JRS – Blue Chip 17 horas atrás
Luiz Marcatti é sócio e presidente da Mesa Corporate Governance / Foto: Murillo Constantino / Divulgação
Após mais um ano de pandemia, a alta administração das empresas priorizou a sobrevivência enquanto teve de lidar com expectativas frustradas. Apesar de alguns setores retomarem atividades, a maioria sentiu o agravamento da crise macroeconômica no Brasil e no mundo, que trouxe de volta os fantasmas da inflação e juros altos. Quem tinha na governança uma visão clara sobre a situação da empresa e leitura do quadro de mercado e capacidade de reagir a esse cenário todo, saiu melhor. Mas houve quem ficou pelo meio do caminho.
Um aspecto importante da governança no último ano aponta para o mercado de capitais. O apetite pelos IPOs fez com que algumas empresas atropelassem o processo de estrutura de governança para aproveitar as chamadas janelas de oportunidade de abrirem seu capital. Não é um fenômeno novo, pois observa-se que em momentos de abertura de capital pode ocorrer uma certa diminuição da qualidade da governança, cumprindo-se mais um checklist do que de fato ter governança estruturada. E são essas empresas que estão perdendo valor, mesmo empresas ligadas ao mundo digital e ao e-commerce.
Dando continuidade à tendência do ESG que ganhou prevalência em 2021, as empresas se voltaram mais para preocupações ambientais. O conceito, que bastante impulsionado por parte dos investidores, teve um período propício ao estímulo com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26) e pela exposição internacional do país por causa da repercussão e controversas acerca do desmatamento da Amazônia.
Em 2022, com a economia fragilizada, as empresas brasileiras deverão estar cautelosas e conservadoras, para se protegerem do PIB de 2021, porém o agronegócio deve figurar com perspectivas mais positivas e espera-se uma safra recorde de grãos. De modo geral, o ano iniciará com inflação nas alturas, tendo de lidar com a escassez de insumos e de matéria-prima, altos reajustes de mão de obra, entre 10% a 11% na maioria dos dissídios, além de energia e combustível caros, e o governo sem condições de investir. O crescimento é sobre base negativa.
As preocupações do novo ano estendem ao enfrentamento da pandemia da covid-19. O surgimento da nova variante ômicron deixa o mundo em alerta, mas o Brasil está em um movimento preventivo, sendo cauteloso quanto a flexibilização dos protocolos de segurança e avançado na vacinação. De qualquer modo, uma nova onda seria desastrosa, porque o governo não tem o mesmo fôlego e não conseguiria acelerar a economia com os cofres vazios.
A eleição presidencial que acontecerá em outubro também deve dominar o cenário. O período não tem fôlego político para grandes reformas. O Brasil precisa de uma agenda mais liberal, que incentive o crescimento do ambiente empresarial, com investimentos em infraestrutura e com atenção às questões sociais. Para voltar a crescer, precisamos de um planejamento que independa de interesses eleitorais.
O ano que começa não será voltado para grandes riscos, para não perder foco e energia. Não iremos voltar ao patamar de 2019. Se o governo conseguir pelo menos segurar a inflação para que ela não expanda mais, já será uma grande vitória.