CQCS – Notícias | 16 de maio de 2024 | Fonte: O Globo

Ainda não se tem previsão da quantidade de veículos afetados, e nem dos estragos causados

As enchentes no Rio Grande do Sul deixaram centenas de veículos debaixo d’água. Alguns aparecem submersos em estacionamentos, nas ruas ou arrastados pela correnteza, e irão precisar de um destino. Nos municípios onde o nível dos rios baixou, os carros surgem de cabeça para baixo, pendurados em cercas de casas ou escorados nas paredes de casas. Algumas vítimas já procuraram suas seguradoras, que começaram a registrar alta nos acionamentos no estado gaúcho.

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) também fez orientações sobre as coberturas de seguros que a população atingida pode acionar junto às seguradoras. Como nem todas as apólices têm coberturas para inundações e alagamento, a Susep orienta que a vítima confira as cláusulas do contrato para acionar a seguradora e pedir indenização pelos danos.

A superintendência também informou que solicitou que as seguradoras prorroguem as coberturas dos contratos de seguros de todos os segmentos às vítimas e os prazos para pagamentos dos prêmios vencidos nesse período, sem prejuízo das coberturas contratadas.

De acordo com José Varanda, professor da Escola de Negócios e Seguros (ENS), enquanto nos seguros residenciais as coberturas para esses incidentes costumam ser contratadas à parte, a maioria dos seguros de veículos já tem as chamadas convulsões da natureza incluídas nos riscos cobertos.

Há dois tipos diferentes de coberturas:

  • Para inundações: cobre enchentes decorrentes de transbordamentos de rios navegáveis, como o Rio São Francisco ou, no caso gaúcho, o Guaíba;
  • Para alagamentos: cobre enchentes motivadas por chuvas intensas e, muitas vezes, também por transbordamentos de rios.

Varanda explica que as seguradoras consideram a causa e não o efeito na hora de decidir se o pagamento é devido. Ou seja, como o transbordamento do Guaíba (espécie de híbrido de rio e lago) foi provocado pelas chuvas incessantes, considera-se que a causa do evento foram as precipitações.

— Se uma chuva muito forte provocou alagamento e a queda de uma barreira em cima de uma casa, por exemplo, a causa foi a chuva forte. O efeito foi a queda da barreira e o derrubamento da casa — exemplifica o professor.

Quando a seguradora pode negar o pagamento?

Um limbo contratual pode, no entanto, livrar as seguradoras da responsabilidade de arcar com os prejuízos. Caso se entenda que a catástrofe climática foi provocada por alguma irresponsabilidade do Estado com a população local, as empresas podem se recusar a fazer os pagamentos aos clientes, orientando-os a procurar as autoridades.

Apesar disso, Varanda acredita que as seguradoras devam atender todos os sinistros e amparar os segurados.

Há ainda outra situação que pode isentar as companhias de seguro. Caso o contratante force a passagem em uma rua cheia de água e tenha seu carro danificado, a seguradora pode entender que houve “agravamento de risco”, segundo a FenSeg.

“Não haverá cobertura no caso de agravamento intencional do risco, como uma pessoa força a passagem do veículo numa região alagada, que não possibilitava transitar. Se isso ocorrer, ainda é possível que ocorra o cancelamento do contrato de seguro, conforme condições gerais da apólice de cada seguradora”, comunicou em nota.

O que será feito com o ‘mar de carros’?

Um dos desafios será o gerenciamento desses veículos destruídos e amontoados que as enchentes deixaram para trás.

O caminho para solucionar o problema pode ser traçado por meio da experiência em outras grandes catástrofes naturais. Primeiramente, os veículos devem ser removidos das áreas inundadas. Este processo exige uma logística complexa, uma coordenação com maquinário pesado e múltiplos órgãos governamentais e de emergência. Após a remoção, os veículos são levados para locais onde serão avaliados, onde deve ser realizada uma drenagem dos fluidos, para evitar a poluição do solo.

Os carros são inspecionados para determinar se podem ser recuperados ou se são considerados perda total. Os veículos irrecuperáveis, muitas vezes, são enviados para reciclagem. As peças úteis devem ser removidas, e os materiais recicláveis separados para minimizar o impacto ambiental. Componentes perigosos, como baterias e fluidos, devem ser descartados de forma segura.

Sem previsão

No Rio Grande do Sul, ainda não se tem previsão da quantidade de veículos afetados, e nem dos estragos dos automotores. A identificação dos proprietários dos carros deve ser uma prioridade quando as atividades começarem a ser retomadas nas cidades. A preocupação com o meio ambiente é central neste processo. A gestão adequada dos veículos não só limpa e protege as áreas afetadas, mas também previne problemas ambientais adicionais.