JRS – aviv – 19 horas atrás

A espanhola Mapfre lidera o ranking da primeira avaliação de critérios e práticas socioambientais do setor nacional de seguros. Prudential, Bradesco, Zurich e HDI Talanx, nessa ordem, completam a lista das cinco primeiras colocadas. Porém, nenhuma delas foi além da nota 15, em uma escala de 0 a 100.

O objetivo do Ranking de Atuação Socioambiental de Instituições Financeiras (RASA), desenvolvido pela Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), é mapear a atuação socioambiental e climática das instituições financeiras em vários segmentos para fortalecer a agenda socioambiental e climática. Ele já foi aplicado a bancos comerciais (nacionais ou não) e a instituições financeiras de desenvolvimento nacionais atuando no Brasil. Agora, a metodologia foi aplicada ao setor de seguros em seus dois maiores mercados (cobertura de pessoas e danos e responsabilidades).

Apesar de já possuírem regras mais abrangentes desde junho de 2022, quando a SUSEP publicou a Circular 666, exigindo que fatores ambientais, sociais e climáticos fossem considerados nos investimentos e na oferta dos produtos dessas companhias, as seguradoras tiveram notas muito baixas – inclusive porque a norma só começa a produzir efeito pleno em 2024. Das 13 principais seguradoras em atuação no Brasil, Mapfre (12,4), Prudential (9,35) e Bradesco (8,1) tiveram as melhores pontuações, porém em um patamar muito baixo, já que a nota máxima é 100.

Segundo Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da Associação SIS (Soluções Inclusivas Sustentáveis), o resultado das seguradoras decepcionou porque “o setor de seguros é muito relevante nessa agenda. As seguradoras são grandes investidores institucionais (podendo adquirir títulos públicos, mas também ações e títulos de dívida de empresas) e o setor também tem grandes oportunidades de novos negócios ligados à economia verde – inclusive, os Principles for Sustainable Insurance (PSI) foram criados durante a Rio + 20, em 2012, portanto, há mais de 10 anos, e já fizeram evento global no Rio em 2018, mas na prática não se vê grande evolução das seguradoras que atuam no Brasil nessa matéria, sendo que algumas daquelas que têm atuação global, no nosso país, apresentam desempenho inferior àquele que possuem em seu país de origem.”

No levantamento, que começou em maio e foi finalizado em agosto, foram consultadas fontes públicas de informações sobre os itens avaliados na Metodologia do RASA, como os sites das própria seguradoras, com suas políticas e relatórios, questionários CDP, formulários de referência CVM e também relatórios PRI (Principles for Responsible Investment) e PSI (Principles for Sustainable Insurance), quando existentes. As informações obtidas são analisadas usando a metodologia disponível no site www.rasa.org.br, já submetida a uma consulta pública em 2022 e recentemente adaptada ao modelo de negócios desse setor.

Um dos pontos que mais chamou a atenção durante a coleta de dados deste ciclo foi a falta de transparência na divulgação dessas informações por parte das seguradoras – ainda menor do que para os bancos comerciais. Muitas não divulgam, por exemplo, qualquer informação sobre a composição de seu portfólio de investimentos ou ao menos como ele é gerido quanto a aspectos ASG. A oferta de seguros que viabilizem atividades econômicas “verdes” ou com impactos sociais positivos também é ainda quase sempre insignificante.

Como prevê a metodologia, os dados foram enviados às seguradoras para que enviassem informações adicionais, se desejassem, o que poderia melhorar sua pontuação. Apesar das três semanas de prazo para resposta, apenas três delas se manifestaram, mas quase sempre enviaram informações irrelevantes para a metodologia, como atividades filantrópicas ou outras que não se referem à sua carteira de seguros ou à sua carteira de investimentos (impactos ambientais de suas próprias instalações físicas ou políticas de gestão do seu próprio pessoal, por exemplo).

Os resultados deste terceiro ciclo do RASA, apresentados no dia 31 de agosto, foram debatidos em evento online com a participação de Luciane Moessa, que coordena a iniciativa, e mais quatro convidados. São eles: Tatiana Assali, Coordenadora Executiva da iniciativa Investidores pelo Clima (IPC); Alexandre Mansur, fundador do Instituto O Mundo que Queremos/Radar Verde; Carine Lacerda, Coordenadora de Iniciativa Redirecionamento de Investimentos do portfólio de Economia de Baixo Carbono, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), e Letícia Lorentz, Coordenadora da Câmara Técnica de Clima do CEBDS.