o que é muito positivo. Ao mesmo tempo, ainda há muitas incógnitas e uma, em especial, nos causa bastante preocupação: qual será o papel do Corretor nesse processo? A Tokio Marine, por exemplo, é uma seguradora cujo principal canal de distribuição é o Corretor de Seguros e nós não vislumbramos a exclusão desse profissional em nenhuma das nossas iniciativas, ao contrário. Queremos, cada vez mais, contar com a consultoria dos nossos Corretores, que estão na linha de frente com os Clientes, para desenvolver soluções customizadas e adequadas às novas solicitações da sociedade. Além disso, questões como respeito ao modelo de negócios e estratégias de precificação das Companhias de seguros são fatores desafiadores e que devem ser pontos fundamentais de discussão sobre que modelo de Open Insurance será adotado no Brasil.Estamos participando ativamente das discussões com a Susep e tenho certeza de que chegaremos a um modelo que satisfaça todos os players da cadeia. 

Murilo Riedel, presidente da HDI Seguros

Como já é de conhecimento do mercado, no Brasil, o open insurance é uma iniciativa da própria indústria. Assim, temos orgulho em estar entre as marcas que aderiram a esse movimento, que é liderado pela organização internacional Open Insurance Initiative (Opin). Dessa forma, entendemos ser uma iniciativa muito importante para o mercado global de seguros, uma vez que vai criar padrões para que seguradoras, resseguradoras, corretoras e insurtechs conectem-se e partilhem dados entre si. Como disse acima, trabalhamos intensamente, nos últimos anos, em digitalização de processos e desenvolvimento de novos produtos, esse viés digital e inovador nos permite uma flexibilidade para implementar eventuais novos sistemas e nos adequarmos e estarmos em conformidade com as novas regulamentações.

Eduardo Domeque, diretor de Seguros do Itaú Unibanco

Nossa expectativa para o Open Insurance é termos um mercado mais integrado, competitivo e eficiente pelo uso de tecnologia e dados compartilhado, que fará o setor de seguros ofertar produtos cada vez mais customizados e assertivos aos clientes. Além disso, teremos um cenário com maior competição, algo que também beneficiará o cliente final. Acreditamos em uma grande evolução do sistema, permitindo maior acesso da população aos serviços financeiros e de seguros. Uma nova dinâmica se iniciará com os clientes tendo maior consciência e gestão de seus dados, além de um maior número de ofertas e possibilidade de comparativos. A implantação do Open Insurance está sendo discutida pelas seguradoras do mercado e um dos principais objetivos é padronizar os dados que serão fornecidos aos consumidores, permitindo assim a comparação. O principal desafio será adaptar alguns sistemas antigos aos modelos compartilhamento de dados e serviços.

Igor Di Beo, vice-presidente de Subscrição, Comercial e Marketing da AXA no Brasil

O mercado tem um grande desafio pela frente e, para nós, não é diferente. Neste momento estamos revisitando nossas estratégias de integração tecnológica (APIs) e temos um comitê de discussão em relação ao Open Insurance. Dentro da agenda prioritária de TI, trouxemos uma executiva de tecnologia do mercado de Telecom, muito avançado na visão cliente – ela chegou com a missão de trazer um novo olhar para a experiência do usuário, o que está intimamente ligado às tendências de mercado.

Marcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg)

Cito dois aspectos. As seguradoras estão preocupadas. As novas regulamentações e o Open Insurance demandam um envolvimento muito grande de várias pessoas de porte relevante dentro das companhias, como produtos, compliance, segurança da informação, jurídica. Temos 7 grupos de trabalhos na CNseg para discutir os diversos impactos do Open Insurance. No meio de tudo isso que estamos vivendo, tentando sair de uma pandemia, de um ciclo de taxa de juros baixa, competição danada, grande necessidade de baixar custo. Principal preocupação. Se envolver num momento que elas procuram resultado para sair do período difícil.

A segunda questão que nos traz preocupação é que a Susep ainda não definiu quais as informações de produtos que as seguradoras terão de colocar no ar. Até agora, apenas garantia está no SRO. E isso demanda tempo e recursos, ambos escassos com tantas mudanças. Temos de treinar muitos líderes para garantir que tudo vai sair como previsto, principalmente no que diz respeito a segurança de dados dos nossos clientes. 

Antonio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg)

O setor passa por grandes transformações. “2021 tem sido um ano intenso, principalmente no ambiente regulatório. Muitas mudanças. Todas positivas, em via de regra. Seguradoras estão menos amarradas para criar produtos. Mas é preciso levar em consideração tanto os prazos com os recursos financeiros necessários para viabilizar tantas mudanças. A ideia de ampliar a oferta e baratear os produtos é valida, mas não sei quando ela vai maturar”, pondera, vislumbrando um mercado segurador intenso nos próximos anos em todos os segmentos. 

Marcelo Farinha, presidente da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap)

O Sistema de Seguros Abertos (Open Insurance) está inserido no contexto mundial de inovação trazida pelo Open Finance e pelo Open Banking – dentro das premissas de que o digital conecta o mundo todo e de que o cliente é o legítimo proprietário de seus dados cadastrais. Este é um movimento que veio para ficar e (em tese) tende a beneficiar os atores do sistema: a indústria – pelo favorecimento da inovação, da ação colaborativa, pela perspectiva de ganho de eficiência e novos modelos de negócios;  O ente supervisor – em função do acesso a dados de operações como preço, sinistros, características… em tempo real, o que se traduz em eficiência e qualidade da ação supervisora; e principalmente o Consumidor – pela maior comparabilidade de produtos e serviços, acesso a produtos mais adequados às suas necessidades e preços mais competitivos. 

O Open Insurance muda a dinâmica atual: o cliente passa a ter controle sobre seus dados e surge a sociedade iniciadora, entidade auxiliar (não supervisionada pela Susep) a quem cabe a gerir todo o processo no âmbito do sistema. Embora represente uma evolução natural, o Opin desperta algumas preocupações na indústria: a exiguidade de prazo para implementação (primeira fase em 15/12), principalmente ao se considerar que a norma que rege o tema somente foi publicada em 21/07 e que essa transformação ocorre simultaneamente a outros movimentos regulatórios que também exigem atenção e energia e investimentos pelas Companhias reguladas pela Susep. Somente no primeiro semestre de 2021 foram colocadas em audiência 25 consultas públicas.

Outra preocupação diz respeito à segurança das informações trocadas no âmbito do Opin, lembrando que os dados pertencem ao cliente e que a LGPD impõe extremo rigor na proteção de dados. Enfim, evoluir de um sistema de APIs abertas para a mentalidade de “seguradora aberta” requer rígido controle regulatório, tempo, investimento e preparo, sobretudo para questões relacionadas à segurança das informações dos clientes. O sucesso da abertura do mercado vai exigir esforço coletivo de uma ampla gama de partes interessadas: empresas do setor, consumidores e desenvolvedores de tecnologia.

Cassio Gama Amaral Sócio do Mattos Filho Advogados

O Open Insurance, nesse contexto, a reboque do open banking e convergindo para o macro ambiente do open finance, nos parece o ecossistema ideal para equilibrar, amortecer e tirar o melhor da histórica tensão entre, de um lado, o liberalismo, a flexibilização e a autonomia contratuais e, de outro lado, a necessária intervenção estatal nos domínios econômicos e privados, tendo em vista a esperada redução da assimetria informacional que historicamente vem embaraçando o avanço dos seguros no Brasil.

Érika Ramos, sócia-líder do segmento de Seguros da KPMG no Brasil

Este cenário, conjuntamente, possibilita que os consumidores de produtos e serviços de seguros sejam os principais beneficiados de um ecossistema seguro, ágil, preciso e conveniente para o compartilhamento padronizado de dados, previsto na LGPD e demais legislações que tratam do sigilo de operações financeiras e serviços.  Além de acelerar ainda mais os temas de competitividade, transparência e promoção da inclusão financeira.

Como benefícios/ oportunidades podemos citar:

  • incentivo a inovação, a promoção da inclusão financeira/seguros, promoção da livre iniciativa, aumento de oferta e concorrência;
  • Interoperabilidade com Open Banking – trazendo mais agilidade, conveniência e segurança. Além da integração com serviços financeiros, o que cria oportunidades para novos modelos de negócios. 
  • Iniciação de serviços relacionados à seguros e previdência de forma digital – iniciação de serviços como aviso de sinistros, portabilidade de previdência, etc., de maneira simplificada via uma plataforma digital única e centralizada.
  • Definição de plano estratégico das seguradoras para ações de defesa e ataque quando Openinsurance estiver pronto para ações transacionais – venda de produtos / Exploração dos novos potenciais de negócio alinhados ao perfil dos clientes;
  • Comparadores, Marketplaces e agregadores de dados – soluções para comparação de produtos de diversas seguradoras em um só local de forma que os clientes consigam selecionar a melhor escolha. Além de agregação de dados de diferentes instituições, incluindo produtos de seguros, de previdência complementar e capitalização. 

Entre os desafios tem-se:

  • Integrar os sistemas legados (extração de informações) para conectar aos APP/API que é a forma de interatividade no Openinsurance;
  • Integração de todas as informações que envolvem o segurado (cadastro, informação de apólice, sinistro, situação financeira do seguro) que muitas vezes estão em sistemas distintos para que sejam concatenadas para alimentar o Opensinsurance (desafio de concatenação bem como acerca da qualidade das informações);
  • Definição dos parâmetros e gestão de dados (consentimento/UX-User Experience), privacidade e segurança da informação;
  • Gestão do ambiente de governança e a configuração da intermediação, o papel consultivo do Corretor de Seguros neste processo e também dos parceiros de negócios.