O último grande degrau para a escalada do seguro na economia brasileira.

O Brasil é hoje a 9ª economia do mundo, mas figura na 46ª posição quando se trata do volume arrecadado pelo mercado segurador per capita, ficando atrás, inclusive, de países da América Latina, como o Uruguai e o Chile, segundo informações da Escola Nacional de Seguros (ENS).

Na lista dos 30 países com maior penetração do seguro na economia não existe nenhum país em desenvolvimento, são todos países com renda per capta e IDH elevados. Estados Unidos encabeça a lista seguido por Suíça, Dinamarca e Irlanda conforme a publicação “World Insurance” (Swiss Re Institute).

Mesmo com as sucessivas crises econômicas das últimas décadas, o setor de seguros no Brasil vem crescendo acima do PIB e com isso aumentando sua representatividade. Ampliou de menos de 1% a participação no PIB registrada até 1994, para cerca de 6% atualmente.

Além de fatores econômicos e institucionais, como a estabilização da moeda e boa atuação dos órgão regulatórios e representativos do setor, em grande medida este avanço se deu por mérito das seguradoras que atuam no país. A maioria grandes multinacionais que trazem suas expertises em economias maduras, mantém corpo funcional altamente qualificado, intercâmbio de dados e de tecnologia e estão em constante busca por eficiência. Demonstram capacidade de adaptação às particularidades regionais e às novas tendências econômicas moldando sua atuação de acordo com os novos hábitos e anseios da sociedade.

As empresas do setor atravessaram as intempéries econômicas das últimas décadas e consolidaram trajetória de crescimento lançando mão de vários artifícios como, diversificação da oferta, customização de produtos e ampliação dos canais de distribuição. O seguro se disseminou no Brasil e hoje pode ser facilmente contratado com os corretores, em agências bancárias, em redes varejistas, pela internet e em outros balcões.

Não se restringe mais à proteção do automóvel e entrou definitivamente na agenda dos brasileiros. Se existia ainda alguma resistência sobre a necessidade de contratação dos diversos ramos de seguro, a pandemia de Coronavírus acabou forçando esta conscientização.

Um mercado estruturado, com variedade de ofertas, preços competitivos, consumidor consciente da necessidade, e então, o que falta para o Brasil subir posições no ranking dos países que mais contratam seguro?

Doutor em Ciências Econômicas e Executivo Regional Sul da maior seguradora em atividade no Brasil, o presidente do Sindicato das Seguradoras do Paraná e de Mato Grosso do Sul (Sindseg PR/MS), Altevir do Prado, entende que ainda há espaço para maior penetração do seguro na economia brasileira e aponta dois grandes desafios. “É preciso que o consumidor seja bem informado, tenha uma boa experiência ao contratar seguro pela primeira vez e da mesma forma quando precisar acionar a cobertura.  E a segunda questão bem mais complexa, seria a redução das desigualdades sociais no Brasil, com a inclusão de um imenso contingente de pessoas que hoje está fora do mercado de consumo”.

Mais do que inclusão social o desafio é a inclusão produtiva

Um estudo publicado pelo Ipea em 2020 chamado “A inclusão produtiva como eixo de política de proteção social: contexto latino-americano e questões para a realidade brasileira” aponta que parte dos problemas socioeconômicos dos países da região é explicada na literatura pela heterogeneidade da estrutura produtiva de suas economias nacionais.

Segundo o estudo, países latino-americanos como o Brasil tem sua economia marcada por um largo diferencial de produtividade entre setores e empresas em atividade e elevada volatilidade do produto interno bruto real que acabam se traduzindo em capacidades desiguais entre os habitantes para projetar trajetórias laborais mais protegidas e estáveis.

Os dados demonstram bons resultados com programas de inclusão social nos países latino-americanos a partir da década de 80. O Brasil investe cerca de 17% do seu PIB em programas sociais e apresentou redução da pobreza até 2015, quando passou a experimentar certa estagnação e até recuo nos anos subsequentes em função da crise econômica.

O estudo indica que o grande desafio além dos esforços de redução da pobreza, é a inclusão produtiva, gerar emprego e renda de qualidade. “Diferentemente de uma transferência de renda, na qual o impacto é imediato quanto à capacidade de consumo do beneficiário, ações dessa natureza (qualificação profissional, melhoria educacional, assistência técnica, infraestrutura e flexibilização normativa para acesso a mercados) necessitam de tempo para demonstrar resultados”, revela o estudo.

De acordo com as conclusões deste estudo, no caso dos programas de inclusão produtiva, o desafio passa também pelo fato de ser um tema que ainda não se consolidou como um referencial agregador de projetos e ações na agenda governamental. Embora tenham crescido significativamente, nos últimos anos, em toda América Latina, “eles mantêm-se fragmentados, com operacionalidade difusa, financiamento instável e com dificuldade de se estabelecer informações agregadas que permitam avaliações e acompanhamentos mais sistemáticos de seus resultados”, conclui o estudo do Ipea.