Por Ulisses Ferreira Caldeira, Conselheiro Efetivo do Sindseg PR/MS e gerente da filial Curitiba da Sompo Seguros. 

Sem dúvidas o mundo moderno, especialmente na chamada era tecnológica, exige de todos nós um nível de conhecimento e aperfeiçoamento contínuo, que a humanidade nunca em outros tempos experimentou. Essa corrida pela superação permanente é também uma necessidade de sobrevivência em um cenário tão competitivo e complexo.

                Se por um lado esse panorama é um novo modo de vida, ou até mesmo uma escolha quase inevitável que fazemos, em contrapartida exige de todos nós uma boa dose de dedicação e muitas renúncias, para que consigamos ter condições de acompanhar todo esse movimento acelerado. Já os efeitos colaterais desse ritmo que nos impomos, algumas vezes cobram caro, tendo reflexos em nossa saúde, relacionamentos, entre outras coisas, mas principalmente em nossa saúde mental. Adicionemos agora a todos esses desafios, um novo e mortal componente, a Pandemia do Covid-19.

                A Pandemia nos trouxe um novo paradigma de como conviver e administrar todas essas situações, em que nosso trabalho, estudo, lazer e convivência familiar ficaram basicamente reduzidas a um mesmo local, a nossa casa. Apesar da preparação acadêmica e profissional que alcançamos, e continuamos buscando, muitos não estavam preparados para o home office nessas condições atípicas, até porque é algo inédito nos tempos modernos.

                Ainda que boa parte das pessoas estejam conseguindo se adaptar bem a nova realidade, seguramente muitos ainda estão enfrentando problemas, haja vista a quantidade de artigos científicos e matérias jornalísticas dando conta do aumento significativo do consumo de medicamentos para ansiedade e doenças relacionadas, o aumento do consumo do álcool, bem como ganho de peso e consequente piora da condição física do indivíduo, entre outras dificuldades de convívio prolongado que anteriormente não existiam. Outro ponto é que uma quantidade muito grande de pessoas, que sequer dispõe de espaço físico adequado em suas residências. Não é incomum a mesa de jantar se tornar também estação de trabalho para mais de uma pessoa da família.

                Felizmente muitas empresas já se movimentam no sentido de apoiar seus colaboradores com programas de melhoria das condições de trabalho, aconselhamento de carreiras e ajuda de profissionais especializados na área de saúde mental. Tais programas que buscam o bem-estar de seus colaboradores, auxiliando nesse período de dificuldades, fazendo com que eles se sintam mais incluídos, mais assistidos e satisfeitos com a empresa e consigo mesmo. Obviamente o retorno são colaboradores mais focados, comprometidos, saudáveis e felizes.  A propósito da busca de ajuda especializada com profissionais psicólogos, por exemplo, infelizmente ainda é tabu em nossa sociedade e essas ações visam também quebrar essas barreiras de preconceito para aproximar quem precisa dos tratamentos e orientações adequadas.

                O desafio é que além das grandes corporações, mais e mais empresas tenham esse engajamento e essa preocupação com a saúde emocional de seus colaboradores, assim como nós como indivíduos tenhamos consciência que podemos ser agentes de cuidado coletivo, exercitando a generosidade e solidariedade não somente com bens materiais, mas com o nosso tempo e cuidado com quem vier a precisar.  De toda a forma, cuidar de si mesmo, implica também em uma maneira de cuidar dos outros, pois se estivermos bem física e emocionalmente, conseguimos melhorar os ambientes que vivemos e trabalhamos.  

                Talvez por muito tempo cuidamos do desenvolvimento intelectual e profissional, e até físico, que é sem dúvida imprescindível, mas temos dado pouca ênfase e o devido cuidado a saúde emocional. Não podemos descuidar de forma nenhuma desse aspecto, pois não há harmonia, produtividade, muito menos de inovação em indivíduos ou grupos que não estejam bem.  Mesmo que alguns indicadores sinalizam para uma redução dos números de contágio e o desenvolvimento breve de uma vacina, muito possivelmente a forma de trabalho home office deve prevalecer em muitas empresas numa parcela significativa do quadro funcional.  Por isso a importância de dedicar mais espaço aos cuidados a saúde emocional, para que  o  trabalho home office quando desempenhado em dias que não tenhamos essas adversidades e limitações atuais, tende a entregar ao indivíduo o retorno esperado em ganho de qualidade de vida, produtividade  e tempo para cuidar mais de si.