EXCLUSIVO – Desde o dia 03 de agosto o sistema de bônus dos seguros de automóveis passaram por duas mudanças. A primeira foram as novidades estabelecidas pelas seguradoras, em conjunto, a partir desta data. Entre as principais alterações está a ampliação do prazo para concessão e manutenção do bônus; o acréscimo de bônus (sem ocorrência de sinistro) passou de até 30 dias para até 60 dias, contados a partir do fim de vigência da apólice; em caso de não renovação, a redução de bônus em apólice passa de até um ano (redução mensal) para até dois anos (depois disso, será zerado); o bônus relativo à cobertura (ex. inclusão de casco) será mantido (endosso); quanto à alteração de categoria (ex. de táxi para passeio), em vez de redução, passa por acréscimo (no caso de renovação sem sinistro); Permanecem sem bônus carros de test drive, viagem de entrega, locadoras, autoescola e chapa de experiência/fabricante.
Segundo o presidente da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais), Antonio Trindade, estas mudanças foram estabelecidas a partir de reuniões com os representantes da Comissão de Automóvel da entidade. “De fato, conversamos com apenas alguns sindicatos de corretores, não com a liderança nacional, o que foi um erro de nossa parte”, admite. Entretanto, todas as seguradoras que operam em automóvel concentraram esforços para colocar todo o projeto no ar no início de agosto.
“Nós não sumimos com o bônus, mas aproveitamos as discussões para apresentar os benefícios contidos nas regras de bônus do seguro automóvel podem ser resumidos em seis pontos: simplificar, personalizar os critérios, eliminar dúvidas, reduzir tempo e custos operacionais, agilizar a emissão das emissões e, sobretudo, inviabilizar seu uso indevido. Sabemos que, para o canal de distribuição, quanto mais rápida a emissão da apólice, mais rápido ele recebe sua comissão. É uma operação ganha-ganha. O bônus é pessoal e sabemos que, em alguns casos, ele estava sendo usado por outras pessoas, o que nos levou a colocar travas para organizar o processo e evitar a competição predatória”, comenta Trindade. O objetivo era evitar distorções entre o pricing.
Em resumo, a motivação principal foi recuperar clientes ampliando a concessão e manutenção do bônus. De acordo com informações da Fenseg, as mudanças foram pensadas para preservar a essência do bônus, que é uma conquista do consumidor, daí a necessidade natural de promover ajustes. E como se tratava de uma mudança importante, não podia ser de atropelo. Em razão disso, esse processo de consultas às áreas técnicas das seguradoras durou um ano e meio. A ideia foi valorizar ainda mais o bônus como um cadastro positivo em que as informações dos clientes são compartilhadas, permitindo a portabilidade do segurado e garantindo que ele possa levar junto sua classe de bônus.
Na verdade, esses ajustes foram motivados, em grande parte, por sugestões trazidas das áreas comerciais, além de diversas denúncias recebidas de corretores, que são prejudicados pelo mau uso do TDO (Transferência de Direitos e Obrigações), com a “fabricação de bônus” alto, problema enfrentado pela determinação de que o bônus é pessoal e intransferível, inviabilizando a sua migração de um CPF ou CNPJ para outro.
A segunda mudança aconteceu no dia 05 de agosto, quando a Susep (Superintendência de Seguros Privados), emitiu uma medida cautelar suspendendo as mudanças nestes critérios de bônus, atendendo a um pedido da Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros). Segundo nota emitida pela entidade na última segunda-feira, “essas mudanças, que foram suspensas preventivamente pela Susep, poderiam trazer sérios danos aos segurados. Inclusive, com um possível alinhamento de preços, pois há poucas seguradoras operando no ramo Auto. Os corretores também seriam diretamente impactados pela medida, que altera práticas já consagradas há muitos anos’, afirma o presidente da Fenacor, Armando Vergilio, acrescentando que não há razão plausível para se mudar, no afogadilho, sem ouvir quem mais conhece e entende da operação e da estrutura do ramo auto de forma tão rápida. Parece haver um alinhamento unilateral que prejudica consumidores e corretores e fere uma conduta do mercado”, alerta a nota.
Trindade, no entanto, ressalta que não há nenhuma ‘pegadinha’ nas mudanças ou nada que prejudique o consumidor. “A formação do preço do seguro de automóvel não se dá pelo bônus, mas pela idade do motorista, local onde o carro pernoita, tipo de carro, experiência do motorista, cidades, regiões, variando pelo Brasil afora. Não é o bônus que fará diferença no final do dia”.
Agora, há um esforço da Fenseg para fazer reuniões com as lideranças do setor de distribuição para aperfeiçoar as mudanças. “Vamos conversar também com o regulador para mostrar como era e o que está sendo proposto, quais são as melhorias para o consumidor e para os distribuidores e o benefício que trazem à indústria do seguro”, ressalta Trindade.
O presidente da Fenseg afirma que tudo o que o mercado não precisa é de uma batalha inócua. “Temos certeza de que iremos conversar e chegar a um denominador comum junto com os corretores de seguros”.
Kelly Lubiato