Folha de São Paulo – 22.jul.2024 às 22h03 – Michael Viriato
Exceto pelos seguros de carro e saúde, na maioria das vezes, os seguros são vistos como uma despesa desnecessária, com sua importância frequentemente desprezada. Por desconhecermos sua relevância, acabamos contratando seguros para situações em que o medo da perda parece mais palpável, como o seguro de automóvel. Essa percepção reflete uma falha comum entre os brasileiros.
Antes de entender quais seguros são necessários, vamos compreender para que servem. Um seguro nada mais é do que o ato de transferir a terceiros um determinado risco. O valor protegido ou o valor do risco transferido é conhecido como capital, e o montante pago por essa proteção, ou o que se paga para que o terceiro assuma o risco, é chamado de prêmio.
Para entender o que devemos proteger, imagine um gráfico dividido em quatro quadrantes. No eixo horizontal, medimos a probabilidade, e no eixo vertical, o impacto do risco. Cada risco deve ser classificado nesses quadrantes de acordo com o impacto no seu patrimônio e a probabilidade de ocorrência.
Na figura, quanto maior o número de “+”, mais o indivíduo deve avaliar a realização de um seguro.
Cada indivíduo pode apresentar resultados diferentes. Por exemplo, considere uma pessoa com um elevado patrimônio de R$ 10 milhões, que ganha um salário de R$ 30 mil e cuja família tem um custo mensal de apenas R$ 20 mil. Sua morte, mesmo que tenha alta probabilidade, terá baixo impacto na renda da família. Embora a renda de R$ 30 mil não esteja mais disponível, os rendimentos do patrimônio são suficientes para cobrir as despesas mensais.
Para essa pessoa, o risco de deixar sua família desamparada não é relevante devido ao seu patrimônio. No entanto, se sua morte for iminente e esse patrimônio estiver “enrolado”, ter um seguro para sucessão pode ser importante, pois o impacto na família pode ser pior que a perda da renda do salário.
Vamos considerar outro exemplo. Suponha o mesmo indivíduo com elevado patrimônio, que dirige com muito cuidado, só estaciona em locais fechados e protegidos, e cujo automóvel custa menos de R$ 100 mil. A probabilidade de ocorrer um sinistro não é elevada, ou pelo menos é menor que a média que precifica o seguro, e o impacto no seu portfólio pela perda do carro seria menor que o rendimento de um mês de sua carteira. Portanto, a perda do carro tem um baixo impacto.
Para todos os riscos que possuem baixa probabilidade e baixo impacto, é necessário avaliar seriamente a necessidade de contratar qualquer seguro. Mesmo que a probabilidade seja elevada, se o impacto é baixo, fazer o seguro deve ser questionado e realizado apenas se o preço de transferir o risco for muito vantajoso.
Por outro lado, se o impacto é elevado, é importante estudar com cuidado a contratação do seguro. Exemplos de riscos cujo impacto costuma ser relevante incluem: garantir a educação dos filhos, saúde, tranquilidade da família por um período após a morte, doenças graves, sucessão, invalidez e acidentes pessoais.
Perceba que os seguros mais importantes e de maior impacto na sua vida e na de seus beneficiários não são aqueles que envolvem bens materiais.
Em geral, pela ausência de um bom planejamento financeiro, tendemos a não entender a relevância e o impacto dos riscos acima. Assim, temos mais receio de perder bens materiais que são mais fáceis de se entender o impacto.
Portanto, da próxima vez que pensar em contratar um seguro de um bem material, avalie antes se não está desprezando um seguro mais relevante, que poderia ter consequências mais graves no seu patrimônio.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.