27/10/2017 / Fonte: Equipe DPVAT | Rodolfo Rizzotto
 
Nos últimos anos, diversas investigações da Justiça revelaram apenas a ponta do iceberg da corrupção. Muitas vezes, avaliamos que o comportamento do povo de um país no trânsito revela que tipo de sociedade impera e como são os políticos daquela nação. Quanto mais respeito no trânsito, menos corrupção.
 
Em qualquer grande cidade brasileira, assistimos diariamente representantes da elite levando os seus filhos para a escola. A maioria dessas escolas são particulares. Muitos deles param em locais onde não é permitido e outros, em fila dupla, como se tivessem mais direitos do que os outros. Essa postura, muitas vezes, passa dos pais para seus filhos, porque eles são os exemplos que conhecem e tem muita semelhança com o comportamento de muitos políticos e agentes públicos no Brasil.
 
Nas estradas, muitos motoristas ainda respeitam as normas, mas outros trafegam pelo acostamento, ultrapassam em local proibido, conduzem em excesso de velocidade e depois exibem todas essas infrações com orgulho em redes sociais como o Facebook, por exemplo. Talvez seja por pura exibição, mas com certeza, também pela convicção da impunidade, algo que é bastante frequente no setor público, seja no Executivo como no Legislativo.
 
Nas cidades, o processo é similar. Pessoas atravessam fora da faixa de pedestres e não esperam o sinal abrir para realizar a travessia. A justificativa? A pressa, ou seja, a minha necessidade de chegar logo do outro lado é mais importante do que respeitar as leis. Quando falo isso, lembro do meu velho pai que, já bem idoso, quando atravessava a rua na faixa e com sinal fechado para o trânsito me alertava sobre os motoristas, brincando: “Rápido, eles já nos viram!”. Era um jeito bem-humorado de lembrar que o homem atrás do volante, com o poder nas mãos, costuma esquecer rapidamente que, no trânsito, assim como na vida, somos todos pedestres.
 
Outro exemplo são os motociclistas, que exigem respeito dos demais motoristas, mas trafegam em alta velocidade no corredor e ficam extremamente irritados quando alguém não os vê. Muitos deles não pagam o Seguro DPVAT, apesar dos acidentes que os envolvem consumirem mais de 70% das indenizações. Queremos direitos, mas não aceitamos deveres. Esse é o lema.
 
Quando somos multados, normalmente vociferamos contra a chamada “indústria da multa”, criticamos o abuso das autoridades e sempre procuramos um jeito de justificar nossa infração. Os políticos também fazem isso: quando flagrados pela Justiça, negam tudo e ainda acusam quem os pune. Por isso, temos tantos parlamentares infratores dispostos a aprovar leis para não punir os que cometem crimes no trânsito, assim como pessoas dispostas a corromper um guarda para não ser multado.
 
Uma sociedade que atravessa na faixa, não ultrapassa em local proibido, não trafega pelo acostamento e não suborna agentes de trânsito, com certeza, vive num país com menos corrupção e desigualdades. Nosso comportamento no trânsito revela o tipo de país que queremos. Então, qual o Brasil que queremos?