Revista Apólice – Ultima atualização 08 de fevereiro

A partir da década de 1970, a urbanização no Brasil cresceu em ritmo acelerado, e 56% da população já chamava as grandes cidades de lar. Hoje, meio século depois, de acordo com dados do IBGE, cerca de 85% dos brasileiros vivem em áreas urbanas, e a ONU prevê que essa parcela ainda avançará até 90% nos próximos 30 anos.

As consequências da concentração populacional se refletem e sobrecarregam toda a infraestrutura subjacente, trazendo profundos desafios de planejamento urbano, dentre eles a malha de transporte de locomoção de bens e pessoas. Se nas décadas passadas o ritmo já era considerado acelerado, daqui para a frente deverá ser exponencial. Com a diferença de que sua sustentabilidade passou a ser primordial nessa complexa equação, além de custo e custeio, abrangência, qualidade, segurança e frequência no jeito de se mover pelo mundo.

Carros elétricos e híbridos têm apresentado forte crescimento no Brasil, sendo os híbridos ainda maioria. O Brasil emplacou 93.927 veículos leves eletrificados em 2023, batendo todas as previsões, com crescimento de 91% sobre 2022 (49.245). Só em dezembro, as vendas chegaram a 16.279, quase o triplo das 5.587 de dezembro de 2022 (191% a mais), superando todos os recordes mensais da série histórica da Associação Brasileira de Veículos Elétricos. Cerca de 75% das pessoas entre os 26 e 40 anos tendem a optar por um veículo elétrico ou híbrido em sua próxima aquisição. Em que pese esse ser um número relevante, é importante ressaltar que os interessados podem não ter avaliado aspectos de custo ou desvalorização para ponderar sua resposta. Carros elétricos experimentaram em média depreciação de 37% em 2023, comparado a algo entre 15% e 20% dos convencionais.

As vendas devem seguir aumentando, com os chineses da BYD e os americanos da Tesla brigando pela liderança. Um caminho sem retorno, em função dos aspectos ambientais, ainda que com desafios de matérias-primas oriundas de regiões com instabilidade geopolítica e da necessidade de evolução tecnológica de baterias e componentes.

O cenário aponta uma mudança não apenas na indústria da mobilidade, mas também na consciência e no comportamento dos compradores. Circular pelo mundo é assunto sério, em constante evolução, que não apenas desenha um novo horizonte para a indústria, mas também demanda uma atenção perspicaz tanto das empresas quanto do mercado e dos consumidores.

Ao mesmo tempo, desafios básicos de mobilidade se tornam mais visíveis com o crescimento contínuo dos grandes centros, tais como sobrecarga dos transportes públicos, maiores tempos de deslocamento e insegurança viária diante dos altos índices de acidentes de trânsito. Somente nos primeiros oito meses de 2023, a cidade de São Paulo apresentou recorde histórico, com mais de 32 mil ocorrências.

O conceito de proteção ainda tem bastante espaço para evoluir. Apenas cerca de 30% da frota de veículos do país é segurada. Isso é um risco para o condutor, mas principalmente para a sociedade, caso este venha a causar danos pessoais ou materiais a outros veículos ou pedestres. Tecnologia e sustentabilidade devem andar juntas com segurança e proteção. A fusão de autonomia, eficiência energética e inteligência artificial já influencia nosso dia a dia, delineando o caminho para uma era automotiva transformadora, com o objetivo de proporcionar uma experiência de locomoção melhor e mais segura.

Em meio à metamorfose da mobilidade urbana, o equilíbrio entre planejamento, sustentabilidade, tecnologia e segurança será necessário para garantir a fluidez das cidades e a qualidade de vida de seus cidadãos.

* Por Ney Ferraz Dias, diretor-presidente da Bradesco Auto/RE