Revista Cobertura – Por 86 visualizações 25/10/2022 as 13:47
Por Adilson Cavati, da Sensedia
Nunca tivemos tanta preocupação com a nossa saúde como agora. E, em nenhum outro momento, o sistema de saúde foi tão exigido como nos últimos anos. A pandemia da Covid-19 colocou o setor no centro das atenções e foi importante para reconhecer a importância do SUS, que desempenhou um papel fundamental, apesar do enorme desafio, no atendimento à população brasileira em uma das fases mais críticas que já enfrentamos.
Mas, uma coisa é certa: tudo isso foi importante para trazer à tona a necessidade de priorizar a experiência do paciente e temas como interoperabilidade se tornaram prioridade nas agendas dos gestores. O desafio é imenso, haja visto que cada elo do sistema de saúde, como operadoras de assistência médica, hospitais, consultórios e laboratórios atuam praticamente de forma independente, quando, diferente disso, poderiam compor um ecossistema que teria como diferencial o intercâmbio de informações, do qual todos os envolvidos terão acesso e benefícios. Esse desejo ganha vida com o Open Health.
O novo conceito funcionaria sob a mesma lógica do Open Banking e Open Insurance e visa abrir e compartilhar os dados de pacientes, com o devido consentimento, com as instituições de saúde para que essas possam criar produtos e serviços mais adequados para os clientes. Nos bastidores desse movimento “open”, as APIs são a tecnologia protagonista dessa revolução que promete aumentar a competitividade entre as empresas do setor e trazer benefícios para os usuários.
Transformar o setor da saúde por meio de APIs
O mundo open vem ganhando cada vez mais espaço à medida que os líderes de todos os mercados perceberam a importância de criar uma rede para fomentar novas oportunidades de negócios e melhores resultados. Na área da saúde não poderia ser diferente.
Por isso, o papel das APIs é destravar dados de forma segura e confiável, atendendo desde a interoperabilidade até o Open Health, para que organizações de saúde tenham condições de desenvolver estratégias digitais mais assertivas por meio da interoperabilidade de dados. Essa capacidade de destravar e integrar dados será o grande diferencial competitivo em um dos mercados onde a competição é acirrada. De acordo com estudo do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade), o número de operadoras de saúde vem caindo nos últimos anos: queda de 47% entre 2011 e 2020, quando Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) encerrou o ano registrando 711 empresas. Soma-se a esta realidade, o setor possui quase 50 milhões de beneficiários de planos de saúde no país. Esse é mais um cenário onde essa capacidade de integração é mandatória.
Espera-se que a integração prometida pelo Open Health não só estimule a competição entre as companhias, que deverão acelerar suas estratégias digitais para melhorar a experiência dos clientes, mas também traga, finalmente, uma coordenação “casada” entre SUS e rede privada.
Banco de dados clínicos unificados
Imagine um repositório de documentos, onde são armazenados e centralizados as informações dos pacientes, que podem ser acessadas a qualquer momento pelas equipes médicas para tratamentos recorrentes ou futuros. Se você pensou no The Spine, o banco de dados do Reino Unido, sob o gerenciamento do National Health Service (NHS) uma das maiores plataformas de dados em saúde no mundo, você não errou. Mas eu estou me referindo ao RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde), parte integrante do Plano de Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028.
Devido à pandemia da COVID-19, algumas mudanças foram realizadas no escopo do projeto piloto da RNDS, que passou então a ter o objetivo de auxiliar no controle da situação de emergência da saúde pública, através das seguintes atribuições: compilação dos dados de vacinas e exames da Covid-19, e posterior compartilhamento dessas informações por meio do aplicativo Conect SUS. Porém, o governo brasileiro espera que até 2028 a RNDS seja estabelecida e reconhecida enquanto uma plataforma digital de inovação, informação e serviços de saúde para todo o Brasil, em benefício de usuários, cidadãos, pacientes, comunidades, gestores, profissionais e organizações de saúde. A Rede Nacional de Dados em Saúde habilitará o desenvolvimento do prontuário eletrônico do paciente (PEP), um dos principais requisitos para a validação do Open Health. As APIs públicas disponibilizadas pelo governo federal entraram em cena para habilitar o compartilhamento dos dados dos usuários com a cadeia da saúde.
Ainda que a rede RNDS seja um exemplo específico de banco de dados unificado, podemos imaginar a expansão desse escopo para a rede privada em um cenário mais abrangente, no qual as informações sobre os mais diversos exames e doenças poderão circular de forma padronizada e ágil, promovendo um ecossistema de saúde onde as instituições públicas e privadas possam trabalhar de forma sincronizada.
Ao meu ver, seria uma ferramenta poderosa para melhorar a tomada de decisão de gestores e desenvolver planos de ação eficientes para preservar o bem-estar da população, além de promover políticas públicas de saúde mais eficazes, melhorando até o programa de farmácia popular.
Como observamos, o Open Health representa uma mudança de chave para o sistema de saúde ao proporcionar maior competitividade para as empresas e benefícios claros para a população. Integração é uma jornada e não um projeto, ou seja, começar a fazer algo agora ajudará todos os envolvidos nesse processo a viabilizar um cenário futuro de Open Health quando ele acontecer
* Adilson Cavati é diretor de vendas da Sensedia