Pesquisas revelam que boa parte dos clientes desse mercado acha o seguro um mal necessário. O setor quer fazer com que ele seja visto como um bem necessário.
Febraban – 13/11/2017FINTECHS E INSURTECHS APROXIMAM AS SEGURADORAS DOS CONSUMIDORES, UMA DEMANDA DAS EMPRESAS DO SEGMENTO; AVANÇO DA TECNOLOGIA IRÁ PERSONALIZAR CADA VEZ MAIS PRODUTOS E SERVIÇOS PARA O USUÁRIO
A internet das coisas (IoT), que promove a conexão à rede mundial de computadores de aparelhos usados na vida cotidiana, abriu um novo mundo a explorar para os executivos do setor de seguros, que já falam em “seguro das coisas” como um sonho do setor. “Coisas”, no caso, ligadas virtualmente, pela internet.“Ter o seguro para proteger todas as coisas conectadas à vida do internauta pode se tornar realidade”, garante Tonatiuh Barradas, vice-presidente de indústrias estratégicas da SAP América Latina e Caribe.Essa exploração vai exigir investimentos. Pesquisa recente realizada pela Strategy@ para o anuário do jornal Valor Econômico classificou as companhias do setor de seguros e operadoras de planos de saúde conforme seus investimentos em inovação e constatou que cerca de 50% dessas empresas investiam no máximo 2% da receita em tecnologia. A outra metade investia entre 2% e 4%. Os dados mostram evolução em relação à edição passada, que identificou apenas 11% com direcionamento entre 3% e 4% da própria receita para inovação.A demora em inovar é atribuída à falta de regulamentação do setor, a cargo da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Neste ano, a autarquia tem se mostrado sensível ao tema das insurtechs (termo que significa a tecnologia em seguros), e acompanha de perto os passos do Banco Central, que já começou a discutir normas para regular as fintechs. “Em janeiro deste ano, a Susep criou a comissão Especial de Seguros, no qual um dos assuntos em pauta inclui transações eletrônicas e a criação de produtos e serviços que atendam plenamente o desejo dos consumidores”, disse Joaquim Mendanha, titular da Susep.A notícia vem ao encontro da demanda das seguradoras. “As fintechs e insurtechs aproximam o mercado segurador dos consumidores, principalmente os mais jovens”, disse Alexandre Leal, diretor e representante da Confederação das Seguradoras (CNseg), ao falar do assunto no Ciab FEBRABAN deste ano. A tecnologia aproxima as empresas dos clientes, mas o consumidor não deve dispensar os corretores, acrescenta o presidente da CNSeg, Márcio Coriolano. “O consumidor sempre precisará da figura do corretor para traduzir o produto, no que diz respeito às suas necessidades e à sua capacidade de pagamento, além da ajuda na escolha entre as variedades que existem no mercado.”Hoje os corretores de seguros são responsáveis por 85% dos R$ 240 bilhões do faturamento das seguradoras. Com o avanço da tecnologia, o volume de produtos e serviços, bem como a abrangência das ofertas serão maiores. Com tantas opções, ter um especialista para separar o joio do trigo é primordial.“O corretor ganhou um aliado: a tecnologia”, afirma Armando Vergílio, presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros, de Capitalização, de Previdência Privada, das Empresas Corretoras de Seguros e de Resseguros (Fenacor), que lidera boa parte dos 100 mil profissionais de vendas do setor. Com esse apoio, deve avançar de forma acelerada a decisão de investir em tecnologias comoanalitycs e internet das coisas no setor.Capaz de aproximar o setor dos consumidores, a inteligência artificial (IA) é o primeiro dos 10 itens apontados entre os principais interesses de investimento das empresas de seguros em matéria de inovação, no Estudo Global de Tendências na Indústria de Seguros Capgemini, afirma Carlos Eduardo Mazon, Diretor de Operações da subsidiária brasileira. “O uso da IoT, uma das vertentes da IA, pelas seguradoras possibilita o uso de programas de manutenção preditiva, prestação de serviços agregados, prevenção de acidentes, recuperação de veículos roubados, compreensão de riscos de condução do veículo, entre outros”, explica ele. “Isso alimenta uma série de processos dentro da seguradora que se refletem em menores custos e melhores preços aos condutores que oferecem menos riscos.”Os consultores trouxeram ao Ciab FEBRABAN, neste ano, inovações já testadas em outras partes do mundo. No Brasil, boa parte das novidades diz respeito ao atendimento aos segurados nos diversos canais de comunicação. “São tantos aplicativos que nem consegui mensurar para citar neste meu discurso”, comentou Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN.Segundo Cristiano Barbieri, diretor de investimentos da SulAmérica, as empresas têm investido em pequenos projetos, para personalizar produtos e serviços à medida que a interação com os clientes traz aprendizado ao setor.A Liberty Seguros, por exemplo, foi a primeira a pôr em prática a telemetria a favor dos segurados, ao investir R$ 1 milhão no programa Direção em Conta, nos últimos três anos. A última versão do programa dispensa instalação de qualquer dispositivo no veículo e funciona com dados capturados por meio do smartphone do usuário. ”O desconto para o cliente pode chegar até 30%”, informa José Mello, superintendente de pesquisa e inovação.A inteligência artificial tem sido usada para identificar novos padrões de riscos, para calcular prêmios mais ajustados a cada cliente individual e na automação de processos _ a intenção é melhorar a qualidade da experiência dos usuários e eliminar ineficiências na interação por meio de robotização.Segundo Marcelo Blay, CEO da Minuto Seguro, startup que já recebeu aporte milionário de fundo Redpoint, seria possível ter uma grande redução de custo operacional, tanto do lado das seguradoras como das corretoras, se as seguradoras conseguissem integrar os sistemas de apoio à venda _ como vistoria prévia, transmissão e emissão _ e de pós-venda, como endosso, sinistro e resolução de pendências.“Essa economia poderia ser revertida para preço, transferindo o benefício para os consumidores, permitindo que mais clientes tenham recursos para comprar o produto, ampliando ainda mais o mercado e favorecendo ganhos de escala”, comenta Blay.